Transe Mediúnico
Conceito
A dinâmica mediúnica revela um estado alterado de consciência, portanto, um autêntico estado de transe.
Analisando etimologicamente, a palavra transe deriva de transitus, que indica o sentido de passagem; passar de um estado de consciência à outro.
Histórico
O transe ocorreu desde os Xamãs mais primitivos, passando pelos Hinduístas antigos com estados de transe da ioga, pelos templos de sono dos sacerdotes egípcios e a força mágica do olhar do sacerdote Caldeu. Os chineses praticavam o culto aos antepassados, e para entrarem em comunicação com os parentes desconhecidos, submetiam-se a um ritual acompanhado de músicas e danças giratórias que conduziam a um frenesi coletivo de convulsões, saltos e corridas desenfreadas, até que conseguissem cair no transe como meio de participação com o mundo dos mortos.
Nos santuários de adivinhação da Grécia antiga, adolescentes do sexo feminino, as pitonisas, eram escolhidas para serem possuídas por Apolo. Os momentos de transe representavam a descida de deus. É de se supor portanto, que este tipo de alteração da consciência, venha sendo provocado pelo ser humano desde os primórdios de sua história.
Na atualidade, o transe faz parte da prática religiosa de milhões de pessoas. Para o Espiritismo, é condição necessária para possibilitar a comunicação com os Espíritos dos mortos; o médium em transe, emprestaria seu corpo para que um Espírito o usasse como veículo de manifestação aos vivos. De maneira semelhante, os cultos afro-americanos (vudú, macumba, umbanda, candomblé, etc.) vêem nele o caminho mais fácil para atrair as divindades e outras entidades sobrenaturais (orixás, exús, pretos-velhos, etc.) até os terreiros de celebração. Nestes casos, o médium serve de "cavalo" à entidade incorporada.
Podemos concluir e resumir as maneiras de alcançar o transe das seguintes formas:
1. Danças rítmicas e saltos, como método mais empregado.
2. Cantos prolongados do curandeiro, do feiticeiro; o infindável entoar de salmos dos monges cristãos e budistas...
3. Drogas naturais como ópio, maconha, coca, beladona, mescalina, etc..
4. Produtos químicos como o ácido lisérgico, pentotal, escopolamina cloratosa, etc..
Sonambulismo
É uma faculdade que propicia a emancipação da alma durante o sono de uma forma mais acentuada. Estando o Espírito inteiramente liberto dos liames corporais, readquire a sua noção e capacidade espiritual. Allan Kardec deixa claro no Livro dos Médiuns, capítulo XIV e na Revista Espírita de 1859: "O sonambulismo pode ser considerado como uma variedade da faculdade mediúnica, ou melhor, trata-se de duas ordens de fenômenos que se encontram, freqüentemente reunidos. O sonâmbulo age por influência de seu próprio Espírito. É a sua alma que, nos momentos de emancipação, vê, ouve e percebe além dos limites dos sentidos. O que ele diz procede dele mesmo. Em geral suas idéias são mais justas do que no estado normal; seus conhecimentos são mais amplos, porque sua alma está livre. (...) O médium, pelo contrário serve de instrumento a outra inteligência. (...) O sonâmbulo exprime o seu próprio pensamento, e o médium exprime o pensamento do outro. Mas o Espírito que se comunica através de um médium comum pode também fazê-lo por um sonâmbulo. (...) No estado sonambúlico fica fácil essa comunicação".
Allan Kardec ainda relata que o sonâmbulo pode comunicar-se com Espíritos de encarnados. Trata-se de uma dupla faculdade, que é um dos atributos da alma e tem por órgão o perispírito cuja radiação transporta a percepção além dos limites da ação e dos sentidos materiais. É o sexto sentido ou sentido espiritual, na qual o sonambulismo e a mediunidade são as suas variedades, que como se sabe, apresentam inúmeras nuanças e constituem aptidões especiais.
O sonambulismo, pode ser natural, quando ocorre independente da vontade do indivíduo, portanto de forma espontânea; pode ser magnético, quando provocado através da magnetização, ou seja, pelo passe. Entre um e outro não há diferenças. O sonâmbulo vê à distância como se estivesse presente no ambiente que descreve, pois sua alma para lá se transporta, enquanto o corpo permanece em repouso, aguardando o momento em que ele virá reanimá-lo. A alma em suas peregrinações, se acha sempre revestida do seu perispírito, agente que reflete as sensações percebidas pelo Espírito, porque ele permanece ligado pelos laços fluídicos.
Importante se faz notar que, enquanto o médium permanece em estado sonambúlico, ele vai narrando os fatos visualizados, porém, "... passada a crise, toda lembrança se apaga e ele entra na obscuridade" (o Livro dos Espíritos, q: 431).
Tanto quanto a mediunidade ou qualquer outra faculdade de desprendimento da alma, o sonambulismo não atesta a elevação do Espírito.
Êxtase
O êxtase é a emancipação da alma no grau máximo. No sonho e no sonambulismo, a alma erra pelos mundos terrestres; no êxtase, penetra num mundo desconhecido, no mundo dos Espíritos etéreos, com os quais entra em comunicação, sem, todavia, poder ultrapassar certos limites, que ela não poderia transpor sem quebrar totalmente os laços que a prendem ao corpo. Cercam-na um brilho resplandecente e desusado fulgor, elevam-na harmonias que na Terra se desconhecem, invade-a indefinível bem-estar; dado lhe é gozar antecipadamente da beatitude celeste e bem se pode dizer que põe um pé no limiar da eternidade. No êxtase, é quase completo o aniquilamento do corpo; já não resta, por assim dizer, senão a vida orgânica e percebe-se que a alma lhe está presa apenas por um fio, que mais um pequeno esforço faria partir-se.
Como em nenhum dos outros graus de emancipação da alma, o êxtase não é isento de erros, pelo que as revelações dos extáticos longe estão de exprimir sempre a verdade absoluta. A razão disso reside na imperfeição do espírito humano; somente quando ele houver chegado ao cume da escala poderá julgar das coisas lucidamente; antes não lhe é dado ver tudo, nem tudo compreender (...).
Há por vezes, nos extáticos, mais exaltação que verdadeira lucidez, ou melhor, a exaltação lhes prejudica a lucidez, razão porque suas revelações são, com freqüência, uma mistura de verdades e erros, de coisas sublimes e outras ridículas.
Transe Mediúnico
O transe pode ser definido como o estado alterado da consciência, onde à dissociação psíquica, que pode ser superficial (consciente), hipnogógico (semiconsciente) e profundo (inconsciente).
O medianeiro, em estado de concentração, permite passividade, condições para poder entrar em contato com Espíritos que desejam comunicar-se durante sessões mediúnicas.
O transe é anômalo porque ele é ocasional. Neste caso, não podemos, por exemplo, chamar o estado de sono, porque é uma situação normal.
A mediunidade é um tipo de transe, em qualquer de suas variedades, por isso devemos compreender os outros tipos de transe para definir o que é realmente mediunidade. O transe mediúnico, por ser condição fisiológica e absolutamente hígida, ou seja, saudável, necessita de avaliações e apreciações cuidadosas, a fim de não ser confundido com outros setores, principalmente o patológico.
Os tipos básicos de transe são:
1. Patológicos: delírio febril, coma, trauma craniano, psicose, depressão, esquizofrenia, epilepsia, etc.;
2. Farmacógenos: provocados por drogas, medicamentos, como tranqüilizantes, calmantes, anfetaminas, ecstasy, cocaína, heroína, crack, álcool, fumo, etc.;
3. Anímico: quando o indivíduo é capaz de emancipar-se por si mesmo, por sua vontade, ou não, naturalmente ou sob estímulo;
4. Transe provocado: a) hipnose auto e hetero; b) mediúnico, provocado por Espíritos bons ou maus; c) farmacógeno (já citado).
Esses são os tipos básicos, que podemos ainda classificá-los como: endógenos os provocados por distúrbios patológicos neuro-anímicos, por liberação ou inibição de neurotransmissores; exógenos, transes provocados mediante estímulos externos.
Léon Denis define o estado de transe como "grau de sono magnético que permite ao corpo fluídico exteriorizar-se, desprender-se do corpo carnal, e à alma tornar a viver por um instante sua vida livre e independente. A separação, todavia, nunca é completa; a separação absoluta seria a morte. Um laço invisível continua a prender a alma ao seu invólucro terrestre semelhante ao fio telefônico que assegura a transmissão entre dois pontos; esse laço fluídico permite à alma desprendida transmitir suas impressões pelos órgãos do corpo adormecido. No transe, o médium fala, move-se, escreve automaticamente; desses atos, porém, nenhuma lembrança conserva ao despertar".
Acrescentamos, porém, que dependendo da condição de consciência e educação do médium, ele pode não só lembrar dos seus atos como auxiliar o Espírito comunicante.
O estado de transe pode ser provocado, quer pela ação de um magnetizador, quer pela de um Espírito. Sob o influxo magnético, os laços que unem os dois corpos se afrouxam. A alma, com seu corpo sutil, vai se emancipando pouco a pouco; recobra o uso de seus poderes ocultos, comprimidos pela matéria. (...) As radiações da psique aumentam e se dilatam; um estado diferente de consciência, faculdades novas se revelam. Um mundo de recordações e conhecimentos sepultados nas profundezas do "eu", se patenteia. (...) Entram ao mesmo tempo em ação os sentidos psíquicos. A visão e audiência, a distância, se produzem tanto mais claras e fieis quanto mais completa é a exteriorização da alma.
Segundo Dr. Jorge Andréa dos Santos, a dinâmica mediúnica, por se desenvolver em vários setores do psiquismo humano é fenômeno de extrema complexidade onde muitas nuanças nos escapam.
Na apreciação processual do transe, teríamos que observá-lo em vários de seus aspectos, distinguindo diversas posições. Assim o transe, quanto à sua fase, poderia ser superficial ou profundo; quanto à duração fugaz ou prolongado; e quanto à extensão parcial ou total. Além do mais, consideremos também duas formas de transe, o provocado e o espontâneo.
O transe mediúnico não poderá jamais ser explicado sem a participação direta das camadas energéticas do Espírito, ou seja, do perispírito, a refletirem sua complexa energética na zona consciencial, ponto de manifestação das nossas percepções tida como únicas de real valia.
O início do transe mediúnico estaria na concentração (estado de passividade física) nunca na neutralidade. Esse estado de passividade seria o afastamento do tumulto emocional, muito comum na zona consciente ou física no preparo de um campo psíquico harmônico.
Quando a entidade espiritual procura comunicar-se com a organização psíquica do médium, ambos em sintonia buscam entrosamento. Inicia-se uma inibição cortical provocada pela projeção mental do Espírito comunicante. Essa inibição dá origem a uma espécie de relaxamento neuro-muscular e mental, diminuição das funções orgânicas, e afrouxamento dos botões sinápticos que ligam os PSICONS (neurônios perispirituais) às células nervosas físicas. Segue-se uma diminuição dos mediadores químicos (mentamina e serotonina), e conseqüente redução do tono cortical. De um lado o Espírito (vontade-apelo), do outro, o médium (vontade-resposta), a fim de que o mecanismo amplie-se por intermédios de vórtices menores nos diversos departamentos do psiquismo e coordenados pelo Espírito observando a cadeia: idéia-ação-seleção-autocrítica-expressão, alicerçado na vontade de aceitação por parte do médium.
Inicialmente os campos de entrosamento se fazem através das respectivas zonas perispirituais – irradiações perispirituais do Espírito e recepção perispiritual do médium – que, assim enredados, dirigem-se aos campos físicos do receptor para as devidas elaborações psicológicas. Dessa forma, haverá necessidade de transformações nos respectivos campos do psiquismo. As energias vindas da dimensão hiperfísica (campos perispirituais) sofrerão transformações no psiquismo do médium a fim de que o processo intelectivo se instale fornecendo a informação-mensagem.
Ante as informações espirituais, principalmente de André Luiz, e os estudos realizados em França pelo Dr. Thiebault, a glândula pineal está sendo novamente reconhecida como elemento valoroso nos processos nobres do psiquismo. Não seria apenas uma glândula passageira a controlar o sexo nos primeiros anos de vida, com posterior apagamento funcional, mas uma unidade endócrina de grande valor a responder por autêntico campo de filtragem, onde os dígitos de características perispirituais (dimensão hiperfísica) fossem transformados e adaptados para as recepções neuroniais da base cerebral (tálamo e hipotálamo). Daí as impulsões seriam direcionadas para a região cortical onde a intelecção se processará, proporcionando condições para o nosso entendimento intelectual.
A impulsão perispiritual do Espírito, captada pelo perispírito do médium, em acoplagem de mútua aceitação, passaria aos campos físicos da intelecção, após processo de seleção e auto-crítica realizado nos campos perispirituais do médium ou zona inconsciente. Este processo seletivo e auto-crítico estaria relacionado ao grau de moralização do médium, cuja elaboração se faria, compreensivelmente, sem a análise ou conhecimento da zona consciente. É como se fora um mecanismo de automatismo consciente.
O médium moralizado e ajustado jamais deixará passar a mensagem em termos grosseiros e agressivos. As retificações serão elaboradas sem modificações da essência das mensagens, porém demonstrando o "colorido" do médium. Não haverá inserções anímicas do próprio médium, mas uma filtragem de ajuste a demonstrar as características individuais que o receptor possui. As mais perfeitas e ajustadas mensagens, sempre mostram o "selo" da máquina onde foram operadas. Com isso, jamais queremos dizer que o fenômeno autêntico seja combinado com fatores anímicos do médium, embora existindo mensagens que demonstram tais condições. Isso vem mostrar a importância do estudo da Doutrina Espírita, por ter sido quem melhor elaborou as condições de exercício da mediunidade, como um dos adequados caminhos de evolução psicológica. Exercício de mediunidade será o constante impulso de aperfeiçoamento a buscar todas as angulações no bem.
Nessa síntese, tentativa de descrição do fenômeno mediúnico, conhecido, comumente, como sendo mediunidade de incorporação (termo inadequado), são imensas e incontáveis as variações que, por sua vez, estariam atadas ao biótipo psicológico de cada ser. Conforme as zonas dos centros corticais (no cérebro) que fossem mais solicitados, teríamos as variações mediúnicas refletidas nas conhecidas psicografias, psicofonias (zonas da linguagem) vidência (centro visuais) e tantas outras modalidades onde as ativações de locais específicos se mostrem mais contundentes.
A dinâmica mediúnica avança em constante desenvolvimento, onde o processo de incorporação em suas variedades – consciente, semiconsciente e inconsciente – estarão na dependência da solicitação e dominância do comunicante (entidade espiritual). Desse modo, o processo mediúnico vai sendo como que, pouco a pouco, substituído, sem apagamento definitivo, por mecanismo em que o próprio médium tem uma atuação mais dominante e efetiva.
Baseado nestas informações, e respeitando a lei da física na qual dois corpos não ocupam o mesmo espaço ao mesmo tempo, não há a mínima possibilidade de incorporação por intermédio de Espíritos. Neste tipo de mediunidade, a irradiação da entidade espiritual que se comunica é bem mais ativa do que a posição do médium, que se torna mais passiva. Esta condição pode ser denominada de mediunidade receptiva – o médium com sua passividade recebe o que lhe é imposto pelo comunicante.
No segundo caso, onde o médium exerceria, pela sua vontade, uma espécie de procura sobre as condições dos seus porquês, ele impõe, mesmo de modo inconsciente, forte carga efetivo-emocional, o que propiciaria alargamento e ampliação de suas antenas mediúnicas (campo de irradiação perispiritual). Com isso, passaria a trafegar nas correntes superiores de pensamento, buscando idéias mais precisas na definição das suas inquirições. Neste caso, teríamos a outra variedade mediúnica que poderíamos chamar de mediunidade captativa. A região cerebral mais adequada a tal cometimento seria a dos lobos frontais, onde centros nervosos específicos devem existir em virtudes de suas apuradas funções, ao lado da ajuda e ativação do hemisfério cerebral direito; enquanto que, no outro tipo mediúnico (processo receptivo), as zonas do centro cerebral seriam as mais solicitadas. No mecanismo receptivo prepondera o processo analítico, no mecanismo captativo o processo sintético; no receptivo portanto, o intelecto, no captativo a intuição. Hoje temos como assertiva que o lado esquerdo do cérebro, onde existem os centros de linguagem, é região da programação racional, dos fatos analíticos que compõem o nosso dia-a-dia da pesquisa intelectiva. O lado direito do cérebro estaria ligado aos processos criativos, imaginativos, aos dons artísticos e todos os componentes da intuição.
Bibliografia
1. Obras Póstumas – Allan Kardec.
2. O Livro dos Espíritos – Allan Kardec.
3. Saúde e Espiritismo – AME do Brasil.
4. Doutrina Espírita no Tempo e no Espaço (800 verbetes especializados) – A. Merci Spada Borges.
5. Palestra Virtual (IRC Espiritismo) – L. Palhano Junior.
6. Revista Presença Espírita – Janeiro e Fevereiro de 1994.
7. Estudos Doutrinários do CEJB: Transe – Marta Monteiro Martins.