sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Neurofisiologia da Mediunidade

O desenvolvimento da neuropsicologia apoiada por recursos propedêuticos sofisticados como a tomografia computadorizada, a ressonância magnética e a tomografia por emissão de pósitrons, tem permitido uma compreensão cada vez maior dos mecanismos envolvidos na fisiologia do cérebro.

Com base nestes achados tem surgido novas interpretações para os quadros mentais das demências, das psicoses e até dos distúrbios de comportamento.

Atualmente admite-se que a atividade mental é resultante em termos neurológicos, de um “concerto” de um grupo de áreas cerebrais que interagem mutuamente constituindo um sistema funcional complexo.

Com o conhecimento espírita aprendemos porém, que os processos mentais, são expressões da atividade espiritual com repercussão na estrutura física cerebral. A participação do cérebro é meramente instrumental.

Sabemos também que a ação do  espírito sobre o cérebro, ao integrar elementos de classes diferentes (mente e matéria), implica na existência de um terceiro elemento, transdutor desse processo, que transmite e transfere as “idéias formas” geradas pelo  espírito em fluxo de pensamento expresso pelo cérebro.

Este elemento intermediário que imprime ao corpo físico as diretrizes definidas pelo  espírito, constitui nosso corpo  espiritual ou  perispírito.

Após a morte o  espírito permanece com seu corpo  espiritual, o qual permite sua integração no ambiente  espiritual onde vive. É por este corpo semimaterial, de que dispõe também os espíritos  desencarnados que tornam-se possíveis as chamadas comunicações mediúnicas.

Para Allan Kardec, no Livro dos Médiuns, em diversas citações, os espíritos o esclareceram mais de uma vez que, todos os fenômenos mediúnicos de efeito inteligente se processam através do cérebro do médium.

No estágio atual do conhecimento que nos fornece a neurologia, seria oportuno indagarmos se é possível uma maior compreensão do fenômeno mediúnico e se identificar no cérebro as áreas e as funções que estariam envolvidas nestes processos.

Os  espíritos  desencarnados devem de alguma maneira coparticipar com as funções cerebrais dos médiuns seguindo regras compatíveis com os recursos da fisiologia cerebral.

Podemos correlacionar, pelo menos hipoteticamente, quais as funções cerebrais já conhecidas que podem se prestar para a exteriorização. da comunicação mediúnica.

Analisando algumas áreas cerebrais podemos teorizar sobre as possíveis participações de cada uma delas, na expressão da mediunidade.

Córtex Cerebral

No córtex cerebral se origina a atividade motora, voluntária e consciente. Nele são decodificadas todas as percepções sensitivas que chegam ao cérebro e são organizadas todas as funções cognitivas complexas.

A atividade cerebral para se expressar conscientemente, estabelece uma interação entre o córtex cerebral, o tálamo e a substância reticular do tronco cerebral e do diencéfalo onde se situa o centro da nossa consciência. Uma lesão nesta área provoca o estado de coma.

A partir da substância reticular, se projetam estímulos neuronais que ativam ou inibem a atividade cerebral cortical como um todo, levando a um maior ou menor estado de atenção, alerta ou sonolência.

Pelo exposto podemos compreender que fenômenos como a psicografia, a vidência, a audiência e a fala mediúnica, devem implicar numa participação do córtex do médium, já que aqui se situam áreas para a escrita, visão, audição e a fala.

Se o  espírito comunicante e o médium não disciplinarem seu intercâmbio para promoverem um bloqueio no “sistema reticular ativador ascendente” que nos referimos atrás, as mensagens serão sempre conscientes e, o médiumalém de acrescentar sua participação intelectual. na comunicação, poderá por em dúvida a autenticidade da participação espiritual no fenômeno.

Por outro lado, nenhuma mensagem poderá ser totalmente inconsciente, visto que em todas há participação do córtex do médium e, se por acaso este não se recordar dos eventos que se sucederam durante a comunicação, o esquecimento deve ser atribuído a ocorrência de uma simples amnésia.

Considera-se, portanto, que o processo mediúnico transcorre sempre em parceria, com assimilação das idéias do espírito comunicante e a participação cognitiva do médium. Sendo comum uma amnésia que ocorre logo após a rotura da ligação fluídica (interação de campos de força), entre o médium e a entidade espiritual.

É do conhecimento dos pesquisadores do fenômeno mediúnico que a  clarividência, a telepatia e a capacidade de desenhar objetos fora do alcance da visão do médium, ocorrem com características muito semelhantes a organização de noção geométrica e espacial que ultimamente tem-se identificado na fisiologia normal do hemisrio cerebral direito.

Quando ocorrem lesões no hemisrio cerebral direito as falhas nos desenhos são muito características. Os objetos são esquematizados com negligência de detalhes, ficando as figuras incompletas. Um óculos, por exemplo, é desenhado sem uma das hastes e uma casa pode ser rabiscada sem um dos seus lados ou sem o telhado.

Os médiuns que captam as informações à distância ou registram visões imateriais, também costumam descrever suas percepções com falta de detalhes ou amputações das imagens de maneira muito semelhante a negligência observada nas síndromes do hemisrio direito.

É possível que estes médiuns registrem as imagens utilizando as áreas corticais especificas para funções visuais e gonósticas (de reconhecimento) do hemisrio direito do cérebro. O grau de distorção ou de falta de detalhes mais preciso deve depender do maior ou menor grau de desenvolvimento mediúnico.

Gânglios da base

As estruturas nucleares constituídas por aglomerados de neurônios situados na profundidade da substância branca cerebral são denominados de gânglios ou núcleos da base. Eles são responsáveis por uma série de funções motoras automáticas e involuntárias, fazendo parte do chamado sistema extrapiramidal.

Os gânglios da base controlam o tônus muscular, a postura corporal e uma série enorme de movimentos gestuais que completam nossa movimentação voluntária.

Logo após o nascimento a gesticulação de uma criança é visivelmente reflexa e automatizada. Progressivamente vão surgindo os movimentos intencionais (voluntários), projetados a partir do córtex piramidal (área motora principal). No processo de aprendizado a criança vai repetindo gestos para pegar os objetos, para se levantar, para engatinhar e andar até que progressivamente estes movimentos vão se sucedendo com maior facilidade passando-se a se realizarem automaticamente.

A mímica, a mastigação, a marcha, são automatismos aprendidos no decorrer do desenvolvimento da criança.

Posteriormente, uma série de automatismos mais complexo vão se desenvolvendo, como é o caso de, por exemplo, aprendermos a dirigir o automóvel, a tocar piano ou nadar.

Depois de uma certa idade é possível de se ver facilmente que, qualquer movimento voluntário que realizamos conscientemente, é enriquecido com uma constelação de gestos automáticos e involuntários que dão um colorido característico, individual e identificador do nosso modo de ser.

Estes nossos pequenos gestos estão frequentemente muito bem fixados na imagem que nossos amigos fazem de nós. Por isto o dissemos que eles servem também para nos identificar.

Convém ficar clara esta noção de que nossos movimentos podem ser voluntários ou automáticos. No primeiro caso quando são conscientes e intencionais, como por exemplo, quando estendemos a mão para pegar um lápis. No segundo caso, o movimento é semiconsciente, automático, muito menos cansativo que o primeiro. Os movimentos automáticos podem ser simples como mastigar e deglutir ou mais complexos como, por exemplo, para dirigir automóvel, nadar ou tocar um instrumento musical.

A execução de um ato automático mobiliza os gânglios da base e as áreas motoras complementares do lobo frontal. Mesmo os mais complexos como, por exemplo, tocar uma partitura bem decorada ao piano, nos permite que fiquem livres outras funções do cérebro, particularmente nossa consciência e todas as demais capacidades cognitivas do cérebro. Assim, mesmo tocando ao piano ou dirigindo automóvel podemos manter livremente uma conversação.

Considerando o fenômeno mediúnico da psicografia e da fala mediúnica, podemos observar corriqueiramente que, os médiuns ao discursarem ou psicografarem um texto sob a influência do  espírito comunicante, o fazem revelando gestos, posturas e expressões mais ou menos comuns a todos eles.

No caso da psicografia, a escrita se processa frequentemente com muita rapidez, as palavras podem aparecer escritas com pouca clareza, as letras às vezes são grandes, provavelmente, para facilitar a escrita rápida, a caligrafia tem pouco capricho, não há necessidade do médium acompanhar o que escreve e pode ocorrer escrita em espelho.

Na comunicação oral, o médium se expressa com vozes de características variadas, o sotaque pode ser pausado como feito com esforço, mas, em médiuns mais preparados, a fala costuma ser fluente e muito rápida, parecendo se tratar de um discurso previamente preparado ou muito bem decorado. Nota-se também que, durante a comunicação, o médium assume posturas e gestos incomuns ao seu modo de se expressar.

Quando interrogamos os médiuns conscientes estes dizem que no decorrer do fenômeno, eles como que são levados a falar ou a escrever como se isto não dependesse da vontade própria.

Correlacionando agora, o que vimos em termos neurológicos para a fisiologia do sistema extrapiramidal (gânglios da base e área cortical pré-motora) com as características da comunicação mediúnica, temos a impressão de que a entidade comunicante se utiliza deste sistema automático para se manifestar com maior rapidez, com o mínimo de dispêndio de energia, com menor interferência da consciência do médium e com maior possibilidade de se suceder uma amnésia.

Resumidamente, poderíamos enquadrar este tipo de comunicação mediúnica como uma constelação de automatismos complexos, desempenhados pelo sistema extrapiramidal do médium, mas com a coautoria do espírito comunicante.

Já vimos também, que durante nossos atos automáticos, nossa consciência está livre para a execução de atos voluntários e intencionais, podendo com eles interromper ou modificar nossos automatismos. Por isto podemos dizer e concluir que, a manifestação mediúnica, em se tratando de gestos automatizados, sofre o controle e a ingerência da consciência do médium. O que não deixa de ser um fator inibidor mas, necessário para a própria “disciplina” da entidade quando isto se fizer necessário.

Tálamo

O tálamo é um núcleo sensitivo por excelência. Ele exerce um papel receptor, centralizador e seletor das informações sensitivas que se dirigem ao cérebro.

Os estímulos externos do tipo dor, tato, temperatura e pressão percebidos em toda extensão do nosso corpo percorrem vias neurais que terminam no tálamo (no centro do cérebro). A partir daí estes estímulos são priorizados e selecionados para que chegue ao cérebro apenas os estímulos convenientes, principalmente os mais urgentes, como o caso dos estímulos nocivos que exigem uma rápida retirada. É o caso de retirarmos logo a mão de um objeto que está muito quente.

Por outro lado, mesmo para estímulos de pouca importância, o tálamo pode fornecer para a consciência as informações desejadas, quando elas forem requeridas para o córtex. É o caso de a qualquer momento, mesmo de olhos fechados, queremos saber se estamos ou não usando uma aliança no dedo ou uma meia calçada nos pés.

Portando, as informações sensitivas são percebidas no tálamo e este exerce o papel bloqueador interrompendo o caminho até o córtex cerebral que só será alcançado quando a informação for nova ou quando despertar interesse ou risco.

As informações monótonas e corriqueiras ficam provisoriamente interrompidas no tálamo. As informações das roupas que, por exemplo, tocam a nossa pele, não precisa afetar nossa consciência continuadamente.

É possível que, muitas das nossas sensações somáticas referidas pelos médiuns que dizem perceber a aproximação de entidades espirituais, como se estes lhes estivessem tocando o corpo, seja efeito deestímulos talâmicos.

Neste caso, pela ação do córtex do médium os estímulos espirituais podem ser facilitados ou inibidos pela aceitação ou pela desatenção do médiumbem como, por efeito de estados emocionais não disciplinados pelomédium.

Glândula Pineal

A estrutura e as funções da glândula pineal passaram a ser estudadas com maior ênfase após a descoberta da melatonina por Lener em 1958.

Embora a pineal já fosse conhecida desde 300 anos DC (foi descoberta por Herophilus), só após a descoberta da melatonina se descobriu sua relação com a luminosidade e a escuridão.

Ficou demonstrado experimentalmente que a luz interfere na função da pineal através da retina, atingindo o quiasma óptico, o hipotálamo, o tronco cerebral, a medula espinhal, o gânglio cervical superior chegando finalmente ao nervo conari na tenda do cerebelo. Entre a pineal e o restante do cérebro não há uma via nervosa direta. A ação da pineal no cérebro se faz pelas repercussões químicas das substâncias que produz.

Hoje já se identificou um efeito dramático da pineal (por ação da melatonina), na reprodução dos mamíferos, na caracterização dos órgãos sexuais externos e na pigmentação da pele.

Investigações recentes mostram também, uma relação direta da melatonina com uma série de doenças neurológicas que provocam epilepsia, insônia, depressão e distúrbios de movimento.

Animais injetados com altas doses de melatonina desenvolvem incoordenação motora, perda da motricidade voluntária, relaxamento muscular, queda das pálpebras, piloereção, vaso dilatação das extremidades, redução da temperatura e respiração agônica.

Descobriu-se também que a melatonina interage com os neurônios serotoninérgicos e com os receptores benzodiazepínicos do cérebro tendo portanto, um efeito sedativo e anticonvulsivante.

Pacientes portadores de tumores da pineal podem desenvolver epilepsia por depleção da produção de melatonina.

A melatonina parece ter também um papel importante na gênese de doenças psiquiátricas como depressão e esquizofrenia.

Outros estudos confirmam uma propriedade analgésica central da melatonina, integrando a pineal à analgesia opiácea endógena.

A literatura espírita há muito vem dando destaque para o papel da pineal como núcleo gerador de irradiação luminosa servindo como porta de entrada para a recepção mediúnica.

Como a pineal é sensível à luz, não será de estranhar que possa ser mais sensível ainda a vibração eletromagnética. Sabemos que a  irradiação  espiritual é essencialmente semelhante a onda eletromagnética que conhecemos, compreendendo-se assim, sua ação direta sobre a pineal.

Podemos supor que este primeiro contato da entidade  espiritual com a pineal do médium, possibilitaria a liberação de melatonina predispondo o restante do cérebro ao “domínio” do  espírito comunicante. Esta participação química do fenômeno mediúnico poderia nos explicar as flutuações da intensidade e da freqüência com que se observa a mediunidade.

Até o presente a espécie humana recebe a mediunidade como carga pesada de provas e sacrifícios. Raras vezes como oportunidade bem aproveitada para prestação de serviço e engrandecimento espiritual.

evolução, no entanto, caminha acumulando experiências, repetindo aprendizados. Aos poucos iremos acumulando tanto espiritualmente como fisicamente modificações no nosso cérebro. O homem do futuro deverá dispor da mediunidade como dispõe hoje da inteligência.


Neuropsicologia e as Funções Cognitivas

O interesse do ser humano em buscar explicações sobre o comportamento e uma possível relação com o cérebro data desde a Antiguidade, época em que os gregos se tornaram os pioneiros na localização de lesões cerebrais em feridos de guerra.
Desde então, a trajetória das neurociências vem se desenvolvendo ao longo dos séculos, até chegar nos dias atuais, em que o avanço do aparato tecnológico e médico-científico possibilita a investigação mais complexa da atividade cerebral e sua correlação como comportamento humano, e ainda assim há muito para se descobrir nesse campo da ciência. neurociência é um campo interdisciplinar que abrange um conjunto de disciplinas dentre outras: neuroanatomia, neurofisiologia, neuroquímica, neuroimagem, genética, farmacologia, neurologia, psicologia, psiquiatria.

As neurociências procuram estudar as várias relações entre o comportamento e a atividade cerebral. Dentro das neurociências, o papel do psicólogo vem conquistando um grande destaque, que resultou na Resolução nº 02/2004 do Conselho Federal de Psicologia, que regulamenta a prática da neuropsicologia (diagnóstico, acompanhamento, reabilitação e pesquisa) como especialidade do profissional psicólogo através de registro e titulação.
Todas as tarefas que diariamente realizamos necessitam da atividade cerebral. Para ler e compreender esse texto, anotar um recado para um colega, reconhecer alguém e lembrar seu nome, calcular o orçamento doméstico, conversar com uma pessoa, saber que amarelo é uma cor e que carro é um meio de transporte, lembrar o caminho de casa, são apenas alguns de uma infinidade de funções que nosso cérebro faz no dia a dia. As principais funções cognitivas são: percepção, atenção, memória, linguagem e funções executivas. É a partir da relação entre todas estas funções que entendemos a grande maioria dos comportamentos, desde o mais simples até as situações de maior complexidade, e que exigem atividades cerebrais mais elaboradas.

ATENÇÃO - A atenção é uma função cognitiva bem complexa e diversos comportamentos resultam de um nível adequado de atenção para serem bem sucedidos, por exemplo: assistir um filme e compreendê-lo; manter o foco de conversação em um ambiente ruidoso. A atenção também é um pré-requisito fundamental para o processo de memorização. O conceito de atenção é definido pela seleção e manutenção de um foco, seja de um estímulo ou informação, entre as inúmeras que obtemos através de nossos sentidos, memórias armazenadas e outros processos cognitivos. Em outras palavras, dirigimos nossa atenção para o estímulo que julgamos ser importante num exato momento. Os outros estímulos que não os principais, passam a fazer parte do “fundo” não sendo mais os focos na atenção. Podemos estudar e avaliar os diferentes aspectos da atenção, por exemplo:
atenção seletiva: quando o indivíduo escolhe um estímulo ao qual prestará atenção, por exemplo, ler um livro ao invés de assistir tv, mesmo que esta esteja ligada e faça ruídos ao fundo;
atenção dividida: caracteriza-se pela capacidade do indivíduo em prestar atenção em mais de um estímulo ao mesmo tempo, por exemplo, conversar enquanto dirige um veículo, trabalhar no computador enquanto atende ao telefone;
Nossa capacidade de manter a concentração é restrita, e depende de inúmeros fatores, desde a falta de vontade ou ânimo por algum assunto, até a dificuldades específicas, como as presentes no TDAH (veja seção principais diagnósticos) que interferem na capacidade de atenção seletiva e dividida, ou seja, todos nós temos alguma dificuldade atencional, se isso representa um problema a ser tratado, depende do grau de comprometimento e do número de sintomas. Problemas de concentração podem ser resultantes de um distúrbio atencional simples, ou a uma inabilidade de manter o foco de atenção intencional, ou até aos dois problemas ao mesmo tempo. No nível seguinte de complexidade, está o rastreamento mental que também é afetado por dificuldades atencionais. A preservação da atenção é um pré-requisito para atividades que requeriam, tanto concentração, como rastreamento mental. A habilidade de manter a própria atenção focada em um conteúdo mental fica diminuída, ou seja pode-se ter dificuldade de para se manter uma seqüência de pensamentos simples, o que invariavelmente compromete a habilidade de solução de problemas mais complexos. Elucidar a natureza dos problemas atencionais, depende não somente da complexa observação do comportamento geral do paciente, assim como o desempenho em testes específicos que envolvam concentração e trilhas mentais. Somente com a comparação entre as várias observações, pode ser possível a distinção entre os déficits globais e aqueles mais discretos e normais presentes na maioria das pessoas.

MEMÓRIA - A memória é uma das funções cognitivas mais utilizadas pelo ser humano em seu cotidiano. Memória é a capacidade de armazenar informações, lembrar delas e utilizá-las no presente. O bom funcionamento da memória depende inicialmente de do nível de atenção. Para que o bom armazenamento aconteça outras atividades cognitivas como a capacidade de percepção e associação é importante para que as informações possam ser armazenadas com sucesso. A memória pode ser classificada de forma simples, de acordo com a duração e os tipos de informação envolvidos:
memória de curto prazo: também conhecida como memória de trabalho, armazena (numa quantidade limitada) informações por alguns minutos. A memória de trabalho possibilita, por exemplo, uma pessoa discar um número de telefone que alguém acabou de lhe dizer ou repetir algumas frases de um texto lido naquele exato momento.
memória de longo prazo: ao contrário da anterior, a memória de longo prazo tem uma capacidade maior para o armazenamento de informações, que permanecem com o indivíduo durante longos períodos, podendo até ficar guardadas indefinidamente. Por exemplo, as lembranças de fatos ocorridos na infância, o aprendizado de conteúdos escolares, a fisionomia ou o nome de alguém que ao se vê há tempos, etc. Dentro da memória de longo prazo, encontram-se os seguintes tipos:

memória episódica: fazem parte desse conjunto os eventos vivenciados pela pessoa que os recorda, em um determinado tempo e lugar, por exemplo, uma viagem de férias, o primeiro dia num emprego, o nascimento de um filho, ou até eventos negativos como uma situação de violência. Assim, a memória episódica é constituída por lembranças autobiográficas que representam um significado importante para o indivíduo. - memória semântica: corresponde ao conhecimento de fatos da vida em geral, como o idioma falado, o significado das palavras, o nome de objetos e que não têm qualquer ligação com as experiências dotadas de algum tipo de emoção, como descrito na memória episódica.

memória procedural: esse tipo de memória é ligado ao conhecimento de procedimentos corriqueiros e automáticos, por exemplo, lembrar como se toca um instrumento musical, andar de bicicleta, vestir-se, etc.
Com o avanço da idade, a partir do 50 anos, é comum as pessoas se queixarem de dificuldades de memória, o que traz um certo desconforto ou ate o receio de que possa ser o início de um quadro patológico, como o Mal de Alzheimer, porém é importante ressaltar que o declínio da memória como avanço da idade é completamente normal. Não é só a idade que provoca prejuízos na capacidade de memória; o estresse emocional, a depressão e problemas de ordem física são outros importantes fatores. Por outro lado, existem também fatores que favorecem a memória, como a motivação e as emoções. Quanto maior o interesse em aprender algo, melhor será o armazenamento das informações obtidas nesse processo, assim quanto maior o número de emoções (sejam elas positivas ou negativas) atribuídas a um evento mais chances dele permanecer na memória para uma futura recuperação.

LINGUAGEM -A linguagem é uma função que usamos todos os dias, durante a maior parte do tempo, seja através da linguagem oral (numa conversa) ou da escrita (ao ler ou escrever um texto). O conceito de linguagem é definido pelo uso de um meio organizado de combinar as palavras a fim de se comunicar, embora a comunicação não se constitua unicamente num processo verbal. As formas não-verbais, como gestos ou desenhos também são capazes de transmitir idéias e sentimentos. Tanto a fala quanto a escrita são processos em que o indivíduo seleciona as palavras que conhece e as organiza num determinado contexto, dentro das regras gramaticais de seu idioma. A linguagem é um processo que ocorre apenas se existir uma seqüência coerente de símbolos (sons ou palavras). Assim, para uma comunicação ser satisfatória, o indivíduo precisa compreender uma determinada informação para entender a seguinte, e daí por diante até o fim de um texto ou uma conversa. Mesmo que a pessoa leia um texto com muita atenção e compreensão, dificilmente as frases serão armazenadas exatamente iguais como aparecem no texto. Apenas as informações mais relevantes, como palavras-chave e as idéias centrais, serão necessárias para a compreensão e armazenamento na memória de longo prazo. A leitura adequada é aquela que o sujeito organiza as palavras em grupos coerentes, dos quais será extraído um significado geral e associados ao tema principal do texto. A linguagem também é caracterizada pela sua constate evolução, pois embora as pessoas respeitem os limites de sua estrutura (gramática, ortografia), elas podem produzir novas elocuções a qualquer momento. Basta observar as mudanças ocorridas na escrita de certas palavras há algumas décadas atrás, por exemplo “pharmácia”.

PERCEPÇÃO - A percepção é uma função cognitiva que se constitui de processos pelos quais o sujeito é capaz de reconhecer, organizar e dar significado a um estímulo vindo do ambiente através dos órgãos sensoriais. Por exemplo, se um indivíduo tem seus olhos vendados e lhe são oferecidos alguns objetos para tatear, ele é capaz de reconhecer - através de informações armazenadas - a textura (áspero ou macio, duro ou mole), a forma (quadrado, redondo, grande, etc.) e depois nomear o objeto. O mesmo processo ocorre com os outros sentidos como o olfato (reconhecer que é “cheiro de fumaça"), a gustação (identificar se algo é doce ou salgado), a audição (saber que um som é do canto de pássaros), ou a visão (identificar um obstáculo ao dirigir um veículo e desviá-lo). As agnosias são os déficits na capacidade de percepção dos estímulos sensoriais, especialmente os relacionados à visão. Embora o sujeito não seja portador de qualquer tipo de deficiência sensorial, ele não é capaz de reconhecer e identificar o estímulo que lhe é oferecido, normalmente em conseqüência a lesões cerebrais adquiridas.

FUNÇÕES EXECUTIVAS

As funções executivas compreendem um conceito neuropsicológico que se aplica às atividades cognitivas responsáveis pelo planejamento e execução de tarefas. Elas incluem o raciocínio, a lógica, a estratégias, a tomada de decisões e a resolução de problemas. Todos esses processos cognitivos são produzidos diariamente, pois uma série de problemas - dos mais simples aos de maior complexidade - ocorrem na vida do ser humano. Assim, independente do grau de complexidade do problema, o sujeito precisa estar apto para analisar a situação (problema), lançar mão de estratégias, e antever as conseqüências de sua decisão. O cotidiano oferece diferentes desafios ou simplesmente situações imprevistas que exigem uma boa habilidade para um manejo adequado. Por exemplo, descobrir o melhor caminho para se chegar num determinado local, uma nova função no emprego, aumentar o orçamento doméstico, ou mesmo durante o desenvolvimento da criança, que a cada momento descobre uma nova possibilidade e vai em busca de uma nova habilidade. Existem três tipos de resolução de problemas:
inferente: utilizada quando o indivíduo está frente a uma situação desconhecida e pela qual ainda não existem soluções disponíveis. Sendo assim, é necessário avaliar os elementos que compõem o problema e deduzir (inferir) qual a melhor estratégia para superar aquele problema, ou no pelo menos minimizar seus efeitos. Na medicina isso é bastante utilizado quando se tem um determinado quadro patológico desconhecido.
analógica: é o uso de recursos anteriormente utilizados em situações semelhantes.
automática: é o tipo que se caracteriza pela espontaneidade. Ocorre principalmente se a pessoa que o utiliza tem bastante prática no problema, por exemplo, um motorista experiente.


CONCLUSÃO

Como pode ser visto todas as funções cognitivas interagem entre si. A separação existe apenas para fins educativos, pois o ser humano é caracterizado por sua totalidade. As funções executivas reúnem todas as funções anteriores. Para resolver um determinado problema, o sujeito precisa utilizar todas as funções cognitivas. Por exemplo, ao detectar um cheiro de fumaça (atenção), ele vai reconhecer (percepção) de acordo com o que já foi aprendido (memória) que esse pode ser um sinal de incêndio; a partir de então ele busca estratégias para solucionar o problema, como primeiro se certificar do que se trata, manter a calma, retirar as pessoas do local, e chamar por socorro (funções executivas). A atuação do neuropsicólogo - seja na pesquisa, na avaliação ou na reabilitação - se dá sobre os quadros que envolvem algum distúrbio das funções cognitivas, como Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, Mal de Alzheimer, Dislexias, ou qualquer distúrbio neurodegenerativo, na avaliação pré-cirúrgica, etc.É importante lembrar que a neuropsicologia é uma área das neurociências e que portanto, o neuropsicólogo não trabalha sozinho, e sim existe uma equipe atuando em conjunto para o bem estar do paciente.

 2006, Agosto - site Plenamente

Referências bibliográficas

 1. http://www.happyneuron.com/
2. Andrade, F.H.S. (org.) Neuropsicologia hoje. São Paulo: Artes Médicas, 2004.
3. Mello, C.B. (org.) Neuropsicologia do desenvolvimento. São Paulo: Memnon, 2005.
4. Sternberg, R. J. Psicologia cognitiva. Porto Alegre: Artes