quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Estudo sobre o transe no fenômeno mediúnico

Transe Mediúnico


Conceito

A dinâmica mediúnica revela um estado alterado de consciência, portanto, um autêntico estado de transe.

Analisando etimologicamente, a palavra transe deriva de transitus, que indica o sentido de passagem; passar de um estado de consciência à outro.

Histórico

O transe ocorreu desde os Xamãs mais primitivos, passando pelos Hinduístas antigos com estados de transe da ioga, pelos templos de sono dos sacerdotes egípcios e a força mágica do olhar do sacerdote Caldeu. Os chineses praticavam o culto aos antepassados, e para entrarem em comunicação com os parentes desconhecidos, submetiam-se a um ritual acompanhado de músicas e danças giratórias que conduziam a um frenesi coletivo de convulsões, saltos e corridas desenfreadas, até que conseguissem cair no transe como meio de participação com o mundo dos mortos.

Nos santuários de adivinhação da Grécia antiga, adolescentes do sexo feminino, as pitonisas, eram escolhidas para serem possuídas por Apolo. Os momentos de transe representavam a descida de deus. É de se supor portanto, que este tipo de alteração da consciência, venha sendo provocado pelo ser humano desde os primórdios de sua história.

Na atualidade, o transe faz parte da prática religiosa de milhões de pessoas. Para o Espiritismo, é condição necessária para possibilitar a comunicação com os Espíritos dos mortos; o médium em transe, emprestaria seu corpo para que um Espírito o usasse como veículo de manifestação aos vivos. De maneira semelhante, os cultos afro-americanos (vudú, macumba, umbanda, candomblé, etc.) vêem nele o caminho mais fácil para atrair as divindades e outras entidades sobrenaturais (orixás, exús, pretos-velhos, etc.) até os terreiros de celebração. Nestes casos, o médium serve de "cavalo" à entidade incorporada.

Podemos concluir e resumir as maneiras de alcançar o transe das seguintes formas:

1. Danças rítmicas e saltos, como método mais empregado.

2. Cantos prolongados do curandeiro, do feiticeiro; o infindável entoar de salmos dos monges cristãos e budistas...

3. Drogas naturais como ópio, maconha, coca, beladona, mescalina, etc..

4. Produtos químicos como o ácido lisérgico, pentotal, escopolamina cloratosa, etc..
Sonambulismo

É uma faculdade que propicia a emancipação da alma durante o sono de uma forma mais acentuada. Estando o Espírito inteiramente liberto dos liames corporais, readquire a sua noção e capacidade espiritual. Allan Kardec deixa claro no Livro dos Médiuns, capítulo XIV e na Revista Espírita de 1859: "O sonambulismo pode ser considerado como uma variedade da faculdade mediúnica, ou melhor, trata-se de duas ordens de fenômenos que se encontram, freqüentemente reunidos. O sonâmbulo age por influência de seu próprio Espírito. É a sua alma que, nos momentos de emancipação, vê, ouve e percebe além dos limites dos sentidos. O que ele diz procede dele mesmo. Em geral suas idéias são mais justas do que no estado normal; seus conhecimentos são mais amplos, porque sua alma está livre. (...) O médium, pelo contrário serve de instrumento a outra inteligência. (...) O sonâmbulo exprime o seu próprio pensamento, e o médium exprime o pensamento do outro. Mas o Espírito que se comunica através de um médium comum pode também fazê-lo por um sonâmbulo. (...) No estado sonambúlico fica fácil essa comunicação".

Allan Kardec ainda relata que o sonâmbulo pode comunicar-se com Espíritos de encarnados. Trata-se de uma dupla faculdade, que é um dos atributos da alma e tem por órgão o perispírito cuja radiação transporta a percepção além dos limites da ação e dos sentidos materiais. É o sexto sentido ou sentido espiritual, na qual o sonambulismo e a mediunidade são as suas variedades, que como se sabe, apresentam inúmeras nuanças e constituem aptidões especiais.

O sonambulismo, pode ser natural, quando ocorre independente da vontade do indivíduo, portanto de forma espontânea; pode ser magnético, quando provocado através da magnetização, ou seja, pelo passe. Entre um e outro não há diferenças. O sonâmbulo vê à distância como se estivesse presente no ambiente que descreve, pois sua alma para lá se transporta, enquanto o corpo permanece em repouso, aguardando o momento em que ele virá reanimá-lo. A alma em suas peregrinações, se acha sempre revestida do seu perispírito, agente que reflete as sensações percebidas pelo Espírito, porque ele permanece ligado pelos laços fluídicos.

Importante se faz notar que, enquanto o médium permanece em estado sonambúlico, ele vai narrando os fatos visualizados, porém, "... passada a crise, toda lembrança se apaga e ele entra na obscuridade" (o Livro dos Espíritos, q: 431).

Tanto quanto a mediunidade ou qualquer outra faculdade de desprendimento da alma, o sonambulismo não atesta a elevação do Espírito.

Êxtase

O êxtase é a emancipação da alma no grau máximo. No sonho e no sonambulismo, a alma erra pelos mundos terrestres; no êxtase, penetra num mundo desconhecido, no mundo dos Espíritos etéreos, com os quais entra em comunicação, sem, todavia, poder ultrapassar certos limites, que ela não poderia transpor sem quebrar totalmente os laços que a prendem ao corpo. Cercam-na um brilho resplandecente e desusado fulgor, elevam-na harmonias que na Terra se desconhecem, invade-a indefinível bem-estar; dado lhe é gozar antecipadamente da beatitude celeste e bem se pode dizer que põe um pé no limiar da eternidade. No êxtase, é quase completo o aniquilamento do corpo; já não resta, por assim dizer, senão a vida orgânica e percebe-se que a alma lhe está presa apenas por um fio, que mais um pequeno esforço faria partir-se.

Como em nenhum dos outros graus de emancipação da alma, o êxtase não é isento de erros, pelo que as revelações dos extáticos longe estão de exprimir sempre a verdade absoluta. A razão disso reside na imperfeição do espírito humano; somente quando ele houver chegado ao cume da escala poderá julgar das coisas lucidamente; antes não lhe é dado ver tudo, nem tudo compreender (...).

Há por vezes, nos extáticos, mais exaltação que verdadeira lucidez, ou melhor, a exaltação lhes prejudica a lucidez, razão porque suas revelações são, com freqüência, uma mistura de verdades e erros, de coisas sublimes e outras ridículas.

Transe Mediúnico

O transe pode ser definido como o estado alterado da consciência, onde à dissociação psíquica, que pode ser superficial (consciente), hipnogógico (semiconsciente) e profundo (inconsciente).

O medianeiro, em estado de concentração, permite passividade, condições para poder entrar em contato com Espíritos que desejam comunicar-se durante sessões mediúnicas.

O transe é anômalo porque ele é ocasional. Neste caso, não podemos, por exemplo, chamar o estado de sono, porque é uma situação normal.

A mediunidade é um tipo de transe, em qualquer de suas variedades, por isso devemos compreender os outros tipos de transe para definir o que é realmente mediunidade. O transe mediúnico, por ser condição fisiológica e absolutamente hígida, ou seja, saudável, necessita de avaliações e apreciações cuidadosas, a fim de não ser confundido com outros setores, principalmente o patológico.

Os tipos básicos de transe são:

1. Patológicos: delírio febril, coma, trauma craniano, psicose, depressão, esquizofrenia, epilepsia, etc.;

2. Farmacógenos: provocados por drogas, medicamentos, como tranqüilizantes, calmantes, anfetaminas, ecstasy, cocaína, heroína, crack, álcool, fumo, etc.;

3. Anímico: quando o indivíduo é capaz de emancipar-se por si mesmo, por sua vontade, ou não, naturalmente ou sob estímulo;

4. Transe provocado: a) hipnose auto e hetero; b) mediúnico, provocado por Espíritos bons ou maus; c) farmacógeno (já citado).

Esses são os tipos básicos, que podemos ainda classificá-los como: endógenos os provocados por distúrbios patológicos neuro-anímicos, por liberação ou inibição de neurotransmissores; exógenos, transes provocados mediante estímulos externos.

Léon Denis define o estado de transe como "grau de sono magnético que permite ao corpo fluídico exteriorizar-se, desprender-se do corpo carnal, e à alma tornar a viver por um instante sua vida livre e independente. A separação, todavia, nunca é completa; a separação absoluta seria a morte. Um laço invisível continua a prender a alma ao seu invólucro terrestre semelhante ao fio telefônico que assegura a transmissão entre dois pontos; esse laço fluídico permite à alma desprendida transmitir suas impressões pelos órgãos do corpo adormecido. No transe, o médium fala, move-se, escreve automaticamente; desses atos, porém, nenhuma lembrança conserva ao despertar".

Acrescentamos, porém, que dependendo da condição de consciência e educação do médium, ele pode não só lembrar dos seus atos como auxiliar o Espírito comunicante.

O estado de transe pode ser provocado, quer pela ação de um magnetizador, quer pela de um Espírito. Sob o influxo magnético, os laços que unem os dois corpos se afrouxam. A alma, com seu corpo sutil, vai se emancipando pouco a pouco; recobra o uso de seus poderes ocultos, comprimidos pela matéria. (...) As radiações da psique aumentam e se dilatam; um estado diferente de consciência, faculdades novas se revelam. Um mundo de recordações e conhecimentos sepultados nas profundezas do "eu", se patenteia. (...) Entram ao mesmo tempo em ação os sentidos psíquicos. A visão e audiência, a distância, se produzem tanto mais claras e fieis quanto mais completa é a exteriorização da alma.

Segundo Dr. Jorge Andréa dos Santos, a dinâmica mediúnica, por se desenvolver em vários setores do psiquismo humano é fenômeno de extrema complexidade onde muitas nuanças nos escapam.

Na apreciação processual do transe, teríamos que observá-lo em vários de seus aspectos, distinguindo diversas posições. Assim o transe, quanto à sua fase, poderia ser superficial ou profundo; quanto à duração fugaz ou prolongado; e quanto à extensão parcial ou total. Além do mais, consideremos também duas formas de transe, o provocado e o espontâneo.

O transe mediúnico não poderá jamais ser explicado sem a participação direta das camadas energéticas do Espírito, ou seja, do perispírito, a refletirem sua complexa energética na zona consciencial, ponto de manifestação das nossas percepções tida como únicas de real valia.

O início do transe mediúnico estaria na concentração (estado de passividade física) nunca na neutralidade. Esse estado de passividade seria o afastamento do tumulto emocional, muito comum na zona consciente ou física no preparo de um campo psíquico harmônico.

Quando a entidade espiritual procura comunicar-se com a organização psíquica do médium, ambos em sintonia buscam entrosamento. Inicia-se uma inibição cortical provocada pela projeção mental do Espírito comunicante. Essa inibição dá origem a uma espécie de relaxamento neuro-muscular e mental, diminuição das funções orgânicas, e afrouxamento dos botões sinápticos que ligam os PSICONS (neurônios perispirituais) às células nervosas físicas. Segue-se uma diminuição dos mediadores químicos (mentamina e serotonina), e conseqüente redução do tono cortical. De um lado o Espírito (vontade-apelo), do outro, o médium (vontade-resposta), a fim de que o mecanismo amplie-se por intermédios de vórtices menores nos diversos departamentos do psiquismo e coordenados pelo Espírito observando a cadeia: idéia-ação-seleção-autocrítica-expressão, alicerçado na vontade de aceitação por parte do médium.

Inicialmente os campos de entrosamento se fazem através das respectivas zonas perispirituais – irradiações perispirituais do Espírito e recepção perispiritual do médium – que, assim enredados, dirigem-se aos campos físicos do receptor para as devidas elaborações psicológicas. Dessa forma, haverá necessidade de transformações nos respectivos campos do psiquismo. As energias vindas da dimensão hiperfísica (campos perispirituais) sofrerão transformações no psiquismo do médium a fim de que o processo intelectivo se instale fornecendo a informação-mensagem.

Ante as informações espirituais, principalmente de André Luiz, e os estudos realizados em França pelo Dr. Thiebault, a glândula pineal está sendo novamente reconhecida como elemento valoroso nos processos nobres do psiquismo. Não seria apenas uma glândula passageira a controlar o sexo nos primeiros anos de vida, com posterior apagamento funcional, mas uma unidade endócrina de grande valor a responder por autêntico campo de filtragem, onde os dígitos de características perispirituais (dimensão hiperfísica) fossem transformados e adaptados para as recepções neuroniais da base cerebral (tálamo e hipotálamo). Daí as impulsões seriam direcionadas para a região cortical onde a intelecção se processará, proporcionando condições para o nosso entendimento intelectual.

A impulsão perispiritual do Espírito, captada pelo perispírito do médium, em acoplagem de mútua aceitação, passaria aos campos físicos da intelecção, após processo de seleção e auto-crítica realizado nos campos perispirituais do médium ou zona inconsciente. Este processo seletivo e auto-crítico estaria relacionado ao grau de moralização do médium, cuja elaboração se faria, compreensivelmente, sem a análise ou conhecimento da zona consciente. É como se fora um mecanismo de automatismo consciente.

O médium moralizado e ajustado jamais deixará passar a mensagem em termos grosseiros e agressivos. As retificações serão elaboradas sem modificações da essência das mensagens, porém demonstrando o "colorido" do médium. Não haverá inserções anímicas do próprio médium, mas uma filtragem de ajuste a demonstrar as características individuais que o receptor possui. As mais perfeitas e ajustadas mensagens, sempre mostram o "selo" da máquina onde foram operadas. Com isso, jamais queremos dizer que o fenômeno autêntico seja combinado com fatores anímicos do médium, embora existindo mensagens que demonstram tais condições. Isso vem mostrar a importância do estudo da Doutrina Espírita, por ter sido quem melhor elaborou as condições de exercício da mediunidade, como um dos adequados caminhos de evolução psicológica. Exercício de mediunidade será o constante impulso de aperfeiçoamento a buscar todas as angulações no bem.

Nessa síntese, tentativa de descrição do fenômeno mediúnico, conhecido, comumente, como sendo mediunidade de incorporação (termo inadequado), são imensas e incontáveis as variações que, por sua vez, estariam atadas ao biótipo psicológico de cada ser. Conforme as zonas dos centros corticais (no cérebro) que fossem mais solicitados, teríamos as variações mediúnicas refletidas nas conhecidas psicografias, psicofonias (zonas da linguagem) vidência (centro visuais) e tantas outras modalidades onde as ativações de locais específicos se mostrem mais contundentes.

A dinâmica mediúnica avança em constante desenvolvimento, onde o processo de incorporação em suas variedades – consciente, semiconsciente e inconsciente – estarão na dependência da solicitação e dominância do comunicante (entidade espiritual). Desse modo, o processo mediúnico vai sendo como que, pouco a pouco, substituído, sem apagamento definitivo, por mecanismo em que o próprio médium tem uma atuação mais dominante e efetiva.

Baseado nestas informações, e respeitando a lei da física na qual dois corpos não ocupam o mesmo espaço ao mesmo tempo, não há a mínima possibilidade de incorporação por intermédio de Espíritos. Neste tipo de mediunidade, a irradiação da entidade espiritual que se comunica é bem mais ativa do que a posição do médium, que se torna mais passiva. Esta condição pode ser denominada de mediunidade receptiva – o médium com sua passividade recebe o que lhe é imposto pelo comunicante.

No segundo caso, onde o médium exerceria, pela sua vontade, uma espécie de procura sobre as condições dos seus porquês, ele impõe, mesmo de modo inconsciente, forte carga efetivo-emocional, o que propiciaria alargamento e ampliação de suas antenas mediúnicas (campo de irradiação perispiritual). Com isso, passaria a trafegar nas correntes superiores de pensamento, buscando idéias mais precisas na definição das suas inquirições. Neste caso, teríamos a outra variedade mediúnica que poderíamos chamar de mediunidade captativa. A região cerebral mais adequada a tal cometimento seria a dos lobos frontais, onde centros nervosos específicos devem existir em virtudes de suas apuradas funções, ao lado da ajuda e ativação do hemisfério cerebral direito; enquanto que, no outro tipo mediúnico (processo receptivo), as zonas do centro cerebral seriam as mais solicitadas. No mecanismo receptivo prepondera o processo analítico, no mecanismo captativo o processo sintético; no receptivo portanto, o intelecto, no captativo a intuição. Hoje temos como assertiva que o lado esquerdo do cérebro, onde existem os centros de linguagem, é região da programação racional, dos fatos analíticos que compõem o nosso dia-a-dia da pesquisa intelectiva. O lado direito do cérebro estaria ligado aos processos criativos, imaginativos, aos dons artísticos e todos os componentes da intuição.



Bibliografia


1. Obras Póstumas – Allan Kardec.

2. O Livro dos Espíritos – Allan Kardec.

3. Saúde e Espiritismo – AME do Brasil.

4. Doutrina Espírita no Tempo e no Espaço (800 verbetes especializados) – A. Merci Spada Borges.

5. Palestra Virtual (IRC Espiritismo) – L. Palhano Junior.

6. Revista Presença Espírita – Janeiro e Fevereiro de 1994.

7. Estudos Doutrinários do CEJB: Transe – Marta Monteiro Martins.




sábado, 7 de outubro de 2017

Ruídos, perturbações / Lançamento de objetos / Fenômeno de transporte / Formação de objetos tangíveis

RUÍDOS, BARULHOS E PERTURBAÇÕES

Os fenômenos tratados no capítulo IV são provocados. Sucede, porém, às vezes, produzirem-se espontaneamente, sem intervenção da vontade, até mesmo contra a vontade, pois que freqüentemente se tornam muito importunos. Além disso, para excluir a suposição de que possam ser efeito de imaginação superexcitada pelas idéias espíritas é que se produzem entre pessoas que nunca ouviram falar disso e quando menos elas podiam esperar.
No capítulo que estamos estudando, Allan Kardec explica que tais fenômenos, cuja manifestação se poderia considerar como de prática espírita natural, são muito importantes, porque excluem as suspeitas de conivência. Por isso mesmo, recomenda, às pessoas que se ocupam com os fatos Espíritas, que registrem todos os desse gênero, que lhes cheguem ao conhecimento, mas, sobretudo, que lhes verifiquem cuidadosamente a realidade, através de minucioso estudo das circunstâncias, a fim de adquirirem a certeza de que não são joguetes de uma ilusão, ou de uma mistificação.

Ruídos, barulhos e perturbações.
De todas as manifestações espíritas, as mais simples e mais freqüentes são os ruídos e as pancadas. Neste caso, principalmente, é que se deve temer a ilusão, porquanto uma infinidade de causas naturais pode produzi-los: o vento que assobia ou que agita um objeto, algo que a gente mesmo está movendo sem perceber, um efeito acústico, um animal escondido, um inseto, etc., até mesmo, brincadeiras de mau gosto. Aliás, os ruídos espíritas apresentam um caráter especial, revelando intensidade e timbre muito variado, que os tornam facilmente reconhecíveis e não permitem sejam confundidos com os estalidos da madeira, com as crepitações do fogo, ou com o tique-taque monótono do relógio. São pancadas secas, ora surdas, fracas e leves, ora claras, distintas, às vezes retumbantes, que mudam de lugar e se repetem sem nenhuma regularidade mecânica. De todos os meios de controle, o mais eficaz e que não deixa dúvida quanto à origem, é submete-los à nossa vontade. Se as pancadas se fizerem ouvir do lado que se indicar, se responderem ao pensamento de alguém, dando o número pedido, aumentando ou diminuindo sua intensidade, não se pode negar a presença de uma causa inteligente, porém, a falta de resposta nem sempre prova o contrário.
Uma vez comprovado que as manifestações são reais, seria racional teme-las? Só podem ser afetadas as pessoas que acreditam tratar-se do diabo, como as crianças que temem o lobisomem ou o bicho-papão. Essas manifestações, em certas circunstâncias, aumentam e adquirem persistência desagradável. É necessária uma explicação a respeito, pois é natural que então se queira afasta-las.
Afirmou Kardec, que as manifestações físicas têm por fim chamar a nossa atenção para alguma coisa e convencer-nos da presença de um poder superior ao do homem. Também disse que os Espíritos elevados não se ocupam com esta ordem de manifestações; que se servem dos Espíritos mais imperfeitos para produzi-las. Atingida a finalidade acima indicada, cessa a manifestação. Acrescenta exemplos que tornarão a questão mais compreensível. 
Transcrevemos a seguir, relato que o Codificador faz: "... quando iniciava meus estudos de Espiritismo, trabalhando uma noite nesse assunto, ouvi golpes que soaram ao meu redor durante quatro horas consecutivas. Era a primeira vez que tal coisa me acontecia. Verifiquei que não tinham nenhuma causa acidental, mas no momento não pude saber nada mais. Nessa época, trabalhava com um excelente médium escrevente e, no dia seguinte, perguntei ao Espírito, que por seu intermédio se comunicava, qual a causa daquelas pancadas. Respondeu-me ele, Era, o teu Espírito Familiar que queria falar-te. - O que queria dizer-me? Resposta: Ele está aqui, pergunta-lhe. - Tendo-o interrogado, aquele Espírito se deu a conhecer sob um nome alegórico. (Vim a saber depois, por outros Espíritos, que pertence a uma categoria muito elevada e que desempenhou na Terra importante papel.) Apontou erros no meu trabalho, indicando-me as linhas onde se encontravam; deu-me úteis e sábios conselhos e acrescentou que estaria sempre comigo e atenderia ao meu chamado todas as vezes que o quisesse interrogar. A partir de então, com efeito, esse Espírito nunca mais me abandonou. Dele recebi muitas provas de grande superioridade e sua intervenção benévola e eficaz socorreu-me tanto nos problemas de vida material quanto nos metafísicos. Desde a nossa primeira conversa, as pancadas cessaram. De fato, o que desejava ele? Estabelecer comunicação regular comigo; mas, para isso, precisava me avisar. Dado o aviso, explicada a sua razão e estabelecidas as relações regulares, as pancadas se tornaram inúteis. Não se toca o tambor para acordar os soldados, quando eles já se levantaram".
Acrescenta Kardec, fato quase semelhante que sucedeu a um dos seus amigos. Havia algum tempo, no seu quarto se ouviam ruídos diversos, que já se iam tornando fatigantes. Apresentando-lhe ocasião de interrogar o Espírito de seu pai, por um médium escrevente, soube o que queriam dele, fez o que foi recomendado e daí em diante nada mais ouviu. Deve-se notar que as manifestações deste gênero são mais raras para as pessoas que dispõem de meio regular e fácil de comunicação com os Espíritos.
Concluindo nossos estudos sobre os itens indicados, relembramos que são comuns os relatos dessas manifestações de Espíritos que se comunicam através de pancadas, ruídos e perturbações, objetivando chamar a atenção para alguma necessidade que apresentam, e que a melhor maneira de atende-los, é através da prece, e também buscando a orientação de uma casa espírita, onde todos os envolvidos podem ser adequadamente esclarecidos e atendidos.

LANÇAMENTO DE OBJETOS 

As manifestações espontâneas nem sempre se limitam a ruídos e batidas. Degeneram, às vezes, em verdadeira barulheira e em perturbações. Móveis e objetos diversos são revirados, projéteis são atirados de fora para dentro, portas e janelas são abertas e fechadas por mãos invisíveis, vidraças são quebradas, o que não se pode levar à conta da ilusão. 

Toda essa desordem é muitas vezes real, mas algumas vezes é apenas aparente. Ouve-se gritarias num cômodo ao lado, barulho de louça que cai e se quebra. Corre-se para ver e encontra-se tudo calmo e em ordem. Mal sai do local, recomeça o tumulto.

Essas manifestações não são raras nem novas. É comum se ouvir histórias desta natureza. O medo tem exagerado muitos fatos que, passando de boca em boca, assumiram proporções gigantescamente ridículas. Com o auxílio da superstição, as casas onde eles ocorrem foram tidas como assombradas pelo diabo e daí todos os maravilhosos ou terríveis contos de fantasmas. Compreende-se ainda a impressão que fatos desta espécie, mesmo reduzidos à realidade, podem produzir em pessoas de caracteres fracos e predispostas, pela educação, a alimentar idéias supersticiosas. O meio mais seguro de prevenir os inconvenientes que possam acarretar, pois não se pode impedi-los, consiste em tornar conhecida a verdade. As coisas mais simples se tornam assustadoras quando ignoramos as causas. Ninguém mais terá medo dos Espíritos, quando todos estiverem familiarizados com eles. 

Na Revista Espírita se encontram narrados muitos fatos autênticos deste gênero, entre outros a história do Espírito batedor de Bergzabern, cuja ação durou oito anos (números de maio, junho e julho de 1858); o de Dibbelsdorf (agosto de 1858); o do Padeiro das Grandes Vendas, perto de Dieppe (março de 1860); o da Rua Des Noyers, em Paris (agosto de 1860); o do Espírito de Castelnaudary, sob o título de História de um Danado (fevereiro de 1860); o do fabricante de São Petersburgo (abril de 1860) e muitas outras.

Essas manifestações frequentemente assumem o caráter de verdadeira perseguição. Muitas pessoas têm suas roupas esparramadas e às vezes rasgadas, apesar da precaução que tomam , guardando-as à chave; outras vezes, pessoas estão deitadas, mas perfeitamente acordadas, e vêem sacudir as cortinas, arrancarem-lhes violentamente as cobertas e os travesseiros, que são erguidos no ar e até mesmo atiradas fora do leito. Esses fatos são mais freqüentes do que se pensa, mas a maioria das vítimas não os contam por medo do ridículo. Muitos que vivem essas experiências,consideradas alucinações, são submetidos ao tratamento dos alienados,o que pode leva-las realmente à loucura. Os casos de obsessão, de possessão e de simples perturbação por Espíritos, quando tratados como loucura, geralmente se agravam, porém, quando recebem tratamento espírita, são passíveis de cura.

É possível também que alguns casos sejam obra da malícia ou da malvadez. Porém, se tudo bem averiguado, ficar provado que não resultam da ação do homem, temos de convir que são, para uns, obra do diabo, e para nós, dos Espíritos. Mas de que Espíritos?

Os Espíritos superiores, como os homens sérios entre nós, não gostam de fazer travessura. Quando interpelados sobre o motivo de perturbarem assim a tranqüilidade dos outros, a maioria quer apenas se divertir. São antes levianos do que maus. Riem dos sustos que causam e do trabalho que dão para se descobrir a causa do tumulto. Muitas vezes apegam-se a uma pessoa e se divertem a incomodá-la por toda parte. De outras vezes se apegam a um lugar por simples capricho. Algumas vezes, também, se trata de uma vingança. Em alguns casos, a intenção é mais louvável: procuram chamar a atenção e estabelecer comunicação, seja para transmitir um aviso útil, seja para fazer um pedido. Muitos pedem preces; outros que solicitam o cumprimento, em nome deles, de votos que não puderam realizar, e outros quererem, para o seu próprio sossego, reparar uma maldade praticada em vida. Em geral, pode ser um erro amedrontar-se com sua presença, que pode ser importuna, mas não perigosa.

É natural querer livrar-se deles, mas é necessário faze-lo da maneira mais eficaz, que é não se intimidar perante suas ações, até que desistam. Caso estejam agindo por motivo menos frívolo, será necessário identificar suas necessidades, e aqui novamente recomendamos o auxílio de uma casa espírita bem estrutura , onde poderão ser atendidos e esclarecidos em suas necessidades. Através das preces podemos ajuda-los sempre, porém, as solenidades das fórmulas de exorcismo não os intimida, e sim os divertem. Se for possível entrar em comunicação com eles, recomenda-se prudência e bom senso para avaliar a essência de suas mensagens, pois muitas vezes querem se divertir com a credulidade dos ouvintes.

Nos capítulos IX e XXIII, referentes aos lugares assombrados e às obsessões, Allan Kardec trata com pormenores este assunto e as causas da ineficácia das preces em muitos casos.

Embora produzidos por Espíritos bastante imperfeitos, esses fenômenos são freqüentemente provocados por Espíritos de ordem mais elevada, com o objetivo de demonstrar a existência dos seres incorpóreos, dotados de poderes superiores aos dos encarnados. A repercussão que alcançam e o medo que provocam, despertam a atenção para esse assunto e acabam por abrir os olhos dos mais incrédulos.

O desconhecimento do assunto e a negação sistemática da existência dos espíritos, são responsáveis por gerar superstições, criar neuroses e perturbações mentais, agravando o preconceito cultural contra a realidade do Espírito. A divulgação da Doutrina Espírita, através da prática que decorre dos estudos vivenciados, é a única maneira possível de evitar todos esses inconvenientes, familiarizando os homens com esse aspecto inegável das leis divinas: o mundo espiritual existe e os Espíritos estão entre nós.

O FENÔMENO DE TRANSPORTE 

As manifestações físicas têm por fim chamar a nossa atenção para alguma coisa e convencer-nos da presença de um poder superior ao do homem. Ao estudarmos os Fenômenos de Transporte constatamos que se diferenciam dos fenômenos de lançamento de objetos devido à intenção benévola do Espírito que o produz, pela natureza dos objetos quase sempre graciosos e pela maneira suave e quase sempre delicada, porque são transportados. Consiste no transporte espontâneo de objetos que não existem no lugar da reunião. Trata-se geralmente de flores, algumas vezes de frutos, de confeitos, de jóias, etc.

Fenômeno de transporte

Analisando estes fenômenos, Allan Kardec identificou neles a maior possibilidade de imitação e necessidade de prevenção contra o embuste. Sabe-se até onde pode ir a arte da prestidigitação, em se tratando de experiências deste gênero. Porém, mesmo sem que tenhamos de enfrentar um verdadeiro prestidigitador, poderemos ser facilmente enganados por uma manobra hábil e interessada. A melhor de todas as garantias se encontra no caráter, na honestidade notória, no absoluto desinteresse das pessoas que obtêm tais efeitos. Vem depois, como meio de resguardo, o exame atento de todas as circunstâncias em que os fatos se produzem. Por fim, no conhecimento esclarecido do Espiritismo, único meio de se descobrir o que há de suspeito.

A teoria do fenômeno dos transportes e das manifestações físicas em geral se acha resumida, de maneira notável, na seguinte dissertação feita por um Espírito, cujas comunicações todas trazem o cunho incontestável de profundeza e lógica. Com muitas delas deparará o leitor no curso desta obra. Ele se dá a conhecer pelo nome de Erasto, discípulo de São Paulo, e como protetor do médium que lhe serviu de instrumento:

"Quem deseja obter fenômeno desta ordem precisa dispor de médiuns a que chamarei de sensitivos, isto é, dotados, no mais alto grau de faculdades mediúnicas de expansão e de penetrabilidade. Porque o sistema nervoso desses médiuns, facilmente excitável, por meio de certas vibrações, projeta abundantemente, em torno de si, o fluido animalizado que lhes é próprio.

As naturezas impressionáveis, as pessoas cujos nervos vibram à menor impressão, à mais insignificante sensação que a influência moral ou física, interna ou externa, sensibiliza são muito aptas a se tornarem excelentes médiuns, para os efeitos físicos de tangibilidade e de transportes. Efetivamente, seu sistema nervoso, quase inteiramente desprovido do invólucro refratário que isola esse sistema na maioria dos encarnados, torna-as apropriadas para a produção desses diversos fenômenos. Assim, com um indivíduo de tal natureza e cujas outras faculdades não sejam hostis à mediunização, mais facilmente se obterão os fenômenos de tangibilidade, as pancadas nas paredes e nos móveis, os movimentos inteligentes e mesmo a suspensão, no espaço, da mais pesada matéria inerte. Com maior razão, os mesmos resultados serão obtidos se, em vez de um médium, se dispuser de numerosos e igualmente bem dotados.

Mas, da produção de tais fenômenos à obtenção dos de transporte há todo um abismo, porque, neste caso, não só o trabalho do Espírito é mais complexo, mais difícil, como, sobretudo, ele não pode operar, senão por meio de um único aparelho mediúnico, isto é, muitos médiuns não podem concorrer simultaneamente para a produção do mesmo fenômeno. Acontece mesmo, ao contrário, que a presença de algumas pessoas antipáticas ao Espírito que opera, obstam radicalmente sua ação. A esses motivos que, como se vê, são importantes, acrescentemos que os transportes exigem sempre maior concentração e ao mesmo tempo maior difusão de certos fluidos, que só podem ser obtidos com médiuns muito bem dotados, médiuns, numa palavra, cujo aparelho eletro-medianímico seja bem condicionado.

Em geral, os fatos de transporte são e continuarão a ser extremamente raros. Não preciso demonstrar, porque são e serão menos freqüentes que os demais fenômenos de tangibilidade; do que ficou dito, podeis deduzi-lo. Aliás, estes fenômenos são de tal natureza que, além de nem todos os médiuns servirem para produzi-los, nem todos os Espíritos podem também realiza-los. É necessário que exista entre o Espírito e o médium uma certa afinidade, uma certa analogia, numa palavra, uma determinada semelhança capaz de permitir que a parte expansível do fluido perispirítico (1) do encarnado se misture, se una, se combine com o do Espírito que deseja fazer o transporte. Essa fusão deve ser de tal maneira que a força dela resultante se torne, por assim dizer, una: do mesmo modo que uma corrente elétrica, atuando sobre o carvão, produz um só foco, uma só claridade. Por que essa união, essa fusão, perguntareis? É que, para que estes fenômenos se produzam, necessário se faz que as propriedades essenciais do Espírito agente sejam aumentadas com algumas das propriedades do médium; é que o fluido vital, indispensável à produção de todos os fenômenos mediúnicos, sendo apanágio exclusivo do encarnado, deve obrigatoriamente impregnar o Espírito agente. Só então ele pode, mediante certas propriedades, que desconheceis, do vosso meio ambiente, isolar, tornar invisíveis e movimentar alguns objetos materiais e mesmo os encarnados. 

Não me é permitido, por enquanto, desvendar-vos as leis particulares que regem os gases e os fluidos que vos envolvem. Mas, antes que alguns anos tenham decorrido, antes que uma existência de homem seja concluída, a explicação dessas leis e desses fenômenos vos será revelada e vereis surgir e desenvolver-se uma variedade nova de médiuns, que agirão num estado cataléptico particular ao serem mediunizados.

Vedes, assim, quantas dificuldades cercam a produção do fenômeno dos transportes. Podeis, logicamente, concluir que os fenômenos desta natureza são extremamente raros, como já disse, e com mais razão que os Espíritos se prestam muito pouco a produzi-los, porque isso exige de sua parte um trabalho quase material, que lhes causa aborrecimento e fadiga. Por outro lado, ocorre também que freqüentemente, não obstante sua energia e vontade, o estado do próprio médium lhes opõe intransponível barreira.

É portanto evidente, e não tenho dúvida de que o aceitais, que os fenômenos sensíveis de golpes, movimentos e levitação são de natureza simples, realizando-se pela concentração e a dilatação de certos fluidos, e podem ser provocados e obtidos pela vontade e o trabalho de médiuns aptos, quando secundados por Espíritos amigos e benevolentes, enquanto os fenômenos de transporte são múltiplos, complexos, exigem a existência de condições especiais. Esses fenômenos só podem ser realizados por um só Espírito e um único médium e necessitam, além dos recursos para a produção de tangibilidade, uma combinação muito especial para isolar e tornar invisível o objeto ou os objetos a serem transportados. Todos vós, espíritas, compreendeis as minhas explicações e percebeis perfeitamente o que seja essa concentração de fluidos especiais para produzir a mobilidade e a tactilidade da matéria inerte. Acreditais nisso, como acreditais nos fenômenos da eletricidade e do magnetismo, tão análogos aos mediúnicos, que são, por assim dizer, a confirmação e o desenvolvimento daqueles. Quanto aos incrédulos e aos sábios, piores estes do que aqueles, não me compete convencê-los e nem me interessam. Serão convencidos um dia pela evidência dos fatos, porque terão que se curvar ante o testemunho dos fenômenos espíritas, como já tiveram que fazer em relação a outros fenômenos que a princípio rejeitaram.

Resumindo: os fenômenos de tangibilidade são freqüentes, mas os de transporte são muito raros, porque as condições em que se produzem bastante difíceis. Em consequência, nenhum médium pode dizer: Em tal hora ou em tal momento, obterei um transporte, porque muitas vezes o próprio Espírito se encontra impedido de fazê-lo. Devo acrescentar que esses fenômenos são duplamente difíceis em público, porque quase sempre, entre este, se encontram elementos energicamente refratários, que paralisam os esforços do Espírito e, com mais forte razão, a ação do médium.

Sabeis que, ao contrário, esses fenômenos quase sempre se produzem espontaneamente na s reuniões particulares, no mais das vezes à revelia dos médiuns e sem que se espere, dando-se muito raramente, quando aqueles estão prevenidos. Deveis deduzir daí que há motivo legítimo de suspeita todas as vezes que um médium se vangloria de obtê-los à vontade, ou de dar ordens aos Espíritos como se fossem seus empregados, o que é simplesmente absurdo. Tende ainda por regra que os fenômenos espíritas não servem para espetáculos e para divertir os curiosos. Se alguns Espíritos se prestarem a isso, só pode ser para a produção de fenômenos simples e não dos que, como o transporte, exigem condições excepcionais.

Lembrai-vos, espíritas, que é absurdo repelir sistematicamente todos os fenômenos de além túmulo, também não é prudente aceitá-los a todos de olhos fechados. Quando um fenômeno de tangibilidade, de aparição, ou de transporte se verifica espontaneamente e de improviso, aceita-o. Porém, nunca será demasiado repetir: não aceiteis nada cegamente. Seja cada fato submetido a um exame minucioso, aprofundado e severo, porquanto, crede, o Espiritismo, tão rico de fenômenos sublimes e grandiosos, nada tem a ganhar com essas insignificantes manifestações que prestidigitadores hábeis podem imitar.

Bem sei o que me ireis dizer: que esses fenômenos são úteis para convencer os incrédulos. Mas sabei que, se não tivésseis outros meios de convicção, não teríeis hoje a centésima parte dos espíritas que existem. Falai aos corações: é esse o caminho da maioria das conversões sérias. Se achais conveniente para certas pessoas utilizar-vos dos fenômenos materiais, ao menos apresentai-os de tal maneira que não possam dar motivo a falsas interpretações. E, sobretudo, observai as condições normais desses fenômenos, porque, apresentados de maneira imprópria eles servem de argumentos para os incrédulos, em vez de convencê-los. ERASTO."

(1) Vemos que, quando se trata de exprimir uma idéia nova, para a qual faltam termos na língua, os Espíritos sabem perfeitamente criar neologismos. Estas palavras: eletro-mediúnico, perispirítico, não são de invenção nossa. Os que nos tem criticado por havermos criado os termos espírita, espiritismo, perispírito, que não tinham termos análogos, poderão fazer também a mesma crítica aos Espíritos. (Nota de Kardec)

VESTUÁRIO DOS ESPÍRITOS - FORMAÇÃO ESPONTÂNEA DE OBJETOS TANGÍVEIS - MODIFICAÇÃO DAS PROPRIEDADES DA MATÉRIA 

Item 126 a 131

Os Espíritos se apresentam vestidos de túnicas, envoltos em panos flutuantes ou mesmo com os trajes que usavam quando encarnados. O uso de panos flutuantes parece costume geral no mundo dos Espíritos. Mas, onde irão eles buscar vestuários semelhantes em tudo aos que usavam em vida, com todos os acessórios que os completavam? É evidente que não levaram esses objetos com eles, pois que ainda se encontram conosco. De onde provêm, então, os que eles usam no outro mundo? Esta questão deu sempre muito que pensar. Para muitas pessoas, porém, era simples motivo de curiosidade. A ocorrência, todavia, confirmava uma questão de princípio, de grande importância, porquanto sua solução fez entrever uma lei geral, que também encontra aplicação no nosso mundo corpóreo. Múltiplos fatos a vieram complicar e demonstrar a insuficiência das teorias com que tentaram explicá-la. 

Essas questões fizerem parte das reflexões de Allan Kardec. Pensava que se poderia compreender a existência do traje como, de alguma maneira, fazendo parte do indivíduo; o mesmo, porém, não se dava com os objetos acessórios, qual, por exemplo, a tabaqueira do visitante da senhora doente, citada no item 116 de O Livro dos Médiuns. Relembremos que ali não se tratava de um desencarnado, mas de um encarnado, e que tal senhor, quando se apresentou pessoalmente, trazia na mão uma tabaqueira semelhante em tudo à da sua aparição. Onde encontrara a tabaqueira que tinha consigo, quando sentado junto ao leito da doente? Poderíamos citar grande número de casos em que Espíritos, de mortos ou de vivos, apareceram com diversos objetos, tais como bengalas, armas, cachimbos, lanternas, livros, etc.

A Allan Kardec apresentou-se então uma idéia: a de que os corpos inertes poderiam possuir correspondentes etéreos no mundo invisível, que a matéria condensada, que forma os objetos, poderia ter uma parte quintessenciada, que nos escapa aos sentidos. Não era destituída de verdade esta teoria, mas se mostrava impotente para explicar todos os fatos. Havia um, sobretudo, que parecia desafiar todas as interpretações. Até então, se tratava apenas de imagens ou aparências, e vimos que perispírito pode adquirir as propriedades da matéria e tornar-se tangível, mas essa tangibilidade é apenas momentânea e o corpo sólido se desvanece como sombra. Trata-se de um fenômeno extraordinário, porém, o que o ultrapassa é a produção de matéria sólida persistente, conforme o provam numerosos fatos autênticos, notadamente o da escrita direta, fenômeno esse que analisado levou à solução do caso da tabaqueira. 

Assim explicou o Codificador: A escrita direta ou pneumatografia é a que se produz espontaneamente, sem o concurso das mãos do médium nem do lápis. Basta tomar uma folha de papel em branco, o que se pode fazer com todas as precauções necessárias para se prevenir de qualquer fraude, dobrá-la e depositá-la em qualquer parte, numa gaveta, ou simplesmente sobre um móvel. Se houver condições, dentro de algum tempo, aparecerão traçados no papel letras ou sinais diversos, palavras, frases e até comunicações, na maioria das vezes com uma substância escura, semelhante à grafite, de outras com lápis vermelho, tinta comum e mesmo tinta de impressão.

Eis o fato em sua simplicidade e cuja reprodução, embora pouco comum, não é tão rara, pois há pessoas que a obtêm com grande facilidade. Se ao papel se juntasse um lápis, poderíamos supor que o Espírito se servira deste para escrever, mas, desde que o papel é deixado inteiramente só, é evidente que a escrita foi produzida por uma matéria nele depositada. De onde tirou o Espírito essa matéria? Essa a questão a cuja solução fomos levados pela tabaqueira a que há pouco nos referíamos.

Allan Kardec, então, apresenta a questão ao Espírito São Luís, que apresenta a solução, mediante as respostas seguintes (as notas são de Allan Kardec):

1ª Citamos um caso de aparição do Espírito de uma pessoa viva. Esse Espírito tinha uma tabaqueira da qual tomava pitadas. Experimentava ele a sensação que experimenta um indivíduo que faz o mesmo? 
— Não.
2ª A tabaqueira tinha a mesma forma da que ele usava habitualmente e que se estava em sua casa. O que era essa tabaqueira nas mãos desse homem? 
— Uma aparência. Era para ser notada, como foi e para que não tomassem como alucinação devida ao estado de saúde da vidente. O Espírito queria que a senhora acreditasse na realidade da sua presença e tomou todas as aparências da realidade.
3ª Disseste que era uma aparência, mas uma aparência nada tem de real, é como uma ilusão de ótica. Desejamos saber se aquela tabaqueira era uma imagem irreal ou se havia nela algo de material? 
— Certamente. E com a ajuda desse princípio material que o Espírito aparenta vestir-se com roupas semelhantes aos que usava quando vivo. 

NOTA. É evidente que a palavra aparência deve ser entendida no sentido de aspecto, imitação. A tabaqueira real não estava com o Espírito. A que ele segurava era apenas a sua representação. Era, pois, com relação ao original, uma simples aparência, embora formada de um princípio material. A experiência ensina que nem sempre se deve dar significação literal às expressões usadas pelos Espíritos. Interpretando-as de acordo com as nossas idéias, expomo-nos a grandes equívocos. Daí a necessidade de aprofundar-se o sentido de suas palavras, todas as vezes que apresentem a menor ambigüidade. É esta uma recomendação que os próprios Espíritos constantemente fazem. Sem a explicação que provocamos, o termo aparência, sempre repetido nos casos semelhantes, poderia ser falsamente interpretado.

4ª Seria um desdobramento da matéria inerte? Haveria no mundo invisível uma matéria essencial que revestiria as formas dos objetos que vemos? Numa palavra, esses objetos teriam o seu duplo etéreo no mundo invisível, como os homens são ali representados pelos Espíritos?
— Não é assim que acontece. O Espírito dispõe, sobre os elementos materiais dispersos por todo o espaço da vossa atmosfera, de um poder que estais longe de suspeitar. Pode, pois, concentrar esses elementos pela sua vontade e dar-lhes a forma aparente que convenha às suas intenções.
NOTA. Esta pergunta, como se pode ver, era a tradução do nosso pensamento, isto é, da idéia que formávamos da natureza de tais objetos. Se as respostas fossem, como pretendem alguns, o reflexo do pensamento do interpelante, teríamos obtido a confirmação da nossa teoria, em vez de teoria contrária.
5ª Formulo novamente a questão, de modo categórico, a fim de evitar todo e qualquer equívoco: As roupas dos Espíritos são alguma coisa?
— Parece-me que a resposta precedente resolve a questão. Não sabes que o próprio perispírito é alguma coisa?
6ª Resulta desta explicação que os Espíritos submetem a matéria etérea às transformações que desejam, e que, por exemplo, no caso da tabaqueira o Espírito não a encontrou feita, mas ele mesmo a produziu, quando dela necessitou por um ato da sua vontade e da mesma maneira a desfez. É isso mesmo que se dá com todos os outros objetos, como as roupas, as jóias, etc?
— Mas, é evidente.
7ª Essa tabaqueira foi vista pela senhora como se fosse real. O Espírito poderia torná-la tangível para ela? 
— Poderia.
8ª Se fosse o caso, a senhora poderia pegá-la, acreditando ter nas mãos uma tabaqueira real?
— Sim.
9ª Se a abrisse, encontraria tabaco e, se o tomasse espirraria?
— Sem dúvida.
10ª Pode então o Espírito dar a um objeto, não só a forma, mas também suas propriedades especiais? 
— Se o quiser. Baseado neste princípio foi que respondi afirmativamente às perguntas anteriores. Tereis provas da poderosa ação que os Espíritos exercem sobre a matéria, ação que estais longe de supor, como eu disse há pouco.
11ª Suponhamos, então, que quisesse fazer uma substância venenosa. Se uma pessoa a ingerisse, ficaria envenenada? 
— O Espírito poderia fazê-la, mas não a faria porque isso não lhe é permitido.
12ª Poderia fazer uma substância salutar e própria para curar uma enfermidade, e isso já aconteceu?
— Sim, muitas vezes.
13ª Então, poderia também fazer uma substância alimentar? Suponhamos que tenha feito uma fruta, uma iguaria qualquer: se alguém pudesse comer a fruta ou a iguaria, ficaria saciado?
— Ficaria, sim. Mas, não procures tanto para achar o que é tão fácil de compreender. Um raio de sol basta para tornar perceptíveis aos vossos órgãos grosseiros essas partículas materiais que enchem o espaço onde viveis. Não sabes que o ar contém vapores de água? Condensa-os e os farás voltar ao estado normal. Priva-as de calor e eis que essas moléculas impalpáveis e invisíveis se tornarão um corpo sólido e bem sólido, e, assim, muitas outras substâncias de que os químicos tirarão maravilhas ainda mais espantosas. Simplesmente, o Espírito dispõe de instrumentos mais perfeitos do que os vossos: a vontade e a permissão de Deus. 

NOTA. A questão da saciedade é aqui muito importante. Como pode produzir a saciedade uma substância cuja existência e propriedades são meramente temporárias e, de certo modo, convencionais? O que se dá é que essa substância, pelo seu contato com o estômago, produz a sensação da saciedade, mas não a saciedade que resulta da plenitude. Desde que uma substância dessa natureza pode atuar sobre a economia orgânica e modificar um estado mórbido, também pode, perfeitamente, atuar sobre o estômago e produzir a impressão da saciedade. Rogamos, todavia, aos senhores farmacêuticos e donos de restaurante que não se encham de zelos, nem creiam que os Espíritos lhes venham fazer concorrência. Esses casos são raros, excepcionais e nunca dependem da vontade de alguém, pois do contrário todos se alimentariam e curariam de maneira muito vantajosa.

14ª Os objetos que a vontade do Espírito tornou tangíveis poderiam permanecer nesse estado e ser usados? 
— Isso poderia acontecer, mas isso não se faz porque é contrário às leis.
15ª Todos os Espíritos têm no mesmo grau o poder de produzir objetos tangíveis? 
— É fora de dúvida que quanto mais elevado é o Espírito, tanto mais facilmente o consegue, mas isso também depende das circunstâncias: Os Espíritos inferiores podem ter esse poder.
16ª Os Espíritos têm sempre consciência da maneira pela qual produz as suas roupas ou os objetos que torna aparentes? 
— Não. Muitas vezes ajuda a formá-los por uma ação instintiva, que ele mesmo não compreende, se não estiver suficientemente esclarecido para isso.
17ª Se o Espírito pode extrair do elemento universal os materiais para essas produções, dando a essas coisas uma realidade temporária, com suas propriedades, pode também tirar o necessário para escrever, o que nos daria a explicação do fenômeno da escrita direta? 
— Afinal, chegaste onde queria.

NOTA. Era, com efeito, aí que queríamos chegar com todas as nossas questões preliminares. A resposta prova que o Espírito lera o nosso pensamento.

18ª Se a matéria de que o Espírito se serve não tem persistência, como os traços da escrita-direta não desaparecem?
— Não tires conclusões das palavras. Para começar, eu não disse: jamais. Tratava-se de objeto material volumoso, Nesse caso, são os sinais escritos que é útil conservar e se conservam. O que eu quis dizer é que os objetos assim compostos pelo Espírito não poderiam tornar-se de uso, porque na realidade não possuem a mesma densidade material dos vossos corpos sólidos.

Concluindo, então, pode-se resumir a teoria acima em: o Espírito atua sobre a matéria; da matéria cósmica universal tira os elementos de que necessite para formar, como queira, objetos com a aparência dos diversos corpos existentes na Terra. Pode igualmente, pela ação da sua vontade, operar sobre a matéria elementar uma transformação íntima, que lhe dê certas propriedades. Esta faculdade é inerente à natureza do Espírito, que muitas vezes a exerce de modo instintivo, quando necessário, sem disso se aperceber. Os objetos que o Espírito forma, têm existência temporária, subordinada à sua vontade, ou a uma necessidade que ele experimenta; pode fazê-los e desfazê-los livremente. Em certos casos, esses objetos, aos olhos de pessoas encarnadas, podem apresentar todas as aparências da realidade, isto é, tornarem-se momentaneamente visíveis e até mesmo tangíveis. Trata-se de formação e não de criação, pois o Espírito não pode tirar nada do nada.

Os Espíritos confirmam a existência de uma matéria elementar única que dá origem a todos os corpos da natureza. As suas transformações determinam as diversas propriedades dos corpos. É assim que uma substância salutar pode tornar-se venenosa por uma simples modificação, como a Química nos dá inúmeros exemplos. Mesmo sem alterar as proporções, muitas vezes é suficiente uma simples modificação na forma de agregação molecular para mudar as propriedades, por exemplo, transformando um corpo opaco em transparente, e vice-versa. Desde que o Espírito, através de sua vontade, pode agir tão decisivamente sobre a matéria elementar, compreende-se que possa formar substâncias e até mesmo modificar suas propriedades, usando a própria vontade como reativo. Assim se explica a formação de objetos como resultado da ação dos Espíritos, pelo pensamento e vontade, sobre os fluidos, matéria cósmica universal, dando-lhes a aparência dos diversos corpos da Terra. É essa explicação que Allan Kardec estende à modificação das propriedades da água pela vontade, à faculdade de curar pelo contato e pela imposição das mãos, que algumas pessoas possuem num grau elevado.

Bibliografia: 


O Livro dos Médiuns | Segunda Parte Das Manifestações Espíritas | Capitulo V - Manifestações Físicas Espontâneas 
O Livro dos Médiuns  |  Segunda Parte Das Manifestações Espíritas   |  Capitulo VIII - Laboratório do Mundo Invisível   

Fonte: http://cebatuira.org.br/

sábado, 23 de setembro de 2017

Transfiguração, bilocação e bicorporeidade

1.Transfiguração O primeiro a tratar dos fenômenos de "transfiguração" foi Allan Kardec, no "Livro dos 

Médiuns" (cap. VI, n° 122). Kardec explica que transfiguração "consiste na mudança do aspecto de um corpo vivo". Estas mudanças podem ser mais ou menos completas, segundo o estudo de casos feito por Ernesto Bozzano, publicado no livro "Phenomenos de Transfiguração", cuja tradução foi publicada no Brasil em 1940. As modificações na aparência do corpo físico do médium podem: 

• alterar traços físionômicos; 
• alterar a voz; 
• alterar o peso; 
• alterar a altura; 
• esconder partes do corpo. 

2. A transfiguração nada mais é que uma fase inicial da materialização Ernesto Bozzano dedicou uma vasta pesquisa no estudo sobre esta mediunidade de efeitos físicos (Transfiguração) através da coleta de casos ocorridos com determinados médiuns em diversos países da América e da Europa. A transfiguração consiste na mudança do aspecto do corpo do médium, o que significa imprimir em sua matéria semelhanças de fisionomia, expressão, olhar e até mesmo timbre de voz, que varia de acordo com o grau moral do espírito e também do médium. 

“Na Transfiguração de Jesus, pureza do perispírito de Jesus permitiu que seu Espírito lhe desse excepcional fulgor”.‖ KARDEC, Allan. A gênese. Cap. 15, item 44 

3. “E eis que lhes apareceram Moisés e Elias, falando com ele. E Pedro, tomando a palavra, disse a Jesus: Senhor, bom é estarmos aqui; se queres, façamos aqui três tabernáculos, um para ti, um para Moisés e um para Elias (Mt17:3-4). – A percepção da presença de Moisés e de Elias, por parte dos apóstolos, pode ser catalogada como vidência mediúnica ou como materialização espiritual, que independe da faculdade de ver Espíritos. O fenômeno foi, entretanto, muito nítido, a ponto de Pedro pedir ao Senhor para construir um tabernáculo ou tenda, citada em outras versões. Fala, pois, mais a favor de uma materialização dos dois emissários do povo hebreu. 

4. “E, estando ele ainda a falar, eis que uma nuvem luminosa os cobriu. E da nuvem saiu uma voz que dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo; escutai-o. E os discípulos, ouvindo isso, caíram sobre seu rosto e tiveram grande medo. E, aproximando-se Jesus, tocou-lhes e disse: Levantai-vos e não tenhais medo. E, erguendo eles os olhos, ninguém viram, senão a Jesus. E, descendo eles do monte, Jesus lhes ordenou, dizendo: A ninguém conteis a visão até que o Filho do Homem seja ressuscitado dos mortos” (Mt17:5-9). – Mais um efeito físico acontece no alto do monte, onde se encontravam reunidos Jesus, três apóstolos e dois Espíritos desencarnados: o fenômeno de voz direta, vinda do interior de uma nuvem luminosa, também materializada. ―A voz que ouviram era um hino de glória, que os Espíritos superiores entoavam em louvor do Mestre.‖ RIGONATTI, Eliseu. O evangelho dos humildes. Cap. 17. 

5. Impressionantes fenômenos de transfiguração Quem narra este caso é o Dr. Ellis Powell, personalidade bastante conhecida no campo das investigações metapsíquicas. Escreve ele: "Há algumas semanas achava-me em Preston, e tive ocasião de entrar em relação com a personalidade mediúnica do "doutor Bancroft", a qual se manifesta por intermédio do médium H. B. Tyler, de Preston, e a forma por que se manifesta é o "transe" do médium, com transfiguração completa do rosto. O doutor Bancroft informou ter sido médico de grande clientela e falecido no ano de 1837. Forneceu detalhes sobre sua própria carreira terrena, os quais foram reconhecidos verdadeiros, compulsando-se publicações médicas do período indicado. Havia quatro pessoas presentes além do médium: minha mulher, minha irmã, minha mãe e eu. Não se fizeram preparativos especiais. Sentamo-nos em semicírculo em torno do médium, sem abaixar as persianas, de modo que o sol dardejava no quarto. 

6. Depois de cerca de dez minutos de uma conversação de ordem geral, o médium deu sinais de passar ao estado de "transe" e com isto assistimos a um fenômeno extraordinário: no espaço de três ou quatro minutos seu rosto se transformou a tal ponto que, se não houvesse assistido por inteiro ao processo de transfiguração, observando-a de perto e em plena luz, não o teria mais reconhecido pelo mesmo indivíduo. Ocorrido isto, o doutor Bancroft beijou as mãos das três senhoras com educada cortesia do século décimo oitavo, e logo depois iniciou o seu trabalho de médico consultado. Tive o cuidado de nada dizer acerca dos sintomas de minha moléstia e da sua presumida natureza, pois que ele próprio descreveria tudo, e com isso me poria em situação de poder julgar se estava ou não plenamente informado a respeito. Tomou-me uma das mãos por alguns instantes, e logo começou a descrever, de modo exatíssimo, extraordinário, os sintomas do meu mal, que me mantinham sob viva preocupação. Depois me dirigiu perguntas, as quais subentendiam conhecimento a meu respeito que ninguém no mundo podia saber. Em seguida, assegurou- me que em mim não existiam moléstias orgânicas, mas que se tratava de uma desordem funcional acentuada, que descreveu em termos de fisiologia. Depois ditou as prescrições. Tal consulta de além-túmulo não foi só grandemente benéfica a minha saúde, mas revelou- se extremamente interessante como exemplo magnífico da capacidade de um "espírito- curador" para diagnosticar e descrever não só o significado preciso dos sintomas de um mal, mas as causas originárias dos próprios sintomas, sem a mínima indicação da parte do consulente...“ Phenomenos de Transfiguração", cuja tradução foi publicada no Brasil em 1940. Ernesto Bozzano. 

7. Licantropia: Licantropia é uma palavra que têm origem num vocábulo grego composto de Lykos (lobo) e tropos (forma). Significa, segundo a crença popular, a transformação de um homem num lobo ou a metamorfose, de que determinados seres humanos se transformavam em lobisomem. Para a ciência ainda não é possível o reconhecimento dessa metamorfose, fisicamente falando. Já para o espiritismo essa mudança ocorre no perispírito.Perispírito : (peri+espírito) Envoltório semi-material correspondente ao corpo astral, intermediário entre o corpo e o espírito, não destrutível pela morte . 

8. Para que se entenda melhor : O homem é um Espírito encarnado, o laço que une a alma e corpo é o perispírito e por fim vem seu corpo material. É no perispírito que as impressões da vida desregrada dos homens ficam marcadas, refletindo aquilo que o Espírito é ou foi. Por isso vemos as pessoas que desencarnaram tal como quando ainda estavam vivas. O que pode ocorrer porém, é a deturpação do perispírito pelo desequilíbrio do ser, normalmente causados pela auto-obsessão ou mesmo por obsessores. Possessão. Diz-nos André Luiz que o Perispírito não retrograda, mas sim se degrada, ou seja, distorce de tamanha forma seus pensamentos que marca, ou registra no perispírito, todo mal que sente. Psiquiatras dizem que normalmente, os licantropos apresentam polifagia – desejo demasiado por alimentos – além de comportamentos esquizofrênicos. Alguns estudos relatam que o sangue pode ter cor amarelada, a pele toma um tom esverdeado e crescem dentes pontiagudos. Uma doença conhecida como Hipertricose, muitas vezes confundida com a licantropia, nada tem a ver com o caso. Essa doença causa o crescimento desordenado e exagerado de pelos no corpo do doente devido há um problema genético. Mas, espiritualmente falando, a degradação ocorre no perispírito, como foi dito anteriormente, pela obsessão, possessão ou subjugação, que acaba por deformá-lo. A Doutrina Espírita vem por assim dizer, desmistificar o mito dos lobisomens e mostrar que, o que foi visto por muitos, é a mudança do corpo perispiritual do homem para a forma animal. Muitos são os videntes desse mundo, a vidência não é obra do espiritismo, já existia antes mesmo de sua codificação e o espírito, mesmo que transformado em animal, desde que queira ser visto, o será. 

9. Esses espíritos desencarnados e animalescos, aproximam-se dos encarnados (desde que o encarnado de vazão aos maus pensamentos) causando a obsessão. A vítima, ligada aos obsessores ficará aprisionada por eles afastando-se de Deus. Semelhante a hipnose, recebem os obsediados (vítimas) em seu campo mental, todas as vibrações negativas dos obsessores, que será refletida em seu perispírito, modificando assim a sua forma humana. Muitos casos já relatados na primeira parte deste artigo, mostraram pessoas encarnadas em estado animalesco, bem como a vidência de espíritos já desencarnados, na mesma forma animal. Muitos são os espíritos que vivem na erraticidade (desencarnados) que devido a fragilidade de seus pensamentos, erram e passam a perturbar-se, mergulhando no arrependimento e na culpa, incapazes de se perdoarem. Os motivos para essas obsessões(possessões) normalmente são a vingança e o ódio, mantido de pelo algoz para com a vítima, com ou sem ligações com vidas pretéritas, mas muitas outras coisas podem agravar essa situação. O uso de drogas por exemplo. São contudo, raros os casos de Licantropia desde que o homem, ao poucos, vem reavivando a visão sublime do amor de Deus. Hermínio Miranda, no livro Diálogo com as sombras, relata um caso de zoantropia em que um espírito, recebe como que por hipnose no campo mental, a sugestão da metamorfose, essa sugestão modifica seu corpo perispiritual, fazendo-o parecer-se com um animal. Para saber mais leia: Nas Fronteiras da Loucura – Manoel Philomeno Nos Domínios da Mediunidade e Libertação - André Luiz. 

10. CONCEITO DE ZOANTROPIA , LICANTROPIA, CINANTROPIA - A palavra Zoantropia tem origem do latim (zoo= animal e anthropos= homem) e é o fenômeno em que espíritos desencarnados devotados ao mal se tornam visíveis aos homens sob formas de animais, demonstrando assim sua degradação tanto moral, quanto espiritual. Esse processo de transformação também pode se dar através de uma metamorfose perispirítica, processada através de uma indução hipnótica, em que o desencarnado inferiorizado em suas culpas, ganha a forma animalesca. Uma das espécies de Zoantropia é a Licantropia e a Cinantropia que serão tratadas abaixo. Licantropia tem origem do vocábulo grego lykanthropía composto por Lykos (lobo) e tropos (forma), o que significa de acordo com o livro Estudando a Mediunidade de Martins Peralva “é o fenômeno pelo qual espíritos, pervertidos no crime, atuam sobre antigos comparsas, encarnados ou desencarnados, fazendo-os assumir atitudes idênticas às de certos animais.” No caso da licantropia o animal seria um lobo e a pessoa que sofre esse processo é chamada de Licantropo, que é uma palavra que tem origem do vocábulo grego lykaánthropos que significa: “ 1. Alienado que sofre de licantropia.. 2. Por extensão, Lobisomen.” É um caso de fascinação em que uma ilusão é produzida pela ação do Espírito sobre o pensamento do médium fazendo o acreditar em coisas absurdas e colocando-o em situações constrangedoras. De acordo com o artigo da Revista Cristã de Espiritismo, n° 35, onde o autor aborda a questão da Zoantropia, ele afirma que se trata de um caso de Subjugação, que de acordo com o Livro dos Médiuns (Capítulo XXIII) se trata de “uma constrição que paralisa a vontade daquele que a sofre e o faz agir a seu mau grado” o que não deixa de ser parecido com a fascinação. A licantropia pode ser agressiva ou deformante. No primeiro caso, a licantropia se expressa através da violência, da alucinação e pode chegar ao crime. Já o segundo é um caso extremo onde a pessoa imita os costumes, atitudes e posições de vários animais. 

11. A cinantropia é uma espécie da zoantropia onde o fenômeno em questão é igual a da Licantropia, mas o animal em que a pessoa se transforma é semelhante a um cachorro. Não constam muitos dados na literatura sobre o assunto.


Bilocação

1. Diferença entre Bilocação e Bicorporeidade: Allan Kardec, em “O Livro dos Médiuns” trata do assunto, detendo-se na bicorporeidade, não se refere à bilocação por dar a entender que se trata do mesmo fenômeno visto de outro ângulo. 

Bilocação: Estar em dois lugares diversos ao mesmo tempo. 
Bicorporeidade: Aparecer com dois corpos em dois lugares distantes. 

O perispírito por sua organização de flexibilidade , expansibilidade, tangibilidade, penetrabilidade, aparição e emacipação da alma fornece inúmeras condições de ação ao Espírito, mesmo quando encarnado, sendo o propulsor de toda e qualquer ação é o Espírito. Para que essas propriedades se tornem evidentes, necessário se atender às leis dos fluidos, no que tange as suas condições de afinidade, quantidade necessária e qualidade dos fluidos; além do conhecimento e a elevação moral do Espírito que manuseia tais fluidos. 

2. Bicorporeidade: É o fenômeno pelo qual um indivíduo, vivo, pode manter sua presença de forma tangível em dois lugares diferentes, ao mesmo tempo. O fenômeno ocorre com a materialização de seu Perispírito exteriorizado, mantendo uma forma tangível aparente, enquanto o corpo carnal permanece em outro local, em estado anormal, isto é, em transe, ainda que simples. Findo o fenômeno, o Espírito retoma seu corpo adormecido e desperta normalmente. 

A bicorporeidade, como o próprio nome o conceitua, não admite uma terceira presença, porque os encarnados possuem dois corpos, o físico e o espiritual, mantendo-se cada um, face às circunstâncias, com as seguintes características: Corpo Físico - presença real - com a vida orgânica; Corpo Espiritual- presença aparente - com a vida do Espírito. Sendo o Espírito indivisível (LE, perg. 92), somente um corpo pode ter vida ativa e inteligente, e é o corpo carnal. Kardec menciona não conhecer exemplo em que os dois corpos gozassem, ao mesmo tempo e no mesmo grau, de uma vida ativa e inteligente, pois o que anima a matéria é o Espírito, e este é indivisível. 

3. Não Há Perigo De Morte Na Bicorporeidade No fenômeno da bicorporeidade não há perigo de morte para o homem, porquanto seu Espírito, ao afastar-se, lê pensamentos e prevê situações que podem acontecer, dado que fica ligado ao corpo físico pelo cordão fluídico que mantém o controle de comunicação da mente para o corpo, e do corpo para a mente. Se algo acontecer ao corpo físico, o Espírito pode voltar imediatamente. Pode-se dizer, ainda, que o corpo aparente, embora materializado, é um corpo fluídico e não-orgânico, não podendo ser morto. Epes Sargent, em seu livro "Bases Científicas do Espiritismo", cap. VI, mostra a ocorrência de materialização de uma mão, que sofre o atentado a faca, sem consequências maiores para o médium, salvo a sensação dolorosa que durou por algumas horas, além da desagradável sensação da penetração da lâmina em seus músculos, nos tendões. 

4. Casos de Bicorporeidade e Bilocação 

Eurípedes Barsanulfo: Notável médium que viveu em Sacramento – MG, dotado de moral irrepreensível, por várias vezes se fez notar no fenômeno da bicorporeidade. Encontramos alguns relatos bastante interessantes, principalmente por terem sido presenciados por testemunhos nem sempre afeitos à Doutrina dos Espíritos. Eurípedes era professor, sendo o fundador do Colégio Allan Kardec em Sacramento (o primeiro colégio espírita em todo o mundo). Era médium dotado de variados tipos de mediunidade, destacando-se a mediunidade de cura e o receituário mediúnico. Muitas vezes entrava em transe durante uma aula e se prestava a socorrer necessitados através da bicorporeidade; certa vez, após um transe, dirige-se aos alunos e diz: - Prestem atenção. Acabo de fazer um parto difícil, numa residência atrás da Igreja do Rosário. O marido não sabe que a criança já nasceu e está a caminho daqui, para solicitar ajuda. Quando ele entrar na sala os senhores devem ficar de pé para o cumprimentarem. E o homem entrou logo em seguida, muito aflito, de roupa de montaria e chapéu, pedindo a Eurípedes que fosse até a sua residência, com urgência fazer o parto pois sua mulher estava muito mal e a parteira não estava conseguindo resolver o caso. - Acalme-se, respondeu o médium sorrindo, já fiz o parto há 5 minutos atrás... - Não é possível disse o homem, há 5 minutos eu o teria visto no caminho. - O senhor não me viu porque eu fui em Espírito, mas eu vi o senhor, respondeu Eurípedes, e pode voltar para sua casa sossegado, a menina que nasceu é linda e forte. O homem porém duvidou e só saiu dali com Eurípedes junto. Chegando a casa se deparou com a esposa que segurava no leito a filhinha. A parturiente ao ver o médium exclamou: - O senhor não precisava vir de novo seu Eurípedes, eu e o bebê estamos passando muito bem! Em várias outras ocasiões este médium pôde ser visto simultaneamente em dois lugares. 

SANTO ANTÔNIO DE PÁDUA: Estando Antônio em Pádua, teve uma visão. (...) Na sua cidade natal, Lisboa, viviam ainda os seus parentes: o pai, a mãe, os irmãos e as irmãs, que se encontravam implicados num caso de homicídio cometido por outros. Havia naquela cidade dois indivíduos que se odiavam mortalmente. Um deles, encontrando-se certa noite com o filho do rival, decidiu vingar-se nele e, favorecido pela escuridão, surpreendeu-o, arrastou-o à sua própria casa e ali trucidou-o barbaramente. Depois sepultou o corpo no jardim da casa dos parentes de Antônio. (...) Sabendo que o jovem fora, naquela noite, visto nas propriedades do palácio de Martinho, deram busca pelos arredores e pela propriedade toda. Guiando-se pela terra removida de fresco, chegaram ao cadáver cheio de ferimentos. Bastou esse indício para que as suspeitas do homicídio caíssem sobre Martinho, que foi preso com toda a família, segundo o costume da época. Aproxima-se o dia da sentença, que teria sido uma sentença de condenação, se Antônio não tivesse vindo em auxílio dos seus. Certa noite, ele pediu licença ao superior para sair do convento, e se pôs a caminho de Lisboa. Lá chegou prodigiosamente na manhã seguinte quando não seriam suficientes três meses para percorrer a distância entre Pádua e Lisboa. Chegando à sua terra natal, apresentou-se ao tribunal para pedir a liberdade de sua família. Como era natural, não foi atendido, visto serem por demais graves os indícios acumulados contra ela. Antônio pediu, então, que lhe trouxessem o cadáver da vítima. Ao vê-lo, ordenou-lhe, em nome de Cristo, que voltasse momentaneamente à vida para indicar o seu assassino. O corpo animou-se, confessou abertamente que nenhum membro da família de Antônio era culpado da sua morte e depois caiu novamente no seu sono de morte. A novidade do milagre e a solene declaração de tal testemunha foram suficientes para libertar a família de Antônio, com a qual ele passou aquele dia. Despediu-se ao cair da noite e, no dia seguinte encontrava-se novamente no seu convento em Pádua. 

SANTO AFONSO DE LIGUORI: Em Arienzo, na manhã de 21 de setembro de 1774 depois de haver celebrado missa, atirou- se num sofá, entrou em transe profundo, desdobrou-se e materializou-se onde se encontrava o Papa Clemente XIV e assiste ao seu desencarne. Em 22 de setembro, às 7 horas da manhã, no momento mesmo em que Afonso recuperava os sentidos, chegou a notícia da morte do Papa em Roma. 

SÃO FRANCISCO DE ASSIS: Um ex-leproso não é aceito em sua casa. Ora e pede socorro a Frei Francisco. Nesse instante, Francisco balbucia uma breve oração e entra em transe profundo. Os frades estavam se familiarizando com esses momentos da vida do Apóstolo e entraram em profunda concentração. Francisco desdobra-se, vai àquela casa e se materializa a todos os que ali se encontram causando grande admiração porque era noite e a casa era distante de onde moravam os frades. - Mulher, porque relutas em receber de volta teu marido?... - Frei Francisco! exclamou a mulher, tuas palavras são como ordens de Deus! Abraça o marido e lhe pede perdão. A seguir, encaminha-se para Francisco e, quando tenta abraça-lo, ele não está mais na sala. 

Frei Galvão: Franciscano Antonio de Sant’Anna Galvão, nasceu em Guaratinguetá, São Paulo, em 1739 e morreu aos 84 anos, no Mosteiro da Luz. Aparecia em dois lugares ao mesmo tempo, levitava e tinha premonições. Em 1810, frei Galvão apareceu para um capataz que fora apunhalado por um escravo. Mas, nesse mesmo tempo, o frei interrompeu uma missa para que todos orassem por um cristão que agonizava longe dali. 


5. Conclusão O desdobramento corresponde ao estado de emancipação completa da alma. O espírito encarnado, revestido dos seus envoltórios, projeta-se para o exterior do corpo somático, do qual se separa formando uma cópia ou duplo. Porém, o desdobramento ou projeção da consciência contribui sobremaneira, para que o homem se conscientize da realidade do Plano espiritual e se veja como um ser imortal, filho de Deus que é Amor, um cidadão do Universo, em busca da perfeição, iluminado pelas estrelas incomensuráveis do Pai.

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Da pneumatografia e da pneumatofonia

PNEUMATOGRAFIA (do gr. pneuma, ar, sopro, vento, espírito, e grafo, eu escrevo) – escrita direta dos Espíritos sem auxílio da mão do médium (v. Psicografia). (1)

A Pneumatografia é a escrita produzida diretamente pelo Espírito, sem nenhum intermediário. Difere da psicografia porque nesta o médium é intérprete do Espírito que se comunica e usa a mão como instrumento para a transmissão do pensamento do Espírito.

Um dos exemplos de pneumatografia mais utilizados pela indústria cinematográfica, principalmente em filmes de terror, é a escrita no espelho embaçado conforme foto abaixo:


A escrita direta é um fenômeno dos mais extraordinários. É um fato averiguado e incontestável. Um dos mais impressionantes até agora apresentados, mas não há nada de sobrenatural quando compreendemos o princípio em que ele se funda.

O sentimento mais dominante quando este fenômeno acontece é o da desconfiança. Dá a idéia de trapaça, pois, pode haver um abuso da credulidade, e não se pode afirmar que isso jamais tenha sido praticado por pessoas com interesses mercenários ou por amor próprio para impor a crença nos seus poderes a fim de conseguirem vantagens pessoais. Existem as tintas chamadas simpáticas, em que os traços invisíveis aparecem após algum tempo depois da escrita. Por isso há possibilidades de fraudes. Todavia, esta descrença desaparece assim que se passa a conhecer as pessoas do circulo e o próprio fenômeno. Mas se é possível imitar esse fenômeno é absurdo concluir que ele não exista. Pode-se admitir a sua própria ilusão, mas um fato pode responder decisivamente quando da obtenção do mesmo fenômeno por outras pessoas e o de tomarem todas as precauções necessárias para evitar qualquer tipo de trapaça ou motivo de engano.(2)

O fato de escrever sem intermediário é um dos atributos dos Espíritos, e se produziram em todos os tempos. Um exemplo é na aparição das três palavras no festim de Baltazar.(3)

Qualquer que tenham sido os resultados obtidos em épocas anteriores, foi somente depois da vulgarização das manifestações espíritas que se tomou a sério o problema da escrita direta. Em Paris, parece que foi o Barão de Guldenstubbe (4), que ao publicar uma obra com grande número de fascículos de escritas obtidas, tornou esse fenômeno conhecido. Inclusive, esse fenômeno já era conhecido na América.

Obtém-se a escrita direta, como em geral a maior parte das manifestações espíritas não espontâneas, através do recolhimento, da prece e da evocação. Muitas vezes foi obtida nas igrejas, sobre os túmulos, junto a estátuas e imagens de personagens evocadas. Mas se é evidente que o local influi e favorece o recolhimento e a maior concentração mental, também, está provado que essa manifestação pode ser obtida igualmente sem esses acessórios e nos lugares mais comuns, desde que se esteja nas condições morais exigidas e se disponha da necessária faculdade mediúnica.(5)

No princípio, acreditava-se na necessidade de colocar um lápis junto com o papel, desta forma explicava-se o fenômeno pelo deslocamento do lápis pelo espírito. Mas logo verificou-se que a presença do lápis era desnecessária e, que bastava somente a folha de papel dobrado ou não, para em breve tempo aparecer a escrita. Com isso o fenômeno mudou completamente de aspecto e lançou os experimentadores numa outra ordem de idéias.

As letras são escritas com uma certa substância, e desde que não se forneceu ao Espírito nenhuma substância, com certeza, ele a produziu e a compôs por si mesmo. Esse o problema, de onde a tirou? Ora, se o Espírito pode tirar do elemento universal os materiais para as produções de fenômenos de efeitos físicos, dando a esses objetos uma realidade temporária (6). O mesmo não ocorre com a pneumatografia, são sinais escritos que sendo útil se conservam (7). Suas propriedades são obtidas do elemento universal para escrever, produzindo assim, a grafita do lápis vermelho, a tinta de impressão tipográfica ou a tinta comum de escrever, como a do lápis preto e até mesmo caracteres tipográficos suficientemente duros para deixarem no papel o rebaixo da impressão, culminando no fenômeno de escrita direta. (7)

Essas comunicações espirituais raramente são extensas. Geralmente são espontâneas e se limitam a palavras, sentenças. Podem ser obtidas em todas as línguas, inclusive, em caracteres hieroglíficos, etc., mas ainda assim, não servem às conversações contínuas e rápidas como a psicografia permite, ou seja, da escrita obtida através da mão de um médium.

Observando-se este fenômeno com a devida atenção, procurando as causas, a convicção se firma gradualmente gerando uma compreensão segura e a conquista de adeptos sérios. Essa compreensão ainda leva a um outro resultado, o de estabelecer uma linha divisória entre a verdade e a superstição.

PNEUMATOFONIA

A pneumatofonia (de pneuma e de phoné, som ou voz) é a produção de vozes por Espíritos sem a colaboração ostensiva de um intermediário (através dos órgãos da voz de um médium de efeito intelectual, mas possivelmente, através de um médium de efeitos físicos, seja ele consciente ou inconsciente). Na pneumatofonia os sons parecem surgir no ar, por vezes entre os que testemunham o fenômeno, que, quando se trata de palavras ou frases, é também, comumente, chamado de voz direta. (8)

Os Espíritos, podendo produzir ruídos e pancadas, podem naturalmente fazer ouvir gritos de toda espécie e sons vocais imitando a voz humana, ao nosso lado ou no ar. Segundo a natureza dos Espíritos, quando de ordem inferior, supõem eles (iludem-se) e acreditam falar da mesma maneira de que quando estavam encarnados (9).

Entretanto, deve-se evitar de tomar por vozes ocultas todos os sons de causa desconhecida ou os simples zunidos do ouvido, e sobretudo de aceitar a crença vulgar de que o ouvido que zune está nos avisando de que falam de nós em algum lugar. Esses zunidos, de causa puramente fisiológica, não têm aliás nenhum sentido, enquanto os sons da pneumatofonia exprimem pensamentos e somente por isso pode-se reconhecer que têm uma causa inteligente e não acidental. Pode-se estabelecer, como princípio, que apenas os efeitos notoriamente inteligentes podem atestar a intervenção dos Espíritos. Quanto aos outros, há pelo menos cem possibilidades contra uma de serem produzidos por causas fortuitas.

Os sons pneumatofônicos manifestam-se por duas maneiras bem distintas: às vezes como uma voz interna que ressoa em nosso íntimo, e embora as palavras sejam claras e distintas, nada têm de material; outras vezes as palavras são exteriores e tão distintamente articuladas como se proviessem de uma pessoa ao nosso lado.

De qualquer maneira em que se produza, o fenômeno de pneumatofonia, quase sempre é espontâneo e raramente pode ser provocado. (10)

______ Notas (1) Ver Vocabulário da obra Instruções Práticas sobre as manifestações Espíritas e O Livro dos Médiuns, 2ª. parte, cap. XII, item 146 e seguintes.

(2) Ver o capítulo sobre as Fraudes no O Livro dos Médiuns, 2ª parte, cap. XXVIII, item 314 e seguintes.

(3) O Festim de Baltazar é uma alusão a uma história da Bíblia em Daniel cap. 5,5: “Como um jovem “exibido” que se vangloriava de sua posição e poder, Baltazar deu uma enorme festa. Ele ordenou que bebessem dos vasos sagrados que Nabucodonosor tinha anteriormente trazido de Jerusalém (veja 2 Reis 24:10-14; 25:13-17; Daniel 1:2; Jeremias 28:19-22). Eles desconsagraram estes vasos santos não somente por removê-los de seu propósito ordenado, mas porque foram profanados mais tarde, quando foram usados para louvar os deuses ídolos da Babilônia. O semblante do rei mudou quando a mão escreveu na parede. Baltazar ficou aterrorizado quando viu os dedos de uma mão humana escreverem sobre o estuque da parede do palácio. Pode-se bem imaginar porque seus joelhos bateram um contra o outro! Em pânico, o rei mandou chamar os sábios de seu reino para interpretarem a escrita. Desesperado para saber o significado, ele ofereceu grandes prêmios incluindo ser o terceiro governante do reino. Contudo, ninguém podia dar a interpretação.”

(4) O Barão Ludwig von Guldenstubbe efetuou experiências com lousas onde apareciam escritas misteriosas, sem contato algum. O fato teve grande repercussão em 1850.

(5) As expressões sobre os túmulos, junto a imagens, sobre móveis decorrem das primeiras experiências feitas pelo Sr. Diddier Filho e outros membros da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, como se pode ver pelos relatos publicados na Revista Espírita. (Nota de J. Herculano Pires)

(6) O Livro dos Médiuns, 2ª. parte, cap. VII, item 116 e cap. VIII, item 128, questão 18.

(7) O Livro dos Médiuns, 2ª. parte, cap. VIII, item 127 e 128, questão 17 e 18.

(8) Ver Vocabulário da obra Instruções Práticas sobre as manifestações Espíritas e O Livro dos Médiuns, 2ª. parte, cap. XII, item 146 e seguintes.

(9) Ver, na Revista Espírita de fevereiro de 1858, a História do Fantasma da Srta, Clairon.

(10) J. Herculano Pirez numa nota a este capítulo de O Livro dos Médiuns diz “que nas sessões de voz direta temos o fenômeno de pneumatofonia exterior provocado. Mas como Kardec acentua, essas sessões são bastante raras. Por modernos parapsicólogos este fenômeno foi algumas vezes observado. O prof. S. G. Soal, da Universidade de Londres, realizou várias experiências com a médium Blanche Cooper, obtendo curiosos fenômenos de voz direta entre as quais a manifestação perfeitamente autenticada de um seu ex-colega, Gordon Davis, envolvendo curiosos efeitos de precognição ou visão do futuro, mais tarde também constatados pelo experimentador. Em São Paulo esses fenômenos foram observados com a médium dona Hilda Negrão e amplamente divulgados. Em Marília (Estado de São Paulo) tivemos ocasião de observá-los com o médium Urbano de Assis Xavier. Para o caso Soal ver Proceedings of Society for Psychical Research de Londres, dezembro de 1925, ou Em los Limites de La Psicologia, do prof. Ricardo Musso, Editorial Périplo, Buenos Aires, 1954, pág. 180 a 182, com explicações antiespíritas. O importante é o fato, a comprovação atual do fenômeno. Para casos em São Paulo e Curitiba ver “Fenomenologia Supranormal” em O Revelador, nºs 3 e 4 de 1942, pelo Dr. Osório César, atomopatologista do Hospital do Juqueri, relato de pesquisas científicas”.

—— FONTES PRINCIPAIS: Allan Kardec, O Livro dos Médiuns, 2ª. Parte, capítulos XII e VIII ___________, Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas, Vocabulário. ___________, Revista Espírita, agosto de 1859, Pneumatografia ou escrita direta.