complexidade da comunicação mediúnica
Processo de comunicação com os
espíritos é o mesmo para qualquer natureza de médiuns: escreventes, mecânicos,
semimecânicos ou intuítivo:
A comunicação mediúnica não se
faz por um processo mecânico, em que o Espírito atua automaticamente, dizendo o
que pensa com extrema facilidade, por intermédio do médium do qual ele se
serve. O processo é psíquico e por isso complexo, irnponderável, pois somente
se realiza pela combinação de ondas mentais, fenômeno que se denomina sintonia.
Esse fenômeno não é muito fácil de se alcançar entre duas almas, dois universos
mentais distintos em razão das experiências distintas que vivenciaram e ainda
vivenciam. Por isso, a sintonia entre o desencarnado e o encarnado fica na
dependência de fatores intrínsecos, tais como graus distintos de condição moral
e espiritual, conhecimento do assunto e interesse de ambos em abordá-lo no
mesmo diapasão e de outros circunstanciais. Por isso, a tarefa de escrever ou
falar mediunicamente é um desafio, tanto para o Espírito quanto para o médium.
Este não pode ser comparado a uma caixa de som que reproduz o que pensa e fala
um locutor ao microfone. É uma mente livre em ação, agindo c interagindo com o
Espírito comunicante "Qualquer que seja a natureza dos médiuns
escreventes, quer mecânico! ou semimecânicos, quer simplesmente intuitivos, não
variam essencialmente os nossos processos di comunicação com eles. De fato, nó
nos comunicamos com os Espírito encarnados dos médiuns, da mesm forma que com
os Espíritos propriamente ditos, tão-só pela irradiação do nosso
pensamento."! Esse processo também se aplica aos médiuns psicofônicos.
No processo da comunicação
mediúnica, o médium tanto pode inserir idéias complementares às que recebe do
Espírito ou suprimir outras por conveniência ou porque não concorde com elas,
ou, ainda, por não entendê-las, resolvendo substituí-las pela interpretação que
lhes dá no momento. O Espírito Kathleen diz ao médium que lhe serve como
instrumento para escrever: - "Vemos, algumas vezes. quando lemos as
mensagens que lhe foram dadas, que não estava traduzido perfeitamente o nosso
pensamento; muito do que queríamos dizer, nelas não se acha, e outras vezes se
encontram menos coisas do que tínhamos em mente comunicar. [ ... ] É a
conseqüência natural do véu espesso que separa ambas as esferas, aquela donde
falamos e aquela em que o receptor vive.?
O momento é de uma
complexidade tamanha que, muitas vezes, se dá um descompasso na velocidade
entre as correntes de pensamento do comunicante e do receptor. Sobre esse fato
se manifesta o Espírito Deolindo Amorim: - "[ ... ] a mente como um todo
pode disparar e adiantar-se, ante nosso toque, passando a desenvolver sozinha uma
série de idéias, deixando-nos à sorrelfa. Outras vezes, é a desconfiança de
médium que quer fiscalizar a independência do pensa¬mento que por ele verte,
submetendo-o a controle tão rígido que ficamos a pensar sozinhos, enquanto a
sua mente permanece à retaguarda."
Eis a razão por que os
espíritos sérios, interessados em nos trazerem parcelas da Verdade que nos
liberta, tomam cuidados especiais com as comunicações de mensagens, para que
cheguem até nós com a maior fidelidade possível. Consta da ata da sessão de 16
de dezembro de 1859, da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, o
interessante registro feito pelo seu secretário, sobre o que vislumbrava a
Senhora X ... no plano invisível, enquanto Allan Kardec dialogava com os
Espíritos:
"Ela via uma coroa
fluídica cingir a cabeça do médium, como para indicar os momentos durante os
quais era interdito aos Espíritos não chamados de se comunicarem, porque as
respostas deveriam ser sinceras, mas desde que a coroa era retirada, via todos
os Espíritos intrusos a disputar, de algum modo, o lugar que lhes deixavam.? A
proteção ao médium se fazia necessária, pois no ambiente pululavam Espíritos de
toda ordem, que poderiam impedir ou alterar a essência da comunicação do
Espírito indicado para falar. Encontramos algo semelhante numa obra de André
Luiz, quando relata que a médium Ambrosina ostentava na cabeça pequeno funil de
luz, à maneira de delicado adorno. Consultado, o seu orientador esclarece:
"- É um aparelho
magnético ultra-sensível com que a médium vive em constante contacto com o
responsável pela obra espiritual que por ela se realiza. [ ... ] Havendo
crescido em influência, viu-se assoberbada por solicitações de múltiplos
matizes. Inspirando fé e esperança a quantos se lhe aproximam do sacerdócio de
fraternidade e compreensão, é, naturalmente, assediada pelos mais
desconcertantes apelos."?
Sem aquele equipamento de
proteção, a médium, sem dúvida, não teria condições de exercer seu mandato
mediúnico com a fidelidade que seu instrutor espiritual desejava, porque as
múltiplas ondas mentais dificultariam a sua sintonia com ele.
Mesmo quando essa proteção é
dada, obstando a interferência dos Espiritos inferiores, outro fator
significativo interfere no resultado dos trabalhos mediúnicos, sem nenhum
desdouro para todos que atuamos nas reuniões onde o intercâmbio se dá. Trata-se
da interferência mental, consciente ou inconsciente, do sensitivo no processo,
já que a conjugação de ondas mentais entre os dois planos se dá em atendimento
à lei de cooperação, quando as ondas mentais emitidas pelo médium se entrosam
às da entidade comunicante. "É natural, dessa forma, que as dificuldades
da filtragem mediúnica se façam, às vezes, extremamente preponderantes,
porquanto, se não há riqueza de material interpretativo no fulcro receptor, as
mais vivas fulgurações angélicas passarão despercebidas para quem as procura,
com sede de luz do Além." 6
Essa introdução um pouco
longa, caro(a) leitor(a), é para enfatizar o cuidado que todos devemos ter ao
buscar o contato com o Mundo espiritual, na esperança de obter alguma palavra
falada ou escrita que venha atender às nossas indagações, devendo analisá-las
cuidadosamente. Essa análise deve prevalecer, também, com o que já está escrito
e publicado, vindo de várias fontes mediúnicas, e que pululam o mercado
livreiro ... Será sempre oportuno criticar construtivamente o que lemos, venha
de onde vier a mensagem.
Não sendo as comunicações
espirituais uma ocorrência fácil, como pode parecer ao observador ingênuo, que
alimenta esperanças de ser dignificado com nobres e elevadas observações,
devemos levar em consideração as dificuldades e delicadezas existentes entre os
Espíritos que se comunicam e os médiuns que os recepcionam. Não basta que o
ditado ou a fala seja de origem espiritual para aceitá-la como indefectível,
até porque "[ ... ] a maioria das entidades comunicantes são verdadeiros
homens comuns, relativos e falhos, porquanto são almas que conservam, às vezes
integralmente, o seu corpo somático, e cujo habitat é o próprio orbe que lhes guarda
os despojos e as vastas zonas dos espaços que o cercam, atmosferas do próprio
planeta, que poderíamos classificar de colônias terrenas nos planos da
erraticidade." Em razão disso, os nossos irmãos, vizinhos do plano
invisível, nem sempre estão devidamente preparados para ditar ensinamentos
novos e reveladores, mas "Procuram agir no plano físico unicamente para
demonstração da sobrevivência além da morte, levantando os ânimos
enfraquecidos, porque dilatam os horizontes da fé e da esperança no futuro, porém,
jamais serão portadores da palavra suprema do progresso, não só porque a sua
sabedoria é igualmente relativa, como também porque viriam anular o valor da
iniciativa pessoal e a insofismável realidade do árbitro humano"? Essa
afirmativa deve nos alertar para bem averiguarmos a procedência de revelações
espetaculares, com pretensões de serem complementares ao que nos legou Kardec.
Não obstante toda essa
complexidade que apresenta o intercâmbio mediúnico, não devemos desistir de
buscá-lo, mas sempre munidos de senso crítico e método científico, para não nos
deixarmos levar pelos Espíritos mistificadores e brincalhões, sempre dispostos
a nos enganar. Para se evitar que determinadas mensagens de conteúdo frívolo e
não consonante com os princípios do Espiritismo chegue ao público, façamos
"[ ... ] o exame aprofundado e detalhado de certos ditados espontâneos, ou
outros, que poderiam ser analisados e comentados como se faz com as críticas
literárias. Tal gênero de estudo teria a dupla vantagem de exercitar a
apreciação do valor das comunicações espíritas e, em segundo lugar, como
conseqüência dessa apreciação, desencorajar os Espíritos enganadores que, vendo
suas palavras censuradas, controladas pela razão e, finalmente, repelidas desde
que tivessem um cunho suspeito, acabariam por compreender que perdem tempo.
Quanto aos Espíritos sérios, poderiam ser chamados para darem explicações e
desenvolvimentos sobre os pontos de suas comunicações que necessitassem de
elucidações." 8
Eis, aí, o Codificador! Depois
dele, não teremos desculpas se nos deixarmos enganar pelos Espíritos, não
obstante a complexidade da comunicação com eles.
1 - KARDEC, Allan. O Livro dos
Médiuns. Rio de Janeiro-RJ: FEB, item 225.
2 - OWEN, Ver. G. Vale. A vida
além do véu. Tradução de Carlos Imbassahy. 3. ed., Rio de Janeiro-RJ: FEB,
1962, 36-37
3 - SOUZA, Elzio Ferreira.
Espiritismo em movimento. Pelo Espirito Deolindo Amorim. 1. ed., Salvador-BA:
Círculos, 1999, p. 10.
4 - KARDEC, Allan. Revista
Espírita. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 1. ed., Rio de Janeiro-RJ: FEB,
1860, p, 58.
5 - XAVIER, Francisco Cândido.
Nos domínios da mediunidade. Pelo Espírito André Luiz. 1. ed. especial, Rio de
Janeiro¬RJ: FEB, 2003, capo 16, p. 146-147.
6 - XAVIER, Francisco Cândido.
Mecanismos da mediunidade. Pelo Espírito André Luiz. 1. ed. especial, Rio de
Janeiro-RJ: FEB, capo 18, p. 130.
7 - XAVIER, Francisco Cândido.
Emmanuel. Pelo Espírito Emmanuel. 8. ed., Rio de Janeiro-RJ: FEB, capo XXVIII,
p. 151-152. 8 - KARDEC, Allan. Revista Espírita. Tradução de Evandro Noleto
Bezerra. 1. ed., Rio de Janeiro-RJ: FEB, 1860, p. 202.
Publicado por Dora em
01/7/2007 (906 leituras)
Waldehir Bezerra de Almeida
Revista Internacional de
Espiritismo - Maio de 2007
A COMUNICAÇÃO ATRAVÉS DOS PENSAMENTOS
Desde os séculos XVI e XVII,
filósofos e alquimistas, contribuíram para a elaboração de teorias que
atribuíam ao pensamento idéias-forças, formaspensamento, com capacidade
organizadora e ideoplástica. Ao desvendar os estados desconhecidos da matéria,
a ciência contribui para a descoberta da influência física dos pensamentos. O
Espiritismo, então, estuda a comunicação estabelecida de Espírito para
Espírito. No livro “A Gênese”, Kardec coloca que o pensamento de um Espírito
encarnado influi sobre os fluidos espirituais, da mesma forma que os
pensamentos de um Espírito desencarnado. Os fluidos são o veículo de transporte
dos pensamentos. O pensamento é impulsionado pela vontade e é, por isso, um
fluxo energético do campo espiritual. Ele é matéria, porém em um estado de
rarefação, comportando-se como energia, apresentando-se como ondas. A onda é o
resultado da vibração, ou seja, do deslocamento de partículas no espaço, em
movimento de vai-e-vem. O movimento vibratório pode ser comparado a uma
oscilação e uma pulsação e é caracterizado por duas medidas: o comprimento de
onda – o espaço percorrido pela partícula durante uma vibração completa – e a
freqüência – quantas vibrações ocorrem num tempo de um segundo. Assim, uma onda
pode ser curta ou longa, rápida ou lenta. Quanto menor o comprimento da onda,
maior a freqüência vibratória e a capacidade de penetração. O Espírito, estando
encarnado ou desencarnado, através do pensamento, emite energias, desta forma, criam
ondas mentais gerando em torno de si mesmo um campo de influência, denominado
por André Luiz como “hálito mental”. Como o pensamento é uma energia viva, ele
se desloca em torno dos corpos como forças sutis, construindo imagens ou formas
e assim, criando centros de ondas magnéticas, com os quais a mente atua ou
recebe a atuação de outras mentes. No plano espiritual, o ser lida mais
diretamente com o fluido vivo e multiforme que nasce da própria alma. Este é um
sub-produto do fluido-cósmico-universal – uma espécie de fluido primordial e
que baseia toda a materialidade – absorvido pela mente num processo semelhante
à respiração. Ao assimilar o fluido primário, através da própria vontade, o
Espírito passa a influenciar naquilo que está criado. Este fluido adquirido é o
pensamento contínuo, que segundo os Espíritos, é incessante e renovador .
O que a Doutrina Espírita vêm
dizer ao Ocidente é a interação dos “vivos” e dos “mortos” sem interrupção ou
limites. Os Espíritos encarnados e desencarnados vivem juntos um dos outros.
Entretanto, cada um vive em seu estado vibratório. A materialidade do corpo já
condena aquele que está encarnado a viver em uma vibração mais baixa do que
aquele que não possui um corpo anímico. Apesar disso, vivem todos imersos em um
mar de ondas, saídas das mentes encarnadas e desencarnadas. Estas ondas
interagem entre si, afinando-se a outras pulsões com comprimento e freqüência
parecidos. Como as ondas mentais são qualificadas pela realidade mais profunda
do ser, pode-se dizer que, apesar da sintonia ser um fenômeno de ordem física,
sua base é espiritual. A sintonia está ligada ao íntimo de cada um. Ela é a
harmonia, o entendimento, a ressonância ou a equivalência. Sintonia é um
fenômeno de harmonia psíquica com vibrações equivalentes.
A Lei das atrações e correspondências rege todas as coisas: as
vibrações, atraindo vibrações similares, aproxima e vinculam as almas, os
corações, os pensamentos (...) para comunicar conosco deverá o Espírito
amortecer a intensidade de suas vibrações, ao mesmo tempo que ativará as
nossas. Nisso pode o homem voluntariamente auxiliar; o ponto a atingir
constitui para ele o estado de mediunidade. (André Luiz, Nos domínios da
mediunidade).
A vinculação através do pensamento acontece
quando dois ou mais indivíduos estão vibrando na mesma faixa. Desta forma, suas
mentes estão em harmonia e há entre eles uma ligação mental ou ponte
vibratória. Assim, a influência dos Espíritos sobre os encarnados é exercida
através da sintonia. Os pensamentos, as palavras e os atos irão determinar o
padrão vibratório e a sintonia se estabelecerá com aquilo que os pensamentos
estiver afinado, vibrando na mesma faixa. A influência é exercida através de
imagens, pensamentos e sensações. A mediunidade é um fenômeno mental e
manifestada através do pensamento. Pela mediunidade, o pensamento torna-se
argumento. Desta forma, a faculdade mediúnica é caracterizada pela comunicação
entre mentes através dos pensamentos. A comunicação se estabelece a partir do
momento em que se combinam as forças psíquicas e os pensamentos do médium e do
Espírito comunicante. A mediunidade não se manifesta apenas pela vontade do
Espírito ou do médium em se comunicar. A possibilidade da comunicação é
estabelecida pela sintonia vibratória aliada á afinidade fluídica dos
participantes do fenômeno. A comunicação mediúnica se estabelece por estágios
que são fundamentais e independem do tipo de fenômeno intelectual ou mesmo, se
o médium é consciente ou inconsciente. O primeiro momento é no qual o médium é
sondado psiquicamente para se avaliar sua condição vibratória e suas
possibilidades de combinação fluídica com o Espírito que quer se comunicar. Na
segunda fase, em que há uma aproximação das entidades, o médium acaba por
sentir uma forte influência antes do momento da comunicação. A terceira fase do
fenômeno é a da aceitabilidade. Neste momento, o médium percebe a presença do
Espírito ao seu lado e aos poucos o seu pensamento é diretamente influenciado
para a atividade correspondente à sua sensibilidade, isto é, escrever, falar,
ver, escutar. O último momento se dá quando o médium é absorvido pelas emoções
e os sentimentos do comunicante. O controle ou não sobre os sentimentos
recebidos dependem diretamente do grau de desenvolvimento do médium e do
comunicante. Quando a força de vontade de um é maior do que a do outro, este
não consegue estabelecer um controle eficiente na comunicação.
OS NÍVEIS DA COMUNICAÇÃO MEDIÚNICA
Segundo Vianna de Carvalho, os
estágios anteriores a comunicação começam com a captação sensorial, na qual a
mente assimila a idéia e as sensações do Espírito, levando-as até o campo da
memória, localizado no corpo fluídico (perispírito). Neste local, o médium
reveste as idéias e as informações com palavras para que possa externá-las. O
segundo estágio do processo de comunicação é o mnésico. Neste momento, o médium
cumpre entender o sentido da idéia captada, esteja o intermediário em estado
consciente ou inconsciente. Por fim, temos o que é chamado de estágio
intelectual. O médium comunica as informações ao meio externo com seu
vocabulário ou mesmo, do agente comunicante, com a clareza e a fidelidade de
acordo com a afinidade que se estabeleceu a comunicação. Este processo ocorre
tanto nas formas conhecidas como psicografia quanto na psicofonia. O que varia
é o domínio do comunicante, enquanto que na psicografia seus fluidos estão
comandando os braços do médium, na psicofonia, sua influência está velada ao
aparelho fonador do médium.
Querendo comunicar-se, o Espírito se serve do órgão que lhe depara mais
flexível no médium. A um, toma a mão; a outro da palavra; a um terceiro do
ouvido. O médium falante geralmente se exprime ser ter consciência do que diz e
muitas vezes diz coisas completamente estranhas às suas idéias habituais, aos
seus conhecimentos e, até, fora do alcance de sua inteligência. (Kardec: 1861)
O ESPÍRITO DA COMUNICAÇÃO - João
Paulo Almeida Siqueira de Oliveira
CANAIS DE
COMUNICAÇÃO: CONTRIBUIÇÃO DOS AMIGOS ESPIRITUAIS
Já vimos alhures que comunicar é tornar comum, ou seja
difundir, divulgar, disseminar, transmitir idéias. Reduzido à sua expressão
mais simples, o processo poderia ser figurado como um ponto de origem e outro
de destinação de idéias, interligados por um sistema qualquer de transmissão. O
jargão da moderna eletrônica encontrou a palavra certa para este sistema,
chamando-o de canal. De fato, a comunicação flui através de um canal entre a
fonte geradora e o seu destinatário.
Dois tipos de canais servem ao processo da comunicação
mediúnica: os condutores, localizados no perispírito do médium, e os
expressores, que se situam no seu cérebro físico, distribuídos estes últimos
pelos diversos segmentos que comandam os sentidos, expressão corporal e facial,
gesticulação, fala, habilidades manuais, como escrita, desenho e outras.
São, portanto, os canais condutores que funcionam como
elementos de ligação entre o espírito do médium e seu corpo físico, veículos do
pensamento gerado pela individualidade espiritual do próprio sensitivo e que
também servem a pensamentos alheios.
No fenômeno anímico, que poderíamos comparar a um
circuito interno, fechado sobre si mesmo, pensamentos emitidos pela unidade
central individualidade circulam pelos canais perispirituais e vão ao cérebro,
ou , estimulam os canais expressores que, por sua vez, irão expedir (ou não)
comandos à ação desejada no corpo físico.
Já no fenômeno mediúnico, o sistema é aberto; de um lado,
os temos os receptores dos canais condutores colocados à disposição da entidade
comunicante, do outro, os terminais do circuito expressor, que converte o
conteúdo da mensagem em texto, fala ou formas outras de expressão visual ou
auditivo do pensamento.
Na realidade, quem cede os canais condutores é a
individualidade espiritual do médium que interrompe, não o seu pensamento, mas
a expressão que, em vez de circular rumo ao cérebro físico, é como que
desviada, como a corrente de água de um rio, a fim de deixar desocupado o leito
para que águas de outra origem possam escoar por ali.
Isto nos proporciona uma visão mais clara da tão
'discutida comunicação' que, no fundo, consiste, não propriamente em 'esvaziar'
a mente deixando de pensar, mas em redirecionar o pensamento, de forma a
desobstruir o canal condutor a fim de cedê-lo, livre e desembaraçado, ao
comunicante.
Quanto melhor for a capacidade do médium em promover essa
desobstrução, maior será a facilidade do comunicante em expressar suas
características pessoais. O que nos leva a considerar que a chamada
'passividade do médium' é, de fato, uma aptidão em ceder seus canais condutores
e expressores, submetendo-se aos comandos que emanam da entidade manifestante e
não mais aos seus próprios. Podemos dizer isto de outra maneira: o único
comando que a individualidade do médium expede ao seu próprio sistema de
comunicação é o de que se ponha à disposição de outrem, obedecidos, obviamente,
alguns limites bem-definidos.
É como se alguém emprestasse temporariamente a sua casa a
outra pesssoa. Algumas situações básicas ocorrem:
1) o inquilino poderá ser acolhido e conviver,
harmoniosamente, e por algum tempo, com o proprietário dela, sem nada modificar
no seu interior e com total respeito aos hábitos de seu hospedeiro;
2) o proprietário pode se afastar, a maior ou menor
distância, enquanto o novo morador se instala, abrindo para este, espaço e
condições para que ele possa imprimir à casa que lhe foi cedida algumas de suas
características pessoais, como nova disposição de móveis, quadros e objetos,
novos arranjos decorativos e coisas semelhantes;
3) o proprietário se retira, levando consigo móveis e
objetos de uso pessoal, enquanto o inquilino traz seu próprio mobiliário e
objetos, arranjando-os ao seu inteiro gosto pessoal e adaptando a moradia aos
seus hábitos e preferências.
Em qualquer das situações esboçadas, o visitante que
conheça bem o proprietário da casa será capaz de distinguir uma pessoa da
outra, ou seja, o inquilino do proprietário, observando atentamente as
características de um e de outro e comparando-as, num confronto de marcas
pessoais, expressões típicas, opiniões habituais, formação ética e aspectos
outros diferenciados.
É conveniente acrescentar que, por mais que o inquilino
se caracterize e se identifique com as suas idiossincracias e preferências, não
há como alterar a casa em si mesma, isto é, suas estruturas de sustentação:
paredes, teto, piso ...
Esta imagem nos ajudará a compreender melhor a maneira
pela qual se expressa a comunicação, que fica sempre na dependência do tipo de
cessão que o proprietário fez de sua casa ao inquilino temporário.
Em outras palavras: o estilo e o conteúdo da comunicação
dependerão sempre das características pessoais do médium e do tipo de sua
mediunidade, o que pode acarretar consideráveis variações entre extremos
bastante afastados um do outro, como também depende do grau evolutivo da
entidade comunicante, que pode se apresentar como um inquilino correto e
educado ou desleixado e rude. Observemos mais de perto as situações:
1) se o médium oferece condições para um desdobramento
mais completo, como no sono fisiológico profundo (caso do morador que se retira
com seus móveis e objetos de uso pessoal), o comunicante pode assumir, de tal
maneira, o controle dos canais condutores que consegue impor aos canais
expressores características pessoais bem-marcadas, como mudança de voz,
gesticulação, modismos, cacoetes, expressões típicas, opiniões e simbolismos de
sua preferência;
2) se o médium desdobra-se apenas parcialmente, sem
desligar-se mais amplamente, e permanece junto ao corpo físico (caso do morador
que se afasta, mas deixa seus móveis e utensílios), o comunicante encontra
maior limitação e não consegue impor suas características pessoais, exceto umas
poucas dependendo do maior ou menor espaço que a individualidade espiritual do
médium lhe tenha concedido;
3) se o médium não se desdobra e apenas cede parcialmente
seus canais condutores, o pensamento do comunicante se transmitirá junto com o
do médium, em paralelo, interferindo um no outro;
4) se o médium não se desdobra e permanece consciente
(fisicamente), utilizando-se de seus canais condutores, não consegue cedê-los,
nem parcialmente, ao comunicante, este permanece, junto ao médium, ou à
distância, expressa seu pensamento, a individualidade espiritual do médium o
capta e manipula nos seus canais condutores, mas a comunicação perde suas
características, passando a ser uma expressão do que o médium deseja
transmitir, e não necessariamente do que o comunicante lhe confia para ser
transmitido.
Para melhor entendimento do que vimos expondo, faz-se
necessária nítida distinção entre personalidade e individualidade: a
individualidade é a soma das experiências vividas em todas as nossas
existências na carne, enquanto a personalidade é manifestação do ser em cada
uma dessas vidas.
Se, portanto, a entidade comunicante se acha bastante
afastada de personalidade da vida física, perde muito das características que
teve na Terra e passa a expressar-se mais na condição de individualidade. Em
qualquer caso, o importante é que seu pensamento chegue, tanto quanto possível,
tal como formulado e emitido, mesmo após ter passado pelos canais condutores do
médium. No entanto, qualquer que seja o tipo de mediunidade, sempre se notará
algo do médium no 'produto final', que é a comunicação. É o que se figurou, há
pouco, com a imagem da casa que preserva suas estruturas e permanece no seu
local com um mínimo de suas características intactas. A mensagem será sempre
uma fala ou um texto que passou por aquela 'casa' específica, e não, outra.
Por isso, há sempre uma inequívoca responsabilidade do
médium na comunicação. Se é um proprietário zeloso, moralizado e esclarecido
estrutura e ambiente de sua casa criarão certas inibições ao impulso
temporário, impedindo que este modifique, a seu talante, as condições que lhe
são oferecidas para se manifestar. Da mesma forma que o indivíduo é moralmente
desajustado se sente algo intimidado ou tolhido em presença de alguém em quem
reconhece superioridade moral, o comunicante inferior no bom médium, uma
barreira que ele não consegue vencer para se expressar desrespeitosamente - é a
autoridade moral.
Fator vital, portanto, a uma boa comunicação, reside nas
condições morais do médium. Por isso, é importante que ele esteja sempre
vigilante, policiando seus atos e pensamentos, como alguém atento à limpeza e
higiene de sua casa. É preciso ser zeloso mesmo quando está só, pois nunca
sabe, o médium, a que horas poderá chegar um visitante ou em que momento amigos
espirituais precisarão dele para um trabalho, ainda que de mera exemplificação
ou participação, que ele pode até desconhecer conscientemente.
A consciência de sua responsabilidade pessoal é essencial
ao médium. É certo que isto acarreta certas dificuldades em termos de vivência
terrena, mas é condição mesma ao exercício de uma mediunidade confiável.
Vimos, há pouco, como é importante que o pensamento do
comunicante chegue ao destinatário da comunicação na maior pureza possível.
Médiuns orgulhosos, vaidosos e preconceituosos sempre relutam em ceder seus
canais e neles conceder suficiente espaço e liberdade ao comunicante.
Em comunicações nas quais o médium tenha algum interesse
pessoal, consciente ou inconsciente, como o de agradar (ou desagradar) ao
destinatário, o conteúdo da comunicação pode sofrer distorções, semelhantes às
interferências e à estática, em ondas de rádio e TV.
Medo, orgulho, vaidade e lisonja formam bloqueios e criam
obstruções e interferências, não nos canais expressores, mas nos condutores,
situados no perispírito, como vimos, sob o comando da individualidade
espiritual do médium. Isso quer dizer que interferências modificadoras ou
deformantes no conteúdo das comunicações ocorrem numa fase em que elas ainda
não se expressaram, encontrando-se a caminho nos canais condutores.
Como sempre, estas observações suscitam novos aspectos
que, obviamente, surgem sob forma de perguntas, em nossa mente. Esta, por
exemplo: o comunicante usa sua própria linguagem, ou a do médium?
O comunicante não usa a sua nem a linguagem do médium,
mas o seu pensamento. Este é que é vestido com o vocabulário com o qual está
programado o canal de expressão do médium. É o cérebro que, recebido o
pensamento gerado pelo comunicante, incumbe-se de comandar os instrumentos
necessários à fala ou à escrita.
Como, então, funciona o fenômeno da xenoglossia, segundo
o qual o comunicante parece falar a sua própria língua e não a do médium?
O processo continua sendo o mesmo: a entidade comunicante
emite seu pensamento e o envia através dos canais condutores do médium, nos
quais pode encontrar matrizes de línguas que o médium tenha falado em outras
existências. Isso, contudo, não é indispensável, dado que os elementos básicos
que integram o mecanismo da conversão do pensamento puro em palavras estão
programados em todos nós. Como o alfabeto que, na condição de um conjunto de
símbolos gráficos destinados a instrumentar a exteriorização do pensamento, é o
mesmo, qualquer que seja a língua que utilize tal sistema. A linguagem é apenas
um processo de arrumação de uns tantos símbolos básicos e comuns a várias
línguas. Palavras diferentes descrevem, por exemplo, os mesmos objetos pelo
mundo afora. Ou, para usar outra imagem, com as mesmas sete notas fundamentais
e seus recursos auxiliares, é possível 'escrever' qualquer melodia, sem
recorrer a palavras. Qualquer que seja a língua que fale o compositor ou o
virtuoso que a toca, as notas têm sempre o mesmo valor e tonalidade, podendo
ser arrumadas e rearrumadas para expressar diferentes pensamentos musicais em
diferentes peças, montadas todas com as mesmas sete notas básicas.
Convém enfatizar que não é no cérebro físico que ficam
gravadas lembranças de línguas faladas em outras encarnações do médium; o
cérebro somente registra o que se aprende durante a existência do corpo físico
a que pertence. A linguagem que ali está, com as suas estruturas arquivadas é,
como a de um computador, composta de símbolos sonoros e gráficos, cada um com o
seu valor próprio. Mas, não é aí que ocorre o processo mesmo de elaboração do
pensamento, que vem do espírito, ou seja, da individualidade através do
perispírito, pelos canais condutores, por meio dos quais alcança os
expressores.
Importante papel cabe, portanto, ao sistema constituído
pelos canais expressores, que operam em dois sentidos, de vez que, não apenas
recebem, convertem e transmitem comandos vindos do espírito, via perispírito,
como recolhem estímulos e impulsos vindos do exterior, pela instrumentação dos
sentidos físicos, e que são retransmitidos ao espírito, sempre via perispírito.
O cérebro físico, portanto, funciona basicamente como
instrumento da personalidade encarnada, programado com as estruturas de sua
linguagem materna, seus hábitos, seus automatismos, suas preferências por este
ou aquele tipo de alimento, vestimenta, moradia etc. Isso, porém, não o situa
como unidade autônoma, livre dos controles e interferências da individualidade.
O mecanismo da intuição é um exemplo ilustrativo dessa dicotomia. Uma idéia (ou
pensamento intuitivo) tanto pode vir das profundezas da própria individualidade
encarnada, como da mente de outra entidade espiritual.
Daí porque o conteúdo da intuição parece transcender a
capacidade ou o conhecimento da personalidade, o que de fato ocorre, dado que
provêm de fontes geradoras mais amplas, às quais a personalidade não tem
habitualmente acesso fácil.
Peculiaridades outras, no mínimo curiosas, podem ser
observadas com proveito no atento exame de problemas específicos da mediunidade
em exercício. Um exemplo que sempre suscitou nosso interesse foi o de entidades
espirituais que induzem o médium a expressar-se num português carregado de
sotaque alemão, francês ou espanhol.
Interpelados a respeito, nossos companheiros explicaram o
fenômeno da seguinte maneira: da mesma forma que um estrangeiro, expressa-se
numa língua que não lhe é familiar, não consegue desvencilhar-se da influência
de sua língua materna, a entidade manifestante, ainda fixada na personalidade
de sua mais recente encarnação, não percebe que não precisa falar a linguagem
articulada à qual esteve condicionada (no caso, alemão), bastando-lhe pensar (é
possível até - e isto é especulação minha - que, com a região perispiritual
correspondente ao cérebro físico ainda um tanto densa, continue a entidade a
utilizar-se de seus próprios canais expressores, em vez de procurar apenas
impressionar com o seu pensamento os canais condutores do médium para que este
processe a informação à sua maneira habitual). Da mesma forma que uma pessoa
sozinha costuma dizer; pensando: "agora vou fazer isto ou aquilo", a
entidade espiritual pensa estas palavras, e não abstratamente, fazendo o seu
pensamento circular pelos canais condutores já envolto nos símbolos da
linguagem que julga estar falando, conforme seus condicionamentos pessoais. O
que ocorre, portanto, é que ao atingir o centro cerebral do médium, a fim de
expressar-se, o pensamento encontra a codificação de símbolos e sons próprios
ao médium e não os familiares à entidade comunicante . Entram, pois, em
conflito os dois sistemas de expressão, sendo necessário um esforço do
comunicante para converter suas palavras em símbolos corresponndentes à língua
estranha que ali encontra.
Um exemplo ilustrativo nos ocorre para tentar um melhor
entendimennto disso. Figuremos os canais expressores do cérebro do médium como
uma máquina de escrever com teclado adaptado à língua inglesa. Suponhamos,
ainda, que se aproxime dela um datilógrafo que somente conheça o português e
que esteja interessado em escrever a palavra comunicação, lá estão, no teclado,
postas à sua disposição, as mesmas letras que podem servir tanto ao português
como ao inglês ou ao francês e espanhol. Até mesmo as raízes da palavra
desejada são idênticas: comunicação, communication, communicación, etc., mas o
nosso datilógrafo imaginário, desejoso de escrever comunicação, percebe que não
dispõe da cedilha (Ç), nem til (-), no teclado inglês que lhe foi oferecido.
Após um momento de vacilação, ante a inesperada
dificuldade, ele conseguirá contornar o obstáculo e, provavelmente,
datilografará a palavra communication, ou, talvez, comunicação.
Da mesma forma, o inglês, ante teclado brasileiro,
datilografaria communicaçon e o francês communicacion, e o alemão kommunicacion
etc.
É esse processo de elaboração e reelaboração mental que
leva a entidade a vacilações, hesitações ou silêncios entre uma palavra e
outra, lembro-me de um companheiro espiritual que costumava se manifestar com
forte sotaque francês - sua mais recente encarnação fora na França. Às vezes,
faltava-lhe a palavra adequada, em português, para expressar seu pensamento.
Ele parava e dizia: "Deixa-me ver se encontro aqui na mente do meu irmão
(médium) a palavra certa." Usualmente a encontrava mesmo.
Já o nosso caríssimo Hans (entidade tratada em nosso
grupo atual que depois incorporou -se aos trabalhos), um tanto fixado na sua
personalidade alemã, apresentava-se, de início, com um sotaque extremamente
carregado e com expressões claramente elaboradas em estruturas lingüísticas
alemãs, concordâncias típicas e até mesmo o ritmo e as entonações peculiares à sua
bela língua materna.
Com o correr do tempo, em subseqüentes manifestações, ele
começou a libertar-se dessas dificuldades e limitações e está aperfeiçoando,
pouco a pouco, sua maneira de se expressar. Não que ele se tenha familiarizado
com a língua portuguesa, programada no cérebro da médium, mas porque este
conseguindo dominar melhor o processo da comunicação, em particular, e da
manipulação do seu próprio pensamento puro e não em palavras, com que se vai
libertando gradativamente do mecanismo da linguagem articulada.
Isto nos leva a outras sutilezas e enigmas ou
curiosidades de que é tão fértil a mediunidade.
O caso é que cada médium é único, ou seja, um indivíduo
singular, com suas peculiaridades, capacidades e limitações. Por isso, embora o
sistema e o processo da comunicação, reduzidos à sua estrutura mais singela,
sejam sempre os mesmos, há matizes inesperados, criados pela coloração que cada
um - médium e espírito comunicante - empresta àquilo que faz. Isto é
particularmente observável quando o mesmo espírito se manifesta ocasionalmente
através de médiuns diferentes ou quando o mesmo médium recebe espíritos
diferentes.
Em verdade, tanto na psicografia como na psicofonia, o
caminho é o sempre o mesmo, ou seja, a circulação do pensamento pelos canais
condutores e a 'materialização' desse pensamento na palavra escrita ou falada,
através dos dispositivos expressores.
É costume afirmar-se que, na psicografia, a entidade
comunicante atua sobre o braço ou a mão do médium para movimentá-los e que, na
psicofonia, a atuação se exerce sobre os órgãos da fala.
Isso é verdadeiro, segundo nos esclarecem amigos
espirituais competentes, mas num sentido mais profundo. Não é a entidade
comunica que toma literalmente a mão do médium, como alguém que ajuda uma criança
a escrever guiando sua mãozinha sobre o papel. A entidade atua com o seu
pensamento através dos canais condutores que levam o impulso da sua vontade ao
cérebro do médium, a fim de ativar o centro próprio que comanda os movimentos
do braço e da mão.
O mesmo mecanismo atua, de maneira idêntica, na
psicofonia. Os impulsos chegam ao cérebro através dos canais condutores e ali
estimulam os centros próprios da fala.
No caso do companheiro espiritual que falava com forte
sotaque francês, é possível que ele precisasse mesmo elaborar, com auxílio do
médium, algumas adaptações à garganta deste, por não conseguir, sem esse
recurso adicional, ativar de maneira adequada e eficaz os centros cerebrais de
comando da fala. O certo, porém, é que o espírito comunicante não vai
diretamente aos órgãos que 'materializam' a comunicação, mas aos centros que
comandam esses órgãos; mesmo assim, não vai a esses centros diretamente, mas
sempre por intermédio dos canais condutores.
Frederick W. Myers informou, já na condição de espírito,
através da mediunidade da sra. Geraldine
Cummins (Ver The Road to Immortality, Ed. Aquarian Press, Londres, 1955), o
seguinte:
É muito difícil, deste lado em que nos encontramos, lidar
com a mente do médium. Nós a impressionamos com a nossa mensagem, nunca
impressionamos diretamente o cérebro do médium. Isto está fora de dúvida. É a
mente que recebe nossa mensagem e a envia ao cérebro. Este é um simples
mecanismo. A mente é como cera macia, recebe nossos pensamentos como um todo,
mas deve produzir as palavras com que vesti-los. (Cummins, Geraldine. 1955.)
As observações de Myers-espírito nos levam de volta,
ainda que sob outro ângulo, à questão da 'vestidura' do pensamento.
Por não haver encontrado expressão mais adequada - também
nós, encarnados, enfrentamos dificuldades para 'vestir' nossos próprios
pensamentos -, eu costumava dizer que o espírito comunicante transmite seu
pensamento em bloco ao médium ou, mais especificamente, à individualidade espiritual
do médium (Myers emprega aqui a expressão 'inner mind', ao pé da letra, mente
interna, e que, na tradução, simplifiquei para mente apenas, pois acho que a
mente é sempre interna).
Recebido esse 'bloco' de informações, o médium trataria
de explicitá-lo em palavras faladas ou escritas. Seria mesmo correta a
expressão bloco? E mais: poderá a entidade alternativamente ditar o seu
pensamento palavra por palavra?
O amigo espiritual que se colocou à nossa disposição para
estes esclarecimentos explicou que pode ocorrer uma e outra coisa, segundo o
tipo de mediunidade, bem como conforme o 'espaço mental' que a individualidade
do médium conceda ao manifestante e a própria condição evolutiva da entidade
comunicante. São, portanto, vários e de naturezas bem diversas os componentes
do processo.
No caso da comunicação em 'bloco', portanto, caberia ao
médium expliicitar o pensamento recebido?
Novamente, pode ocorrer uma e outra coisa, ainda segundo
a capacidade do médium, seu nível ou grau de desprendimento e características
de sua mediunidade.
A expressão 'em bloco' não caracteriza a contento o que
ocorre. Não se trata de um bloco, como um tijolo, uma pedra ou um pacote,
devidamente arranjado, como poderia parecer. A expressão mais aproximada e
correta seria uma unidade. Esse pensamento uno - Myers emprega a expressão
"como um todo" - é composto de partes. Não é difícil entender que uma
unidade (ou um todo) seja a resultante de harmoniosa integração de partes ou
unidades menores, da mesma forma que um átomo é um conjunto de partículas
subatômicas, uma molécula resulta de uma aglomeração de átomos e um corpo
físico é a integração de vários órgãos que, por sua vez, constituem sistemas
operacionais ou um grupo de indivíduos formam uma família, uma raça ou nação.
O elemento complicador, no caso da 'unidade' de
pensamento, é o de que os 'componentes' desse conjunto têm sua velocidade
própria, infinitamente maior do que a freqüência na qual se movimenta o ser
encarnado. Não é, portanto, o pensamento - principalmente das entidades mais
evoluídas - que se fraciona em inúmeros componentes. Ele parece fracionado ao
ser trabalhado pelo médium, que se encontra situado numa faixa de freqüência,
na qual a velocidade é muitíssimo menor do que aquela em que o pensamento é
formulado, pela entidade comunicante.
Talvez - e isto ocorre por minha conta, agora - uma
imagem nos ajude a entender o aspecto particular da 'velocidade' neste
contexto. Contemplado em estado de repouso, o disco de Newton apresenta,
distintamente, as suas sete cores fundamentais. Levado, porém, a uma velocidade
específica, as cores como que se fundem numa só e ele se apresenta totalmente
branco. Não que as cores componentes deixassem de existir no disco, mas a vista
do observador é que, incapaz de acompanhar a velocidade do disco, percebe
apenas a tonalidade resultante. Da mesma forma, uma hélice em alta rotação se
nos afigura um círculo.
Quando duas entidades evoluídas se comunicam no mesmo
nível de freqüência mental, o pensamento é um todo e, ao mesmo tempo, constituído
de partes que o integram, assim como na fotografia de uma paisagem. E se pode
perceber o conjunto de um só relance (velocidade), como focalizar a atenção nas
partes que a constituem: uma árvore, um canteiro de flores, grupo de pedras, o
céu e as nuvens à distância etc. Porque, neste caso, a imagem na foto é
estática, isto é, não se apresenta com o efeito - velocidade.
O que nos leva a dividir o pensamento, provocando
inevitável retardamento no seu ritmo de expressão, é a dificuldade de colocá-la
em palavras, um processo que se reduz a uma espécie de 'materialização' do
pensamento. Podemos entender isso melhor se nos fixarmos na diferença que
existe ver a fotografia de uma paisagem e descrevê-la, verbalmente ou por
escrito. Para isso, temos de 'decompô-la' nas suas partes a fim de explicitá-la
, de tal forma que a pessoa que não a tenha diante de seus olhos possa
'reconstituí-la' imaginariamente.
E, mais uma vez, podemos observar que o processo da
comunicação continua sendo, basicamente, o mesmo nas suas estruturas, quaisquer
que sejam a modalidade e as peculiaridades individuais do médium ou do
comunicante. A imagem da foto ilustra bem esse ponto. A foto de uma paisagem é
uma 'mensagem' artística dotada de poder evocativo ou sugestivo, contida toda
num só bloco ou unidade, composta de elementos ou detalhes que a integram.
Também ela vai ao cérebro do médium pelos seus canais condutores - no caso, o
sentido da visão, funcionando de fora para dentro. O processo estaria encerrado
aí, a não ser que a pessoa que contempla a foto, deseje transmitir a alguém a
'mensagem' nela contida - digamos que seja uma mensagem de paz bucólica ou de
simples beleza estética. Cabe-lhe, portanto, funcionar como 'médium' entre a
foto e os canais condutores da pessoa à qual ele deseje transmitir a mensagem
contida na paisagem. Essa mensagem é, de início, apenas um pensamento ou, para
usar a nossa terminologia, uma unidade de pensamento que lhe compete 'vestir'
com palavras que a descrevam para outrem, de tal forma que esta segunda pessoa
possa reconstituir, na sua mente, a imagem original que irá gerar uma sensação
de paz ou simplesmente de prazer estético.
Aí está, pois, o mesmo processo estrutural: a mensagem
inicial, sob forma de imagem fotográfica, como fonte geradora, e o 'médium',
com seus canais condutores e expressores. Se a mensagem fica com o médium,
encerra-se o processo, depois de percorridos os canais condutores e documentada
a experiência sensorial. O médium a transmitiu a si mesmo. Se ela precisar ser
retransmitida, os canais expressores terão de ser acionados de forma a
movimentar mecanismos que possam atuar, sob o comando do cérebro, como os da
palavra falada, escrita, ou, ainda, braços e mãos que reproduzam a foto, numa
tela ou num papel, por meio de pincéis, lápis ou tinta própria.
Como podemos observar, cada aspecto do exercício da
mediunidade oferece saídas, entradas ou tomadas para especulações e explorações
teoricamente inesgotáveis e de profundo interesse.
Resta um aspecto relevante a abordar e que ressalta,
espontâneo e conclusivo, destas observações. É o de que o corpo físico não
passa de um instrumento, um mecanismo, ao passo que os comandos centrais e a
capacidade, de decisão se localizam no espírito, ou seja, na individualidade. A
tendência natural de quem observa a mediunidade em exercício é a de considerar
o médium como um corpo físico, quando, na realidade, médium, de fato e de
direito, é o perispírito, que funciona sempre como agente de ligação entre
corpo e a unidade de comando, situada na individualidade.
Mesmo nos casos em que ocorre um desdobramento mais amplo
e o espírito cede canais condutores de seu perispírito à entidade comunicante,
sem procurar influenciar, em nada, a comunicação, a individualidade estará
sempre alerta e pronta a interceptar ou impedir qualquer pensamento
inconveniente ou até mesmo a interromper dramaticamente a comunicação, se assim
julgar conveniente ou necessário. Age como o proprietário que, após ceder as
dependências de sua casa, mantém-se atento para que o inquilino não deprede seu
patrimônio. Tem para isso condições de expulsá-lo e poderá impedir, se assim o
desejar, a sua retomada intempestiva. Isso, naturalmente, quanto ao médium
equilibrado, de bons padrões morais, dotado de autoridade moral de que falamos
alhures, neste mesmo capítulo.
Tivemos disso um exemplo vivo, quando, em nosso trabalho
mediúnico habitual, uma comunicação foi drasticamente interrompida e retomada,
momentos depois.
Segundo apuramos posteriormente, não foram os dirigentes
espirituais do grupo que forçaram a entidade a se afastar, nem ela o fez por
vontade própria. O que ocorreu foi o seguinte: empenhada em escapar à conexão
mediúnica, a entidade manifestante passou a submeter o corpo físico do médium a
insuportável pressão. Temeroso de que algum dano mais grave pudesse resultar, a
individualidade do médium não viu outro recurso senão o de interceptar seu
próprio canal de comunicação, ou seja, os expressores. com o que provocou a
pronta ejeção da entidade, já parcialmente ligada ao aparelho mediúnico. Em
seguida, o espírito do médium, ou seja, sua individualidade, expediu comandos
mentais adequados de reforço às condições de seu corpo físico, permitindo que a
entidade retomasse suas conexões, já agora, porém, mais contida pelas
resistências que veio encontrar no sistema perispírito/corpo físico.
Daí em diante, o procedimento foi normal, ainda que a
entidade, em si, apresentasse sérias dificuldades no diálogo, por causa de sua
brilhante inteligência e dos vastos conhecimentos de que dispunha, bem como no
desejo de continuar exatamente como era e fazendo o que estava fazendo no mundo
espiritual.
Uma nota agradável deverá ser acrescentada, para informar
que esta entidade - uma mulher - que se nos apresentava com tanta relutância,
proporcionou-nos alegrias inesperadas e profundas ao terminar, após um período
mais ou menos longo, por aceitar nossa palavra e principalmente nossas
comovidas e sinceras vibrações de afeto e respeito.
Confessaria, mais tarde, já disposta a uma retomada, que
relutara em manifestar-se justamente porque temia que conseguíssemos
converte-la a mudar, o que considerava não ser de seu interesse ou desejo,
quando nos foi trazida.
Para concluir, devemos reiterar com a mesma insistência
de sempre e, agora, com palavras de nossos queridos amigos espirituais, que
"as chamadas escolas de médiuns ou sessões de desenvolvimento mediúnico
existem Terra deveriam visar ao desenvolvimento das qualidades morais e
individuais do médium, como pessoa humana, e não da faculdade em si".
Esta, quando programada para expressar-se ostensivamente, o faz por si mesma,
na sua própria dinâmica. O estudo dos mecanismos da mediunidade esclarece o
médium e o ajuda a entender o que lhe cabe fazer, a fim de deixar fluir melhor
o pensamento alheio por seu intermédio; mas só o seu aperfeiçoamento pessoal
melhora a qualidade da comunicação.
"Isto ocorre" - prosseguem nossos amigos -
"porque o comunicante não anula os canais condutores do médium para
ligar-se diretamente aos canais de expressão ou exteriorização." Para
isso, teria de desligar completamente o perispírito do médium de seu próprio
corpo físico e tomar-lhe o lugar. Isto, contudo, resultaria em morte do médium
o que, por sua vez, impediria a manifestação mediúnica. O comunicante utiliza
os condutores nas condições em que os encontra no médium e, portanto, seu
pensamento levará a coloração que aí lhe é imposta. Se os canais se apresentam
limpos, o pensamennto se expressará limpo; se poluídos, o pensamento sairá
poluído; se confuso ou superlotado de problemas e preocupações pessoais, o
pensamento sairá truncado e confuso. O cérebro físico funciona como conversar e
tradutor do pensamento do próprio espírito que habita aquele corpo físico,
tanto quanto do pensamento alheio. O perispírito é, pois, médium do próprio
espírito encarnado, tanto quanto de espíritos desencarnados, pois é ele o
elemento de ligação entre a individualidade, que pensa, e a personalidade, que
se expressa no meio em que vive encarnada.
Hermínio C. Miranda
Nenhum comentário:
Postar um comentário