sábado, 7 de outubro de 2017

Ruídos, perturbações / Lançamento de objetos / Fenômeno de transporte / Formação de objetos tangíveis

RUÍDOS, BARULHOS E PERTURBAÇÕES

Os fenômenos tratados no capítulo IV são provocados. Sucede, porém, às vezes, produzirem-se espontaneamente, sem intervenção da vontade, até mesmo contra a vontade, pois que freqüentemente se tornam muito importunos. Além disso, para excluir a suposição de que possam ser efeito de imaginação superexcitada pelas idéias espíritas é que se produzem entre pessoas que nunca ouviram falar disso e quando menos elas podiam esperar.
No capítulo que estamos estudando, Allan Kardec explica que tais fenômenos, cuja manifestação se poderia considerar como de prática espírita natural, são muito importantes, porque excluem as suspeitas de conivência. Por isso mesmo, recomenda, às pessoas que se ocupam com os fatos Espíritas, que registrem todos os desse gênero, que lhes cheguem ao conhecimento, mas, sobretudo, que lhes verifiquem cuidadosamente a realidade, através de minucioso estudo das circunstâncias, a fim de adquirirem a certeza de que não são joguetes de uma ilusão, ou de uma mistificação.

Ruídos, barulhos e perturbações.
De todas as manifestações espíritas, as mais simples e mais freqüentes são os ruídos e as pancadas. Neste caso, principalmente, é que se deve temer a ilusão, porquanto uma infinidade de causas naturais pode produzi-los: o vento que assobia ou que agita um objeto, algo que a gente mesmo está movendo sem perceber, um efeito acústico, um animal escondido, um inseto, etc., até mesmo, brincadeiras de mau gosto. Aliás, os ruídos espíritas apresentam um caráter especial, revelando intensidade e timbre muito variado, que os tornam facilmente reconhecíveis e não permitem sejam confundidos com os estalidos da madeira, com as crepitações do fogo, ou com o tique-taque monótono do relógio. São pancadas secas, ora surdas, fracas e leves, ora claras, distintas, às vezes retumbantes, que mudam de lugar e se repetem sem nenhuma regularidade mecânica. De todos os meios de controle, o mais eficaz e que não deixa dúvida quanto à origem, é submete-los à nossa vontade. Se as pancadas se fizerem ouvir do lado que se indicar, se responderem ao pensamento de alguém, dando o número pedido, aumentando ou diminuindo sua intensidade, não se pode negar a presença de uma causa inteligente, porém, a falta de resposta nem sempre prova o contrário.
Uma vez comprovado que as manifestações são reais, seria racional teme-las? Só podem ser afetadas as pessoas que acreditam tratar-se do diabo, como as crianças que temem o lobisomem ou o bicho-papão. Essas manifestações, em certas circunstâncias, aumentam e adquirem persistência desagradável. É necessária uma explicação a respeito, pois é natural que então se queira afasta-las.
Afirmou Kardec, que as manifestações físicas têm por fim chamar a nossa atenção para alguma coisa e convencer-nos da presença de um poder superior ao do homem. Também disse que os Espíritos elevados não se ocupam com esta ordem de manifestações; que se servem dos Espíritos mais imperfeitos para produzi-las. Atingida a finalidade acima indicada, cessa a manifestação. Acrescenta exemplos que tornarão a questão mais compreensível. 
Transcrevemos a seguir, relato que o Codificador faz: "... quando iniciava meus estudos de Espiritismo, trabalhando uma noite nesse assunto, ouvi golpes que soaram ao meu redor durante quatro horas consecutivas. Era a primeira vez que tal coisa me acontecia. Verifiquei que não tinham nenhuma causa acidental, mas no momento não pude saber nada mais. Nessa época, trabalhava com um excelente médium escrevente e, no dia seguinte, perguntei ao Espírito, que por seu intermédio se comunicava, qual a causa daquelas pancadas. Respondeu-me ele, Era, o teu Espírito Familiar que queria falar-te. - O que queria dizer-me? Resposta: Ele está aqui, pergunta-lhe. - Tendo-o interrogado, aquele Espírito se deu a conhecer sob um nome alegórico. (Vim a saber depois, por outros Espíritos, que pertence a uma categoria muito elevada e que desempenhou na Terra importante papel.) Apontou erros no meu trabalho, indicando-me as linhas onde se encontravam; deu-me úteis e sábios conselhos e acrescentou que estaria sempre comigo e atenderia ao meu chamado todas as vezes que o quisesse interrogar. A partir de então, com efeito, esse Espírito nunca mais me abandonou. Dele recebi muitas provas de grande superioridade e sua intervenção benévola e eficaz socorreu-me tanto nos problemas de vida material quanto nos metafísicos. Desde a nossa primeira conversa, as pancadas cessaram. De fato, o que desejava ele? Estabelecer comunicação regular comigo; mas, para isso, precisava me avisar. Dado o aviso, explicada a sua razão e estabelecidas as relações regulares, as pancadas se tornaram inúteis. Não se toca o tambor para acordar os soldados, quando eles já se levantaram".
Acrescenta Kardec, fato quase semelhante que sucedeu a um dos seus amigos. Havia algum tempo, no seu quarto se ouviam ruídos diversos, que já se iam tornando fatigantes. Apresentando-lhe ocasião de interrogar o Espírito de seu pai, por um médium escrevente, soube o que queriam dele, fez o que foi recomendado e daí em diante nada mais ouviu. Deve-se notar que as manifestações deste gênero são mais raras para as pessoas que dispõem de meio regular e fácil de comunicação com os Espíritos.
Concluindo nossos estudos sobre os itens indicados, relembramos que são comuns os relatos dessas manifestações de Espíritos que se comunicam através de pancadas, ruídos e perturbações, objetivando chamar a atenção para alguma necessidade que apresentam, e que a melhor maneira de atende-los, é através da prece, e também buscando a orientação de uma casa espírita, onde todos os envolvidos podem ser adequadamente esclarecidos e atendidos.

LANÇAMENTO DE OBJETOS 

As manifestações espontâneas nem sempre se limitam a ruídos e batidas. Degeneram, às vezes, em verdadeira barulheira e em perturbações. Móveis e objetos diversos são revirados, projéteis são atirados de fora para dentro, portas e janelas são abertas e fechadas por mãos invisíveis, vidraças são quebradas, o que não se pode levar à conta da ilusão. 

Toda essa desordem é muitas vezes real, mas algumas vezes é apenas aparente. Ouve-se gritarias num cômodo ao lado, barulho de louça que cai e se quebra. Corre-se para ver e encontra-se tudo calmo e em ordem. Mal sai do local, recomeça o tumulto.

Essas manifestações não são raras nem novas. É comum se ouvir histórias desta natureza. O medo tem exagerado muitos fatos que, passando de boca em boca, assumiram proporções gigantescamente ridículas. Com o auxílio da superstição, as casas onde eles ocorrem foram tidas como assombradas pelo diabo e daí todos os maravilhosos ou terríveis contos de fantasmas. Compreende-se ainda a impressão que fatos desta espécie, mesmo reduzidos à realidade, podem produzir em pessoas de caracteres fracos e predispostas, pela educação, a alimentar idéias supersticiosas. O meio mais seguro de prevenir os inconvenientes que possam acarretar, pois não se pode impedi-los, consiste em tornar conhecida a verdade. As coisas mais simples se tornam assustadoras quando ignoramos as causas. Ninguém mais terá medo dos Espíritos, quando todos estiverem familiarizados com eles. 

Na Revista Espírita se encontram narrados muitos fatos autênticos deste gênero, entre outros a história do Espírito batedor de Bergzabern, cuja ação durou oito anos (números de maio, junho e julho de 1858); o de Dibbelsdorf (agosto de 1858); o do Padeiro das Grandes Vendas, perto de Dieppe (março de 1860); o da Rua Des Noyers, em Paris (agosto de 1860); o do Espírito de Castelnaudary, sob o título de História de um Danado (fevereiro de 1860); o do fabricante de São Petersburgo (abril de 1860) e muitas outras.

Essas manifestações frequentemente assumem o caráter de verdadeira perseguição. Muitas pessoas têm suas roupas esparramadas e às vezes rasgadas, apesar da precaução que tomam , guardando-as à chave; outras vezes, pessoas estão deitadas, mas perfeitamente acordadas, e vêem sacudir as cortinas, arrancarem-lhes violentamente as cobertas e os travesseiros, que são erguidos no ar e até mesmo atiradas fora do leito. Esses fatos são mais freqüentes do que se pensa, mas a maioria das vítimas não os contam por medo do ridículo. Muitos que vivem essas experiências,consideradas alucinações, são submetidos ao tratamento dos alienados,o que pode leva-las realmente à loucura. Os casos de obsessão, de possessão e de simples perturbação por Espíritos, quando tratados como loucura, geralmente se agravam, porém, quando recebem tratamento espírita, são passíveis de cura.

É possível também que alguns casos sejam obra da malícia ou da malvadez. Porém, se tudo bem averiguado, ficar provado que não resultam da ação do homem, temos de convir que são, para uns, obra do diabo, e para nós, dos Espíritos. Mas de que Espíritos?

Os Espíritos superiores, como os homens sérios entre nós, não gostam de fazer travessura. Quando interpelados sobre o motivo de perturbarem assim a tranqüilidade dos outros, a maioria quer apenas se divertir. São antes levianos do que maus. Riem dos sustos que causam e do trabalho que dão para se descobrir a causa do tumulto. Muitas vezes apegam-se a uma pessoa e se divertem a incomodá-la por toda parte. De outras vezes se apegam a um lugar por simples capricho. Algumas vezes, também, se trata de uma vingança. Em alguns casos, a intenção é mais louvável: procuram chamar a atenção e estabelecer comunicação, seja para transmitir um aviso útil, seja para fazer um pedido. Muitos pedem preces; outros que solicitam o cumprimento, em nome deles, de votos que não puderam realizar, e outros quererem, para o seu próprio sossego, reparar uma maldade praticada em vida. Em geral, pode ser um erro amedrontar-se com sua presença, que pode ser importuna, mas não perigosa.

É natural querer livrar-se deles, mas é necessário faze-lo da maneira mais eficaz, que é não se intimidar perante suas ações, até que desistam. Caso estejam agindo por motivo menos frívolo, será necessário identificar suas necessidades, e aqui novamente recomendamos o auxílio de uma casa espírita bem estrutura , onde poderão ser atendidos e esclarecidos em suas necessidades. Através das preces podemos ajuda-los sempre, porém, as solenidades das fórmulas de exorcismo não os intimida, e sim os divertem. Se for possível entrar em comunicação com eles, recomenda-se prudência e bom senso para avaliar a essência de suas mensagens, pois muitas vezes querem se divertir com a credulidade dos ouvintes.

Nos capítulos IX e XXIII, referentes aos lugares assombrados e às obsessões, Allan Kardec trata com pormenores este assunto e as causas da ineficácia das preces em muitos casos.

Embora produzidos por Espíritos bastante imperfeitos, esses fenômenos são freqüentemente provocados por Espíritos de ordem mais elevada, com o objetivo de demonstrar a existência dos seres incorpóreos, dotados de poderes superiores aos dos encarnados. A repercussão que alcançam e o medo que provocam, despertam a atenção para esse assunto e acabam por abrir os olhos dos mais incrédulos.

O desconhecimento do assunto e a negação sistemática da existência dos espíritos, são responsáveis por gerar superstições, criar neuroses e perturbações mentais, agravando o preconceito cultural contra a realidade do Espírito. A divulgação da Doutrina Espírita, através da prática que decorre dos estudos vivenciados, é a única maneira possível de evitar todos esses inconvenientes, familiarizando os homens com esse aspecto inegável das leis divinas: o mundo espiritual existe e os Espíritos estão entre nós.

O FENÔMENO DE TRANSPORTE 

As manifestações físicas têm por fim chamar a nossa atenção para alguma coisa e convencer-nos da presença de um poder superior ao do homem. Ao estudarmos os Fenômenos de Transporte constatamos que se diferenciam dos fenômenos de lançamento de objetos devido à intenção benévola do Espírito que o produz, pela natureza dos objetos quase sempre graciosos e pela maneira suave e quase sempre delicada, porque são transportados. Consiste no transporte espontâneo de objetos que não existem no lugar da reunião. Trata-se geralmente de flores, algumas vezes de frutos, de confeitos, de jóias, etc.

Fenômeno de transporte

Analisando estes fenômenos, Allan Kardec identificou neles a maior possibilidade de imitação e necessidade de prevenção contra o embuste. Sabe-se até onde pode ir a arte da prestidigitação, em se tratando de experiências deste gênero. Porém, mesmo sem que tenhamos de enfrentar um verdadeiro prestidigitador, poderemos ser facilmente enganados por uma manobra hábil e interessada. A melhor de todas as garantias se encontra no caráter, na honestidade notória, no absoluto desinteresse das pessoas que obtêm tais efeitos. Vem depois, como meio de resguardo, o exame atento de todas as circunstâncias em que os fatos se produzem. Por fim, no conhecimento esclarecido do Espiritismo, único meio de se descobrir o que há de suspeito.

A teoria do fenômeno dos transportes e das manifestações físicas em geral se acha resumida, de maneira notável, na seguinte dissertação feita por um Espírito, cujas comunicações todas trazem o cunho incontestável de profundeza e lógica. Com muitas delas deparará o leitor no curso desta obra. Ele se dá a conhecer pelo nome de Erasto, discípulo de São Paulo, e como protetor do médium que lhe serviu de instrumento:

"Quem deseja obter fenômeno desta ordem precisa dispor de médiuns a que chamarei de sensitivos, isto é, dotados, no mais alto grau de faculdades mediúnicas de expansão e de penetrabilidade. Porque o sistema nervoso desses médiuns, facilmente excitável, por meio de certas vibrações, projeta abundantemente, em torno de si, o fluido animalizado que lhes é próprio.

As naturezas impressionáveis, as pessoas cujos nervos vibram à menor impressão, à mais insignificante sensação que a influência moral ou física, interna ou externa, sensibiliza são muito aptas a se tornarem excelentes médiuns, para os efeitos físicos de tangibilidade e de transportes. Efetivamente, seu sistema nervoso, quase inteiramente desprovido do invólucro refratário que isola esse sistema na maioria dos encarnados, torna-as apropriadas para a produção desses diversos fenômenos. Assim, com um indivíduo de tal natureza e cujas outras faculdades não sejam hostis à mediunização, mais facilmente se obterão os fenômenos de tangibilidade, as pancadas nas paredes e nos móveis, os movimentos inteligentes e mesmo a suspensão, no espaço, da mais pesada matéria inerte. Com maior razão, os mesmos resultados serão obtidos se, em vez de um médium, se dispuser de numerosos e igualmente bem dotados.

Mas, da produção de tais fenômenos à obtenção dos de transporte há todo um abismo, porque, neste caso, não só o trabalho do Espírito é mais complexo, mais difícil, como, sobretudo, ele não pode operar, senão por meio de um único aparelho mediúnico, isto é, muitos médiuns não podem concorrer simultaneamente para a produção do mesmo fenômeno. Acontece mesmo, ao contrário, que a presença de algumas pessoas antipáticas ao Espírito que opera, obstam radicalmente sua ação. A esses motivos que, como se vê, são importantes, acrescentemos que os transportes exigem sempre maior concentração e ao mesmo tempo maior difusão de certos fluidos, que só podem ser obtidos com médiuns muito bem dotados, médiuns, numa palavra, cujo aparelho eletro-medianímico seja bem condicionado.

Em geral, os fatos de transporte são e continuarão a ser extremamente raros. Não preciso demonstrar, porque são e serão menos freqüentes que os demais fenômenos de tangibilidade; do que ficou dito, podeis deduzi-lo. Aliás, estes fenômenos são de tal natureza que, além de nem todos os médiuns servirem para produzi-los, nem todos os Espíritos podem também realiza-los. É necessário que exista entre o Espírito e o médium uma certa afinidade, uma certa analogia, numa palavra, uma determinada semelhança capaz de permitir que a parte expansível do fluido perispirítico (1) do encarnado se misture, se una, se combine com o do Espírito que deseja fazer o transporte. Essa fusão deve ser de tal maneira que a força dela resultante se torne, por assim dizer, una: do mesmo modo que uma corrente elétrica, atuando sobre o carvão, produz um só foco, uma só claridade. Por que essa união, essa fusão, perguntareis? É que, para que estes fenômenos se produzam, necessário se faz que as propriedades essenciais do Espírito agente sejam aumentadas com algumas das propriedades do médium; é que o fluido vital, indispensável à produção de todos os fenômenos mediúnicos, sendo apanágio exclusivo do encarnado, deve obrigatoriamente impregnar o Espírito agente. Só então ele pode, mediante certas propriedades, que desconheceis, do vosso meio ambiente, isolar, tornar invisíveis e movimentar alguns objetos materiais e mesmo os encarnados. 

Não me é permitido, por enquanto, desvendar-vos as leis particulares que regem os gases e os fluidos que vos envolvem. Mas, antes que alguns anos tenham decorrido, antes que uma existência de homem seja concluída, a explicação dessas leis e desses fenômenos vos será revelada e vereis surgir e desenvolver-se uma variedade nova de médiuns, que agirão num estado cataléptico particular ao serem mediunizados.

Vedes, assim, quantas dificuldades cercam a produção do fenômeno dos transportes. Podeis, logicamente, concluir que os fenômenos desta natureza são extremamente raros, como já disse, e com mais razão que os Espíritos se prestam muito pouco a produzi-los, porque isso exige de sua parte um trabalho quase material, que lhes causa aborrecimento e fadiga. Por outro lado, ocorre também que freqüentemente, não obstante sua energia e vontade, o estado do próprio médium lhes opõe intransponível barreira.

É portanto evidente, e não tenho dúvida de que o aceitais, que os fenômenos sensíveis de golpes, movimentos e levitação são de natureza simples, realizando-se pela concentração e a dilatação de certos fluidos, e podem ser provocados e obtidos pela vontade e o trabalho de médiuns aptos, quando secundados por Espíritos amigos e benevolentes, enquanto os fenômenos de transporte são múltiplos, complexos, exigem a existência de condições especiais. Esses fenômenos só podem ser realizados por um só Espírito e um único médium e necessitam, além dos recursos para a produção de tangibilidade, uma combinação muito especial para isolar e tornar invisível o objeto ou os objetos a serem transportados. Todos vós, espíritas, compreendeis as minhas explicações e percebeis perfeitamente o que seja essa concentração de fluidos especiais para produzir a mobilidade e a tactilidade da matéria inerte. Acreditais nisso, como acreditais nos fenômenos da eletricidade e do magnetismo, tão análogos aos mediúnicos, que são, por assim dizer, a confirmação e o desenvolvimento daqueles. Quanto aos incrédulos e aos sábios, piores estes do que aqueles, não me compete convencê-los e nem me interessam. Serão convencidos um dia pela evidência dos fatos, porque terão que se curvar ante o testemunho dos fenômenos espíritas, como já tiveram que fazer em relação a outros fenômenos que a princípio rejeitaram.

Resumindo: os fenômenos de tangibilidade são freqüentes, mas os de transporte são muito raros, porque as condições em que se produzem bastante difíceis. Em consequência, nenhum médium pode dizer: Em tal hora ou em tal momento, obterei um transporte, porque muitas vezes o próprio Espírito se encontra impedido de fazê-lo. Devo acrescentar que esses fenômenos são duplamente difíceis em público, porque quase sempre, entre este, se encontram elementos energicamente refratários, que paralisam os esforços do Espírito e, com mais forte razão, a ação do médium.

Sabeis que, ao contrário, esses fenômenos quase sempre se produzem espontaneamente na s reuniões particulares, no mais das vezes à revelia dos médiuns e sem que se espere, dando-se muito raramente, quando aqueles estão prevenidos. Deveis deduzir daí que há motivo legítimo de suspeita todas as vezes que um médium se vangloria de obtê-los à vontade, ou de dar ordens aos Espíritos como se fossem seus empregados, o que é simplesmente absurdo. Tende ainda por regra que os fenômenos espíritas não servem para espetáculos e para divertir os curiosos. Se alguns Espíritos se prestarem a isso, só pode ser para a produção de fenômenos simples e não dos que, como o transporte, exigem condições excepcionais.

Lembrai-vos, espíritas, que é absurdo repelir sistematicamente todos os fenômenos de além túmulo, também não é prudente aceitá-los a todos de olhos fechados. Quando um fenômeno de tangibilidade, de aparição, ou de transporte se verifica espontaneamente e de improviso, aceita-o. Porém, nunca será demasiado repetir: não aceiteis nada cegamente. Seja cada fato submetido a um exame minucioso, aprofundado e severo, porquanto, crede, o Espiritismo, tão rico de fenômenos sublimes e grandiosos, nada tem a ganhar com essas insignificantes manifestações que prestidigitadores hábeis podem imitar.

Bem sei o que me ireis dizer: que esses fenômenos são úteis para convencer os incrédulos. Mas sabei que, se não tivésseis outros meios de convicção, não teríeis hoje a centésima parte dos espíritas que existem. Falai aos corações: é esse o caminho da maioria das conversões sérias. Se achais conveniente para certas pessoas utilizar-vos dos fenômenos materiais, ao menos apresentai-os de tal maneira que não possam dar motivo a falsas interpretações. E, sobretudo, observai as condições normais desses fenômenos, porque, apresentados de maneira imprópria eles servem de argumentos para os incrédulos, em vez de convencê-los. ERASTO."

(1) Vemos que, quando se trata de exprimir uma idéia nova, para a qual faltam termos na língua, os Espíritos sabem perfeitamente criar neologismos. Estas palavras: eletro-mediúnico, perispirítico, não são de invenção nossa. Os que nos tem criticado por havermos criado os termos espírita, espiritismo, perispírito, que não tinham termos análogos, poderão fazer também a mesma crítica aos Espíritos. (Nota de Kardec)

VESTUÁRIO DOS ESPÍRITOS - FORMAÇÃO ESPONTÂNEA DE OBJETOS TANGÍVEIS - MODIFICAÇÃO DAS PROPRIEDADES DA MATÉRIA 

Item 126 a 131

Os Espíritos se apresentam vestidos de túnicas, envoltos em panos flutuantes ou mesmo com os trajes que usavam quando encarnados. O uso de panos flutuantes parece costume geral no mundo dos Espíritos. Mas, onde irão eles buscar vestuários semelhantes em tudo aos que usavam em vida, com todos os acessórios que os completavam? É evidente que não levaram esses objetos com eles, pois que ainda se encontram conosco. De onde provêm, então, os que eles usam no outro mundo? Esta questão deu sempre muito que pensar. Para muitas pessoas, porém, era simples motivo de curiosidade. A ocorrência, todavia, confirmava uma questão de princípio, de grande importância, porquanto sua solução fez entrever uma lei geral, que também encontra aplicação no nosso mundo corpóreo. Múltiplos fatos a vieram complicar e demonstrar a insuficiência das teorias com que tentaram explicá-la. 

Essas questões fizerem parte das reflexões de Allan Kardec. Pensava que se poderia compreender a existência do traje como, de alguma maneira, fazendo parte do indivíduo; o mesmo, porém, não se dava com os objetos acessórios, qual, por exemplo, a tabaqueira do visitante da senhora doente, citada no item 116 de O Livro dos Médiuns. Relembremos que ali não se tratava de um desencarnado, mas de um encarnado, e que tal senhor, quando se apresentou pessoalmente, trazia na mão uma tabaqueira semelhante em tudo à da sua aparição. Onde encontrara a tabaqueira que tinha consigo, quando sentado junto ao leito da doente? Poderíamos citar grande número de casos em que Espíritos, de mortos ou de vivos, apareceram com diversos objetos, tais como bengalas, armas, cachimbos, lanternas, livros, etc.

A Allan Kardec apresentou-se então uma idéia: a de que os corpos inertes poderiam possuir correspondentes etéreos no mundo invisível, que a matéria condensada, que forma os objetos, poderia ter uma parte quintessenciada, que nos escapa aos sentidos. Não era destituída de verdade esta teoria, mas se mostrava impotente para explicar todos os fatos. Havia um, sobretudo, que parecia desafiar todas as interpretações. Até então, se tratava apenas de imagens ou aparências, e vimos que perispírito pode adquirir as propriedades da matéria e tornar-se tangível, mas essa tangibilidade é apenas momentânea e o corpo sólido se desvanece como sombra. Trata-se de um fenômeno extraordinário, porém, o que o ultrapassa é a produção de matéria sólida persistente, conforme o provam numerosos fatos autênticos, notadamente o da escrita direta, fenômeno esse que analisado levou à solução do caso da tabaqueira. 

Assim explicou o Codificador: A escrita direta ou pneumatografia é a que se produz espontaneamente, sem o concurso das mãos do médium nem do lápis. Basta tomar uma folha de papel em branco, o que se pode fazer com todas as precauções necessárias para se prevenir de qualquer fraude, dobrá-la e depositá-la em qualquer parte, numa gaveta, ou simplesmente sobre um móvel. Se houver condições, dentro de algum tempo, aparecerão traçados no papel letras ou sinais diversos, palavras, frases e até comunicações, na maioria das vezes com uma substância escura, semelhante à grafite, de outras com lápis vermelho, tinta comum e mesmo tinta de impressão.

Eis o fato em sua simplicidade e cuja reprodução, embora pouco comum, não é tão rara, pois há pessoas que a obtêm com grande facilidade. Se ao papel se juntasse um lápis, poderíamos supor que o Espírito se servira deste para escrever, mas, desde que o papel é deixado inteiramente só, é evidente que a escrita foi produzida por uma matéria nele depositada. De onde tirou o Espírito essa matéria? Essa a questão a cuja solução fomos levados pela tabaqueira a que há pouco nos referíamos.

Allan Kardec, então, apresenta a questão ao Espírito São Luís, que apresenta a solução, mediante as respostas seguintes (as notas são de Allan Kardec):

1ª Citamos um caso de aparição do Espírito de uma pessoa viva. Esse Espírito tinha uma tabaqueira da qual tomava pitadas. Experimentava ele a sensação que experimenta um indivíduo que faz o mesmo? 
— Não.
2ª A tabaqueira tinha a mesma forma da que ele usava habitualmente e que se estava em sua casa. O que era essa tabaqueira nas mãos desse homem? 
— Uma aparência. Era para ser notada, como foi e para que não tomassem como alucinação devida ao estado de saúde da vidente. O Espírito queria que a senhora acreditasse na realidade da sua presença e tomou todas as aparências da realidade.
3ª Disseste que era uma aparência, mas uma aparência nada tem de real, é como uma ilusão de ótica. Desejamos saber se aquela tabaqueira era uma imagem irreal ou se havia nela algo de material? 
— Certamente. E com a ajuda desse princípio material que o Espírito aparenta vestir-se com roupas semelhantes aos que usava quando vivo. 

NOTA. É evidente que a palavra aparência deve ser entendida no sentido de aspecto, imitação. A tabaqueira real não estava com o Espírito. A que ele segurava era apenas a sua representação. Era, pois, com relação ao original, uma simples aparência, embora formada de um princípio material. A experiência ensina que nem sempre se deve dar significação literal às expressões usadas pelos Espíritos. Interpretando-as de acordo com as nossas idéias, expomo-nos a grandes equívocos. Daí a necessidade de aprofundar-se o sentido de suas palavras, todas as vezes que apresentem a menor ambigüidade. É esta uma recomendação que os próprios Espíritos constantemente fazem. Sem a explicação que provocamos, o termo aparência, sempre repetido nos casos semelhantes, poderia ser falsamente interpretado.

4ª Seria um desdobramento da matéria inerte? Haveria no mundo invisível uma matéria essencial que revestiria as formas dos objetos que vemos? Numa palavra, esses objetos teriam o seu duplo etéreo no mundo invisível, como os homens são ali representados pelos Espíritos?
— Não é assim que acontece. O Espírito dispõe, sobre os elementos materiais dispersos por todo o espaço da vossa atmosfera, de um poder que estais longe de suspeitar. Pode, pois, concentrar esses elementos pela sua vontade e dar-lhes a forma aparente que convenha às suas intenções.
NOTA. Esta pergunta, como se pode ver, era a tradução do nosso pensamento, isto é, da idéia que formávamos da natureza de tais objetos. Se as respostas fossem, como pretendem alguns, o reflexo do pensamento do interpelante, teríamos obtido a confirmação da nossa teoria, em vez de teoria contrária.
5ª Formulo novamente a questão, de modo categórico, a fim de evitar todo e qualquer equívoco: As roupas dos Espíritos são alguma coisa?
— Parece-me que a resposta precedente resolve a questão. Não sabes que o próprio perispírito é alguma coisa?
6ª Resulta desta explicação que os Espíritos submetem a matéria etérea às transformações que desejam, e que, por exemplo, no caso da tabaqueira o Espírito não a encontrou feita, mas ele mesmo a produziu, quando dela necessitou por um ato da sua vontade e da mesma maneira a desfez. É isso mesmo que se dá com todos os outros objetos, como as roupas, as jóias, etc?
— Mas, é evidente.
7ª Essa tabaqueira foi vista pela senhora como se fosse real. O Espírito poderia torná-la tangível para ela? 
— Poderia.
8ª Se fosse o caso, a senhora poderia pegá-la, acreditando ter nas mãos uma tabaqueira real?
— Sim.
9ª Se a abrisse, encontraria tabaco e, se o tomasse espirraria?
— Sem dúvida.
10ª Pode então o Espírito dar a um objeto, não só a forma, mas também suas propriedades especiais? 
— Se o quiser. Baseado neste princípio foi que respondi afirmativamente às perguntas anteriores. Tereis provas da poderosa ação que os Espíritos exercem sobre a matéria, ação que estais longe de supor, como eu disse há pouco.
11ª Suponhamos, então, que quisesse fazer uma substância venenosa. Se uma pessoa a ingerisse, ficaria envenenada? 
— O Espírito poderia fazê-la, mas não a faria porque isso não lhe é permitido.
12ª Poderia fazer uma substância salutar e própria para curar uma enfermidade, e isso já aconteceu?
— Sim, muitas vezes.
13ª Então, poderia também fazer uma substância alimentar? Suponhamos que tenha feito uma fruta, uma iguaria qualquer: se alguém pudesse comer a fruta ou a iguaria, ficaria saciado?
— Ficaria, sim. Mas, não procures tanto para achar o que é tão fácil de compreender. Um raio de sol basta para tornar perceptíveis aos vossos órgãos grosseiros essas partículas materiais que enchem o espaço onde viveis. Não sabes que o ar contém vapores de água? Condensa-os e os farás voltar ao estado normal. Priva-as de calor e eis que essas moléculas impalpáveis e invisíveis se tornarão um corpo sólido e bem sólido, e, assim, muitas outras substâncias de que os químicos tirarão maravilhas ainda mais espantosas. Simplesmente, o Espírito dispõe de instrumentos mais perfeitos do que os vossos: a vontade e a permissão de Deus. 

NOTA. A questão da saciedade é aqui muito importante. Como pode produzir a saciedade uma substância cuja existência e propriedades são meramente temporárias e, de certo modo, convencionais? O que se dá é que essa substância, pelo seu contato com o estômago, produz a sensação da saciedade, mas não a saciedade que resulta da plenitude. Desde que uma substância dessa natureza pode atuar sobre a economia orgânica e modificar um estado mórbido, também pode, perfeitamente, atuar sobre o estômago e produzir a impressão da saciedade. Rogamos, todavia, aos senhores farmacêuticos e donos de restaurante que não se encham de zelos, nem creiam que os Espíritos lhes venham fazer concorrência. Esses casos são raros, excepcionais e nunca dependem da vontade de alguém, pois do contrário todos se alimentariam e curariam de maneira muito vantajosa.

14ª Os objetos que a vontade do Espírito tornou tangíveis poderiam permanecer nesse estado e ser usados? 
— Isso poderia acontecer, mas isso não se faz porque é contrário às leis.
15ª Todos os Espíritos têm no mesmo grau o poder de produzir objetos tangíveis? 
— É fora de dúvida que quanto mais elevado é o Espírito, tanto mais facilmente o consegue, mas isso também depende das circunstâncias: Os Espíritos inferiores podem ter esse poder.
16ª Os Espíritos têm sempre consciência da maneira pela qual produz as suas roupas ou os objetos que torna aparentes? 
— Não. Muitas vezes ajuda a formá-los por uma ação instintiva, que ele mesmo não compreende, se não estiver suficientemente esclarecido para isso.
17ª Se o Espírito pode extrair do elemento universal os materiais para essas produções, dando a essas coisas uma realidade temporária, com suas propriedades, pode também tirar o necessário para escrever, o que nos daria a explicação do fenômeno da escrita direta? 
— Afinal, chegaste onde queria.

NOTA. Era, com efeito, aí que queríamos chegar com todas as nossas questões preliminares. A resposta prova que o Espírito lera o nosso pensamento.

18ª Se a matéria de que o Espírito se serve não tem persistência, como os traços da escrita-direta não desaparecem?
— Não tires conclusões das palavras. Para começar, eu não disse: jamais. Tratava-se de objeto material volumoso, Nesse caso, são os sinais escritos que é útil conservar e se conservam. O que eu quis dizer é que os objetos assim compostos pelo Espírito não poderiam tornar-se de uso, porque na realidade não possuem a mesma densidade material dos vossos corpos sólidos.

Concluindo, então, pode-se resumir a teoria acima em: o Espírito atua sobre a matéria; da matéria cósmica universal tira os elementos de que necessite para formar, como queira, objetos com a aparência dos diversos corpos existentes na Terra. Pode igualmente, pela ação da sua vontade, operar sobre a matéria elementar uma transformação íntima, que lhe dê certas propriedades. Esta faculdade é inerente à natureza do Espírito, que muitas vezes a exerce de modo instintivo, quando necessário, sem disso se aperceber. Os objetos que o Espírito forma, têm existência temporária, subordinada à sua vontade, ou a uma necessidade que ele experimenta; pode fazê-los e desfazê-los livremente. Em certos casos, esses objetos, aos olhos de pessoas encarnadas, podem apresentar todas as aparências da realidade, isto é, tornarem-se momentaneamente visíveis e até mesmo tangíveis. Trata-se de formação e não de criação, pois o Espírito não pode tirar nada do nada.

Os Espíritos confirmam a existência de uma matéria elementar única que dá origem a todos os corpos da natureza. As suas transformações determinam as diversas propriedades dos corpos. É assim que uma substância salutar pode tornar-se venenosa por uma simples modificação, como a Química nos dá inúmeros exemplos. Mesmo sem alterar as proporções, muitas vezes é suficiente uma simples modificação na forma de agregação molecular para mudar as propriedades, por exemplo, transformando um corpo opaco em transparente, e vice-versa. Desde que o Espírito, através de sua vontade, pode agir tão decisivamente sobre a matéria elementar, compreende-se que possa formar substâncias e até mesmo modificar suas propriedades, usando a própria vontade como reativo. Assim se explica a formação de objetos como resultado da ação dos Espíritos, pelo pensamento e vontade, sobre os fluidos, matéria cósmica universal, dando-lhes a aparência dos diversos corpos da Terra. É essa explicação que Allan Kardec estende à modificação das propriedades da água pela vontade, à faculdade de curar pelo contato e pela imposição das mãos, que algumas pessoas possuem num grau elevado.

Bibliografia: 


O Livro dos Médiuns | Segunda Parte Das Manifestações Espíritas | Capitulo V - Manifestações Físicas Espontâneas 
O Livro dos Médiuns  |  Segunda Parte Das Manifestações Espíritas   |  Capitulo VIII - Laboratório do Mundo Invisível   

Fonte: http://cebatuira.org.br/

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