segunda-feira, 24 de setembro de 2018

complexidade da comunicação mediúnica


complexidade da comunicação mediúnica 


Processo de comunicação com os espíritos é o mesmo para qualquer natureza de médiuns: escreventes, mecânicos, semimecânicos ou intuítivo:

A comunicação mediúnica não se faz por um processo mecânico, em que o Espírito atua automaticamente, dizendo o que pensa com extrema facilidade, por intermédio do médium do qual ele se serve. O processo é psíquico e por isso complexo, irnponderável, pois somente se realiza pela combinação de ondas mentais, fenômeno que se denomina sintonia. Esse fenômeno não é muito fácil de se alcançar entre duas almas, dois universos mentais distintos em razão das experiências distintas que vivenciaram e ainda vivenciam. Por isso, a sintonia entre o desencarnado e o encarnado fica na dependência de fatores intrínsecos, tais como graus distintos de condição moral e espiritual, conhecimento do assunto e interesse de ambos em abordá-lo no mesmo diapasão e de outros circunstanciais. Por isso, a tarefa de escrever ou falar mediunicamente é um desafio, tanto para o Espírito quanto para o médium. Este não pode ser comparado a uma caixa de som que reproduz o que pensa e fala um locutor ao microfone. É uma mente livre em ação, agindo c interagindo com o Espírito comunicante "Qualquer que seja a natureza dos médiuns escreventes, quer mecânico! ou semimecânicos, quer simplesmente intuitivos, não variam essencialmente os nossos processos di comunicação com eles. De fato, nó nos comunicamos com os Espírito encarnados dos médiuns, da mesm forma que com os Espíritos propriamente ditos, tão-só pela irradiação do nosso pensamento."! Esse processo também se aplica aos médiuns psicofônicos.

No processo da comunicação mediúnica, o médium tanto pode inserir idéias complementares às que recebe do Espírito ou suprimir outras por conveniência ou porque não concorde com elas, ou, ainda, por não entendê-las, resolvendo substituí-las pela interpretação que lhes dá no momento. O Espírito Kathleen diz ao médium que lhe serve como instrumento para escrever: - "Vemos, algumas vezes. quando lemos as mensagens que lhe foram dadas, que não estava traduzido perfeitamente o nosso pensamento; muito do que queríamos dizer, nelas não se acha, e outras vezes se encontram menos coisas do que tínhamos em mente comunicar. [ ... ] É a conseqüência natural do véu espesso que separa ambas as esferas, aquela donde falamos e aquela em que o receptor vive.?

O momento é de uma complexidade tamanha que, muitas vezes, se dá um descompasso na velocidade entre as correntes de pensamento do comunicante e do receptor. Sobre esse fato se manifesta o Espírito Deolindo Amorim: - "[ ... ] a mente como um todo pode disparar e adiantar-se, ante nosso toque, passando a desenvolver sozinha uma série de idéias, deixando-nos à sorrelfa. Outras vezes, é a desconfiança de médium que quer fiscalizar a independência do pensa¬mento que por ele verte, submetendo-o a controle tão rígido que ficamos a pensar sozinhos, enquanto a sua mente permanece à retaguarda."

Eis a razão por que os espíritos sérios, interessados em nos trazerem parcelas da Verdade que nos liberta, tomam cuidados especiais com as comunicações de mensagens, para que cheguem até nós com a maior fidelidade possível. Consta da ata da sessão de 16 de dezembro de 1859, da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, o interessante registro feito pelo seu secretário, sobre o que vislumbrava a Senhora X ... no plano invisível, enquanto Allan Kardec dialogava com os Espíritos:

"Ela via uma coroa fluídica cingir a cabeça do médium, como para indicar os momentos durante os quais era interdito aos Espíritos não chamados de se comunicarem, porque as respostas deveriam ser sinceras, mas desde que a coroa era retirada, via todos os Espíritos intrusos a disputar, de algum modo, o lugar que lhes deixavam.? A proteção ao médium se fazia necessária, pois no ambiente pululavam Espíritos de toda ordem, que poderiam impedir ou alterar a essência da comunicação do Espírito indicado para falar. Encontramos algo semelhante numa obra de André Luiz, quando relata que a médium Ambrosina ostentava na cabeça pequeno funil de luz, à maneira de delicado adorno. Consultado, o seu orientador esclarece:

"- É um aparelho magnético ultra-sensível com que a médium vive em constante contacto com o responsável pela obra espiritual que por ela se realiza. [ ... ] Havendo crescido em influência, viu-se assoberbada por solicitações de múltiplos matizes. Inspirando fé e esperança a quantos se lhe aproximam do sacerdócio de fraternidade e compreensão, é, naturalmente, assediada pelos mais desconcertantes apelos."?

Sem aquele equipamento de proteção, a médium, sem dúvida, não teria condições de exercer seu mandato mediúnico com a fidelidade que seu instrutor espiritual desejava, porque as múltiplas ondas mentais dificultariam a sua sintonia com ele.

Mesmo quando essa proteção é dada, obstando a interferência dos Espiritos inferiores, outro fator significativo interfere no resultado dos trabalhos mediúnicos, sem nenhum desdouro para todos que atuamos nas reuniões onde o intercâmbio se dá. Trata-se da interferência mental, consciente ou inconsciente, do sensitivo no processo, já que a conjugação de ondas mentais entre os dois planos se dá em atendimento à lei de cooperação, quando as ondas mentais emitidas pelo médium se entrosam às da entidade comunicante. "É natural, dessa forma, que as dificuldades da filtragem mediúnica se façam, às vezes, extremamente preponderantes, porquanto, se não há riqueza de material interpretativo no fulcro receptor, as mais vivas fulgurações angélicas passarão despercebidas para quem as procura, com sede de luz do Além." 6

Essa introdução um pouco longa, caro(a) leitor(a), é para enfatizar o cuidado que todos devemos ter ao buscar o contato com o Mundo espiritual, na esperança de obter alguma palavra falada ou escrita que venha atender às nossas indagações, devendo analisá-las cuidadosamente. Essa análise deve prevalecer, também, com o que já está escrito e publicado, vindo de várias fontes mediúnicas, e que pululam o mercado livreiro ... Será sempre oportuno criticar construtivamente o que lemos, venha de onde vier a mensagem.

Não sendo as comunicações espirituais uma ocorrência fácil, como pode parecer ao observador ingênuo, que alimenta esperanças de ser dignificado com nobres e elevadas observações, devemos levar em consideração as dificuldades e delicadezas existentes entre os Espíritos que se comunicam e os médiuns que os recepcionam. Não basta que o ditado ou a fala seja de origem espiritual para aceitá-la como indefectível, até porque "[ ... ] a maioria das entidades comunicantes são verdadeiros homens comuns, relativos e falhos, porquanto são almas que conservam, às vezes integralmente, o seu corpo somático, e cujo habitat é o próprio orbe que lhes guarda os despojos e as vastas zonas dos espaços que o cercam, atmosferas do próprio planeta, que poderíamos classificar de colônias terrenas nos planos da erraticidade." Em razão disso, os nossos irmãos, vizinhos do plano invisível, nem sempre estão devidamente preparados para ditar ensinamentos novos e reveladores, mas "Procuram agir no plano físico unicamente para demonstração da sobrevivência além da morte, levantando os ânimos enfraquecidos, porque dilatam os horizontes da fé e da esperança no futuro, porém, jamais serão portadores da palavra suprema do progresso, não só porque a sua sabedoria é igualmente relativa, como também porque viriam anular o valor da iniciativa pessoal e a insofismável realidade do árbitro humano"? Essa afirmativa deve nos alertar para bem averiguarmos a procedência de revelações espetaculares, com pretensões de serem complementares ao que nos legou Kardec.

Não obstante toda essa complexidade que apresenta o intercâmbio mediúnico, não devemos desistir de buscá-lo, mas sempre munidos de senso crítico e método científico, para não nos deixarmos levar pelos Espíritos mistificadores e brincalhões, sempre dispostos a nos enganar. Para se evitar que determinadas mensagens de conteúdo frívolo e não consonante com os princípios do Espiritismo chegue ao público, façamos "[ ... ] o exame aprofundado e detalhado de certos ditados espontâneos, ou outros, que poderiam ser analisados e comentados como se faz com as críticas literárias. Tal gênero de estudo teria a dupla vantagem de exercitar a apreciação do valor das comunicações espíritas e, em segundo lugar, como conseqüência dessa apreciação, desencorajar os Espíritos enganadores que, vendo suas palavras censuradas, controladas pela razão e, finalmente, repelidas desde que tivessem um cunho suspeito, acabariam por compreender que perdem tempo. Quanto aos Espíritos sérios, poderiam ser chamados para darem explicações e desenvolvimentos sobre os pontos de suas comunicações que necessitassem de elucidações." 8

Eis, aí, o Codificador! Depois dele, não teremos desculpas se nos deixarmos enganar pelos Espíritos, não obstante a complexidade da comunicação com eles.

1 - KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Rio de Janeiro-RJ: FEB, item 225.

2 - OWEN, Ver. G. Vale. A vida além do véu. Tradução de Carlos Imbassahy. 3. ed., Rio de Janeiro-RJ: FEB, 1962, 36-37

3 - SOUZA, Elzio Ferreira. Espiritismo em movimento. Pelo Espirito Deolindo Amorim. 1. ed., Salvador-BA: Círculos, 1999, p. 10.

4 - KARDEC, Allan. Revista Espírita. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 1. ed., Rio de Janeiro-RJ: FEB, 1860, p, 58.

5 - XAVIER, Francisco Cândido. Nos domínios da mediunidade. Pelo Espírito André Luiz. 1. ed. especial, Rio de Janeiro¬RJ: FEB, 2003, capo 16, p. 146-147.

6 - XAVIER, Francisco Cândido. Mecanismos da mediunidade. Pelo Espírito André Luiz. 1. ed. especial, Rio de Janeiro-RJ: FEB, capo 18, p. 130.

7 - XAVIER, Francisco Cândido. Emmanuel. Pelo Espírito Emmanuel. 8. ed., Rio de Janeiro-RJ: FEB, capo XXVIII, p. 151-152. 8 - KARDEC, Allan. Revista Espírita. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 1. ed., Rio de Janeiro-RJ: FEB, 1860, p. 202.


Publicado por Dora em 01/7/2007 (906 leituras)
Waldehir Bezerra de Almeida
Revista Internacional de Espiritismo - Maio de 2007





A COMUNICAÇÃO ATRAVÉS DOS PENSAMENTOS

Desde os séculos XVI e XVII, filósofos e alquimistas, contribuíram para a elaboração de teorias que atribuíam ao pensamento idéias-forças, formaspensamento, com capacidade organizadora e ideoplástica. Ao desvendar os estados desconhecidos da matéria, a ciência contribui para a descoberta da influência física dos pensamentos. O Espiritismo, então, estuda a comunicação estabelecida de Espírito para Espírito. No livro “A Gênese”, Kardec coloca que o pensamento de um Espírito encarnado influi sobre os fluidos espirituais, da mesma forma que os pensamentos de um Espírito desencarnado. Os fluidos são o veículo de transporte dos pensamentos. O pensamento é impulsionado pela vontade e é, por isso, um fluxo energético do campo espiritual. Ele é matéria, porém em um estado de rarefação, comportando-se como energia, apresentando-se como ondas. A onda é o resultado da vibração, ou seja, do deslocamento de partículas no espaço, em movimento de vai-e-vem. O movimento vibratório pode ser comparado a uma oscilação e uma pulsação e é caracterizado por duas medidas: o comprimento de onda – o espaço percorrido pela partícula durante uma vibração completa – e a freqüência – quantas vibrações ocorrem num tempo de um segundo. Assim, uma onda pode ser curta ou longa, rápida ou lenta. Quanto menor o comprimento da onda, maior a freqüência vibratória e a capacidade de penetração. O Espírito, estando encarnado ou desencarnado, através do pensamento, emite energias, desta forma, criam ondas mentais gerando em torno de si mesmo um campo de influência, denominado por André Luiz como “hálito mental”. Como o pensamento é uma energia viva, ele se desloca em torno dos corpos como forças sutis, construindo imagens ou formas e assim, criando centros de ondas magnéticas, com os quais a mente atua ou recebe a atuação de outras mentes. No plano espiritual, o ser lida mais diretamente com o fluido vivo e multiforme que nasce da própria alma. Este é um sub-produto do fluido-cósmico-universal – uma espécie de fluido primordial e que baseia toda a materialidade – absorvido pela mente num processo semelhante à respiração. Ao assimilar o fluido primário, através da própria vontade, o Espírito passa a influenciar naquilo que está criado. Este fluido adquirido é o pensamento contínuo, que segundo os Espíritos, é incessante e renovador .

O que a Doutrina Espírita vêm dizer ao Ocidente é a interação dos “vivos” e dos “mortos” sem interrupção ou limites. Os Espíritos encarnados e desencarnados vivem juntos um dos outros. Entretanto, cada um vive em seu estado vibratório. A materialidade do corpo já condena aquele que está encarnado a viver em uma vibração mais baixa do que aquele que não possui um corpo anímico. Apesar disso, vivem todos imersos em um mar de ondas, saídas das mentes encarnadas e desencarnadas. Estas ondas interagem entre si, afinando-se a outras pulsões com comprimento e freqüência parecidos. Como as ondas mentais são qualificadas pela realidade mais profunda do ser, pode-se dizer que, apesar da sintonia ser um fenômeno de ordem física, sua base é espiritual. A sintonia está ligada ao íntimo de cada um. Ela é a harmonia, o entendimento, a ressonância ou a equivalência. Sintonia é um fenômeno de harmonia psíquica com vibrações equivalentes.

A Lei das atrações e correspondências rege todas as coisas: as vibrações, atraindo vibrações similares, aproxima e vinculam as almas, os corações, os pensamentos (...) para comunicar conosco deverá o Espírito amortecer a intensidade de suas vibrações, ao mesmo tempo que ativará as nossas. Nisso pode o homem voluntariamente auxiliar; o ponto a atingir constitui para ele o estado de mediunidade. (André Luiz, Nos domínios da mediunidade).

 A vinculação através do pensamento acontece quando dois ou mais indivíduos estão vibrando na mesma faixa. Desta forma, suas mentes estão em harmonia e há entre eles uma ligação mental ou ponte vibratória. Assim, a influência dos Espíritos sobre os encarnados é exercida através da sintonia. Os pensamentos, as palavras e os atos irão determinar o padrão vibratório e a sintonia se estabelecerá com aquilo que os pensamentos estiver afinado, vibrando na mesma faixa. A influência é exercida através de imagens, pensamentos e sensações. A mediunidade é um fenômeno mental e manifestada através do pensamento. Pela mediunidade, o pensamento torna-se argumento. Desta forma, a faculdade mediúnica é caracterizada pela comunicação entre mentes através dos pensamentos. A comunicação se estabelece a partir do momento em que se combinam as forças psíquicas e os pensamentos do médium e do Espírito comunicante. A mediunidade não se manifesta apenas pela vontade do Espírito ou do médium em se comunicar. A possibilidade da comunicação é estabelecida pela sintonia vibratória aliada á afinidade fluídica dos participantes do fenômeno. A comunicação mediúnica se estabelece por estágios que são fundamentais e independem do tipo de fenômeno intelectual ou mesmo, se o médium é consciente ou inconsciente. O primeiro momento é no qual o médium é sondado psiquicamente para se avaliar sua condição vibratória e suas possibilidades de combinação fluídica com o Espírito que quer se comunicar. Na segunda fase, em que há uma aproximação das entidades, o médium acaba por sentir uma forte influência antes do momento da comunicação. A terceira fase do fenômeno é a da aceitabilidade. Neste momento, o médium percebe a presença do Espírito ao seu lado e aos poucos o seu pensamento é diretamente influenciado para a atividade correspondente à sua sensibilidade, isto é, escrever, falar, ver, escutar. O último momento se dá quando o médium é absorvido pelas emoções e os sentimentos do comunicante. O controle ou não sobre os sentimentos recebidos dependem diretamente do grau de desenvolvimento do médium e do comunicante. Quando a força de vontade de um é maior do que a do outro, este não consegue estabelecer um controle eficiente na comunicação.

OS NÍVEIS DA COMUNICAÇÃO MEDIÚNICA

Segundo Vianna de Carvalho, os estágios anteriores a comunicação começam com a captação sensorial, na qual a mente assimila a idéia e as sensações do Espírito, levando-as até o campo da memória, localizado no corpo fluídico (perispírito). Neste local, o médium reveste as idéias e as informações com palavras para que possa externá-las. O segundo estágio do processo de comunicação é o mnésico. Neste momento, o médium cumpre entender o sentido da idéia captada, esteja o intermediário em estado consciente ou inconsciente. Por fim, temos o que é chamado de estágio intelectual. O médium comunica as informações ao meio externo com seu vocabulário ou mesmo, do agente comunicante, com a clareza e a fidelidade de acordo com a afinidade que se estabeleceu a comunicação. Este processo ocorre tanto nas formas conhecidas como psicografia quanto na psicofonia. O que varia é o domínio do comunicante, enquanto que na psicografia seus fluidos estão comandando os braços do médium, na psicofonia, sua influência está velada ao aparelho fonador do médium.
Querendo comunicar-se, o Espírito se serve do órgão que lhe depara mais flexível no médium. A um, toma a mão; a outro da palavra; a um terceiro do ouvido. O médium falante geralmente se exprime ser ter consciência do que diz e muitas vezes diz coisas completamente estranhas às suas idéias habituais, aos seus conhecimentos e, até, fora do alcance de sua inteligência. (Kardec: 1861)

O ESPÍRITO DA COMUNICAÇÃO - João Paulo Almeida Siqueira de Oliveira


CANAIS DE COMUNICAÇÃO: CONTRIBUIÇÃO DOS AMIGOS ESPIRITUAIS 

Já vimos alhures que comunicar é tornar comum, ou seja difundir, divulgar, disseminar, transmitir idéias. Reduzido à sua expressão mais simples, o processo poderia ser figurado como um ponto de origem e outro de destinação de idéias, interligados por um sistema qualquer de transmissão. O jargão da moderna eletrônica encontrou a palavra certa para este sistema, chamando-o de canal. De fato, a comunicação flui através de um canal entre a fonte geradora e o seu destinatário.

Dois tipos de canais servem ao processo da comunicação mediúnica: os condutores, localizados no perispírito do médium, e os expressores, que se situam no seu cérebro físico, distribuídos estes últimos pelos diversos segmentos que comandam os sentidos, expressão corporal e facial, gesticulação, fala, habilidades manuais, como escrita, desenho e outras.

São, portanto, os canais condutores que funcionam como elementos de ligação entre o espírito do médium e seu corpo físico, veículos do pensamento gerado pela individualidade espiritual do próprio sensitivo e que também servem a pensamentos alheios.

No fenômeno anímico, que poderíamos comparar a um circuito interno, fechado sobre si mesmo, pensamentos emitidos pela unidade central individualidade circulam pelos canais perispirituais e vão ao cérebro, ou , estimulam os canais expressores que, por sua vez, irão expedir (ou não) comandos à ação desejada no corpo físico.

Já no fenômeno mediúnico, o sistema é aberto; de um lado, os temos os receptores dos canais condutores colocados à disposição da entidade comunicante, do outro, os terminais do circuito expressor, que converte o conteúdo da mensagem em texto, fala ou formas outras de expressão visual ou auditivo do pensamento.

Na realidade, quem cede os canais condutores é a individualidade espiritual do médium que interrompe, não o seu pensamento, mas a expressão que, em vez de circular rumo ao cérebro físico, é como que desviada, como a corrente de água de um rio, a fim de deixar desocupado o leito para que águas de outra origem possam escoar por ali.

Isto nos proporciona uma visão mais clara da tão 'discutida comunicação' que, no fundo, consiste, não propriamente em 'esvaziar' a mente deixando de pensar, mas em redirecionar o pensamento, de forma a desobstruir o canal condutor a fim de cedê-lo, livre e desembaraçado, ao comunicante.

Quanto melhor for a capacidade do médium em promover essa desobstrução, maior será a facilidade do comunicante em expressar suas características pessoais. O que nos leva a considerar que a chamada 'passividade do médium' é, de fato, uma aptidão em ceder seus canais condutores e expressores, submetendo-se aos comandos que emanam da entidade manifestante e não mais aos seus próprios. Podemos dizer isto de outra maneira: o único comando que a individualidade do médium expede ao seu próprio sistema de comunicação é o de que se ponha à disposição de outrem, obedecidos, obviamente, alguns limites bem-definidos.

É como se alguém emprestasse temporariamente a sua casa a outra pesssoa. Algumas situações básicas ocorrem:

1) o inquilino poderá ser acolhido e conviver, harmoniosamente, e por algum tempo, com o proprietário dela, sem nada modificar no seu interior e com total respeito aos hábitos de seu hospedeiro;

2) o proprietário pode se afastar, a maior ou menor distância, enquanto o novo morador se instala, abrindo para este, espaço e condições para que ele possa imprimir à casa que lhe foi cedida algumas de suas características pessoais, como nova disposição de móveis, quadros e objetos, novos arranjos decorativos e coisas semelhantes;

3) o proprietário se retira, levando consigo móveis e objetos de uso pessoal, enquanto o inquilino traz seu próprio mobiliário e objetos, arranjando-os ao seu inteiro gosto pessoal e adaptando a moradia aos seus hábitos e preferências.

Em qualquer das situações esboçadas, o visitante que conheça bem o proprietário da casa será capaz de distinguir uma pessoa da outra, ou seja, o inquilino do proprietário, observando atentamente as características de um e de outro e comparando-as, num confronto de marcas pessoais, expressões típicas, opiniões habituais, formação ética e aspectos outros diferenciados.

É conveniente acrescentar que, por mais que o inquilino se caracterize e se identifique com as suas idiossincracias e preferências, não há como alterar a casa em si mesma, isto é, suas estruturas de sustentação: paredes, teto, piso ...

Esta imagem nos ajudará a compreender melhor a maneira pela qual se expressa a comunicação, que fica sempre na dependência do tipo de cessão que o proprietário fez de sua casa ao inquilino temporário.

Em outras palavras: o estilo e o conteúdo da comunicação dependerão sempre das características pessoais do médium e do tipo de sua mediunidade, o que pode acarretar consideráveis variações entre extremos bastante afastados um do outro, como também depende do grau evolutivo da entidade comunicante, que pode se apresentar como um inquilino correto e educado ou desleixado e rude. Observemos mais de perto as situações:

1) se o médium oferece condições para um desdobramento mais completo, como no sono fisiológico profundo (caso do morador que se retira com seus móveis e objetos de uso pessoal), o comunicante pode assumir, de tal maneira, o controle dos canais condutores que consegue impor aos canais expressores características pessoais bem-marcadas, como mudança de voz, gesticulação, modismos, cacoetes, expressões típicas, opiniões e simbolismos de sua preferência;

2) se o médium desdobra-se apenas parcialmente, sem desligar-se mais amplamente, e permanece junto ao corpo físico (caso do morador que se afasta, mas deixa seus móveis e utensílios), o comunicante encontra maior limitação e não consegue impor suas características pessoais, exceto umas poucas dependendo do maior ou menor espaço que a individualidade espiritual do médium lhe tenha concedido;

3) se o médium não se desdobra e apenas cede parcialmente seus canais condutores, o pensamento do comunicante se transmitirá junto com o do médium, em paralelo, interferindo um no outro;

4) se o médium não se desdobra e permanece consciente (fisicamente), utilizando-se de seus canais condutores, não consegue cedê-los, nem parcialmente, ao comunicante, este permanece, junto ao médium, ou à distância, expressa seu pensamento, a individualidade espiritual do médium o capta e manipula nos seus canais condutores, mas a comunicação perde suas características, passando a ser uma expressão do que o médium deseja transmitir, e não necessariamente do que o comunicante lhe confia para ser transmitido.

Para melhor entendimento do que vimos expondo, faz-se necessária nítida distinção entre personalidade e individualidade: a individualidade é a soma das experiências vividas em todas as nossas existências na carne, enquanto a personalidade é manifestação do ser em cada uma dessas vidas.

Se, portanto, a entidade comunicante se acha bastante afastada de personalidade da vida física, perde muito das características que teve na Terra e passa a expressar-se mais na condição de individualidade. Em qualquer caso, o importante é que seu pensamento chegue, tanto quanto possível, tal como formulado e emitido, mesmo após ter passado pelos canais condutores do médium. No entanto, qualquer que seja o tipo de mediunidade, sempre se notará algo do médium no 'produto final', que é a comunicação. É o que se figurou, há pouco, com a imagem da casa que preserva suas estruturas e permanece no seu local com um mínimo de suas características intactas. A mensagem será sempre uma fala ou um texto que passou por aquela 'casa' específica, e não, outra.

Por isso, há sempre uma inequívoca responsabilidade do médium na comunicação. Se é um proprietário zeloso, moralizado e esclarecido estrutura e ambiente de sua casa criarão certas inibições ao impulso temporário, impedindo que este modifique, a seu talante, as condições que lhe são oferecidas para se manifestar. Da mesma forma que o indivíduo é moralmente desajustado se sente algo intimidado ou tolhido em presença de alguém em quem reconhece superioridade moral, o comunicante inferior no bom médium, uma barreira que ele não consegue vencer para se expressar desrespeitosamente - é a autoridade moral.

Fator vital, portanto, a uma boa comunicação, reside nas condições morais do médium. Por isso, é importante que ele esteja sempre vigilante, policiando seus atos e pensamentos, como alguém atento à limpeza e higiene de sua casa. É preciso ser zeloso mesmo quando está só, pois nunca sabe, o médium, a que horas poderá chegar um visitante ou em que momento amigos espirituais precisarão dele para um trabalho, ainda que de mera exemplificação ou participação, que ele pode até desconhecer conscientemente.

A consciência de sua responsabilidade pessoal é essencial ao médium. É certo que isto acarreta certas dificuldades em termos de vivência terrena, mas é condição mesma ao exercício de uma mediunidade confiável.

Vimos, há pouco, como é importante que o pensamento do comunicante chegue ao destinatário da comunicação na maior pureza possível. Médiuns orgulhosos, vaidosos e preconceituosos sempre relutam em ceder seus canais e neles conceder suficiente espaço e liberdade ao comunicante.

Em comunicações nas quais o médium tenha algum interesse pessoal, consciente ou inconsciente, como o de agradar (ou desagradar) ao destinatário, o conteúdo da comunicação pode sofrer distorções, semelhantes às interferências e à estática, em ondas de rádio e TV.

Medo, orgulho, vaidade e lisonja formam bloqueios e criam obstruções e interferências, não nos canais expressores, mas nos condutores, situados no perispírito, como vimos, sob o comando da individualidade espiritual do médium. Isso quer dizer que interferências modificadoras ou deformantes no conteúdo das comunicações ocorrem numa fase em que elas ainda não se expressaram, encontrando-se a caminho nos canais condutores.

Como sempre, estas observações suscitam novos aspectos que, obviamente, surgem sob forma de perguntas, em nossa mente. Esta, por exemplo: o comunicante usa sua própria linguagem, ou a do médium?

O comunicante não usa a sua nem a linguagem do médium, mas o seu pensamento. Este é que é vestido com o vocabulário com o qual está programado o canal de expressão do médium. É o cérebro que, recebido o pensamento gerado pelo comunicante, incumbe-se de comandar os instrumentos necessários à fala ou à escrita.

Como, então, funciona o fenômeno da xenoglossia, segundo o qual o comunicante parece falar a sua própria língua e não a do médium?

O processo continua sendo o mesmo: a entidade comunicante emite seu pensamento e o envia através dos canais condutores do médium, nos quais pode encontrar matrizes de línguas que o médium tenha falado em outras existências. Isso, contudo, não é indispensável, dado que os elementos básicos que integram o mecanismo da conversão do pensamento puro em palavras estão programados em todos nós. Como o alfabeto que, na condição de um conjunto de símbolos gráficos destinados a instrumentar a exteriorização do pensamento, é o mesmo, qualquer que seja a língua que utilize tal sistema. A linguagem é apenas um processo de arrumação de uns tantos símbolos básicos e comuns a várias línguas. Palavras diferentes descrevem, por exemplo, os mesmos objetos pelo mundo afora. Ou, para usar outra imagem, com as mesmas sete notas fundamentais e seus recursos auxiliares, é possível 'escrever' qualquer melodia, sem recorrer a palavras. Qualquer que seja a língua que fale o compositor ou o virtuoso que a toca, as notas têm sempre o mesmo valor e tonalidade, podendo ser arrumadas e rearrumadas para expressar diferentes pensamentos musicais em diferentes peças, montadas todas com as mesmas sete notas básicas.

Convém enfatizar que não é no cérebro físico que ficam gravadas lembranças de línguas faladas em outras encarnações do médium; o cérebro somente registra o que se aprende durante a existência do corpo físico a que pertence. A linguagem que ali está, com as suas estruturas arquivadas é, como a de um computador, composta de símbolos sonoros e gráficos, cada um com o seu valor próprio. Mas, não é aí que ocorre o processo mesmo de elaboração do pensamento, que vem do espírito, ou seja, da individualidade através do perispírito, pelos canais condutores, por meio dos quais alcança os expressores.

Importante papel cabe, portanto, ao sistema constituído pelos canais expressores, que operam em dois sentidos, de vez que, não apenas recebem, convertem e transmitem comandos vindos do espírito, via perispírito, como recolhem estímulos e impulsos vindos do exterior, pela instrumentação dos sentidos físicos, e que são retransmitidos ao espírito, sempre via perispírito.

O cérebro físico, portanto, funciona basicamente como instrumento da personalidade encarnada, programado com as estruturas de sua linguagem materna, seus hábitos, seus automatismos, suas preferências por este ou aquele tipo de alimento, vestimenta, moradia etc. Isso, porém, não o situa como unidade autônoma, livre dos controles e interferências da individualidade. O mecanismo da intuição é um exemplo ilustrativo dessa dicotomia. Uma idéia (ou pensamento intuitivo) tanto pode vir das profundezas da própria individualidade encarnada, como da mente de outra entidade espiritual.

Daí porque o conteúdo da intuição parece transcender a capacidade ou o conhecimento da personalidade, o que de fato ocorre, dado que provêm de fontes geradoras mais amplas, às quais a personalidade não tem habitualmente acesso fácil.

Peculiaridades outras, no mínimo curiosas, podem ser observadas com proveito no atento exame de problemas específicos da mediunidade em exercício. Um exemplo que sempre suscitou nosso interesse foi o de entidades espirituais que induzem o médium a expressar-se num português carregado de sotaque alemão, francês ou espanhol.

Interpelados a respeito, nossos companheiros explicaram o fenômeno da seguinte maneira: da mesma forma que um estrangeiro, expressa-se numa língua que não lhe é familiar, não consegue desvencilhar-se da influência de sua língua materna, a entidade manifestante, ainda fixada na personalidade de sua mais recente encarnação, não percebe que não precisa falar a linguagem articulada à qual esteve condicionada (no caso, alemão), bastando-lhe pensar (é possível até - e isto é especulação minha - que, com a região perispiritual correspondente ao cérebro físico ainda um tanto densa, continue a entidade a utilizar-se de seus próprios canais expressores, em vez de procurar apenas impressionar com o seu pensamento os canais condutores do médium para que este processe a informação à sua maneira habitual). Da mesma forma que uma pessoa sozinha costuma dizer; pensando: "agora vou fazer isto ou aquilo", a entidade espiritual pensa estas palavras, e não abstratamente, fazendo o seu pensamento circular pelos canais condutores já envolto nos símbolos da linguagem que julga estar falando, conforme seus condicionamentos pessoais. O que ocorre, portanto, é que ao atingir o centro cerebral do médium, a fim de expressar-se, o pensamento encontra a codificação de símbolos e sons próprios ao médium e não os familiares à entidade comunicante . Entram, pois, em conflito os dois sistemas de expressão, sendo necessário um esforço do comunicante para converter suas palavras em símbolos corresponndentes à língua estranha que ali encontra.

Um exemplo ilustrativo nos ocorre para tentar um melhor entendimennto disso. Figuremos os canais expressores do cérebro do médium como uma máquina de escrever com teclado adaptado à língua inglesa. Suponhamos, ainda, que se aproxime dela um datilógrafo que somente conheça o português e que esteja interessado em escrever a palavra comunicação, lá estão, no teclado, postas à sua disposição, as mesmas letras que podem servir tanto ao português como ao inglês ou ao francês e espanhol. Até mesmo as raízes da palavra desejada são idênticas: comunicação, communication, communicación, etc., mas o nosso datilógrafo imaginário, desejoso de escrever comunicação, percebe que não dispõe da cedilha (Ç), nem til (-), no teclado inglês que lhe foi oferecido.

Após um momento de vacilação, ante a inesperada dificuldade, ele conseguirá contornar o obstáculo e, provavelmente, datilografará a palavra communication, ou, talvez, comunicação.

Da mesma forma, o inglês, ante teclado brasileiro, datilografaria communicaçon e o francês communicacion, e o alemão kommunicacion etc.

É esse processo de elaboração e reelaboração mental que leva a entidade a vacilações, hesitações ou silêncios entre uma palavra e outra, lembro-me de um companheiro espiritual que costumava se manifestar com forte sotaque francês - sua mais recente encarnação fora na França. Às vezes, faltava-lhe a palavra adequada, em português, para expressar seu pensamento. Ele parava e dizia: "Deixa-me ver se encontro aqui na mente do meu irmão (médium) a palavra certa." Usualmente a encontrava mesmo.

Já o nosso caríssimo Hans (entidade tratada em nosso grupo atual que depois incorporou -se aos trabalhos), um tanto fixado na sua personalidade alemã, apresentava-se, de início, com um sotaque extremamente carregado e com expressões claramente elaboradas em estruturas lingüísticas alemãs, concordâncias típicas e até mesmo o ritmo e as entonações peculiares à sua bela língua materna.

Com o correr do tempo, em subseqüentes manifestações, ele começou a libertar-se dessas dificuldades e limitações e está aperfeiçoando, pouco a pouco, sua maneira de se expressar. Não que ele se tenha familiarizado com a língua portuguesa, programada no cérebro da médium, mas porque este conseguindo dominar melhor o processo da comunicação, em particular, e da manipulação do seu próprio pensamento puro e não em palavras, com que se vai libertando gradativamente do mecanismo da linguagem articulada.

Isto nos leva a outras sutilezas e enigmas ou curiosidades de que é tão fértil a mediunidade.

O caso é que cada médium é único, ou seja, um indivíduo singular, com suas peculiaridades, capacidades e limitações. Por isso, embora o sistema e o processo da comunicação, reduzidos à sua estrutura mais singela, sejam sempre os mesmos, há matizes inesperados, criados pela coloração que cada um - médium e espírito comunicante - empresta àquilo que faz. Isto é particularmente observável quando o mesmo espírito se manifesta ocasionalmente através de médiuns diferentes ou quando o mesmo médium recebe espíritos diferentes.

Em verdade, tanto na psicografia como na psicofonia, o caminho é o sempre o mesmo, ou seja, a circulação do pensamento pelos canais condutores e a 'materialização' desse pensamento na palavra escrita ou falada, através dos dispositivos expressores.

É costume afirmar-se que, na psicografia, a entidade comunicante atua sobre o braço ou a mão do médium para movimentá-los e que, na psicofonia, a atuação se exerce sobre os órgãos da fala.

Isso é verdadeiro, segundo nos esclarecem amigos espirituais competentes, mas num sentido mais profundo. Não é a entidade comunica que toma literalmente a mão do médium, como alguém que ajuda uma criança a escrever guiando sua mãozinha sobre o papel. A entidade atua com o seu pensamento através dos canais condutores que levam o impulso da sua vontade ao cérebro do médium, a fim de ativar o centro próprio que comanda os movimentos do braço e da mão.

O mesmo mecanismo atua, de maneira idêntica, na psicofonia. Os impulsos chegam ao cérebro através dos canais condutores e ali estimulam os centros próprios da fala.

No caso do companheiro espiritual que falava com forte sotaque francês, é possível que ele precisasse mesmo elaborar, com auxílio do médium, algumas adaptações à garganta deste, por não conseguir, sem esse recurso adicional, ativar de maneira adequada e eficaz os centros cerebrais de comando da fala. O certo, porém, é que o espírito comunicante não vai diretamente aos órgãos que 'materializam' a comunicação, mas aos centros que comandam esses órgãos; mesmo assim, não vai a esses centros diretamente, mas sempre por intermédio dos canais condutores.

Frederick W. Myers informou, já na condição de espírito, através da mediunidade da sra. Geraldine Cummins (Ver The Road to Immortality, Ed. Aquarian Press, Londres, 1955), o seguinte:

É muito difícil, deste lado em que nos encontramos, lidar com a mente do médium. Nós a impressionamos com a nossa mensagem, nunca impressionamos diretamente o cérebro do médium. Isto está fora de dúvida. É a mente que recebe nossa mensagem e a envia ao cérebro. Este é um simples mecanismo. A mente é como cera macia, recebe nossos pensamentos como um todo, mas deve produzir as palavras com que vesti-los. (Cummins, Geraldine. 1955.)

As observações de Myers-espírito nos levam de volta, ainda que sob outro ângulo, à questão da 'vestidura' do pensamento.

Por não haver encontrado expressão mais adequada - também nós, encarnados, enfrentamos dificuldades para 'vestir' nossos próprios pensamentos -, eu costumava dizer que o espírito comunicante transmite seu pensamento em bloco ao médium ou, mais especificamente, à individualidade espiritual do médium (Myers emprega aqui a expressão 'inner mind', ao pé da letra, mente interna, e que, na tradução, simplifiquei para mente apenas, pois acho que a mente é sempre interna).

Recebido esse 'bloco' de informações, o médium trataria de explicitá-lo em palavras faladas ou escritas. Seria mesmo correta a expressão bloco? E mais: poderá a entidade alternativamente ditar o seu pensamento palavra por palavra?

O amigo espiritual que se colocou à nossa disposição para estes esclarecimentos explicou que pode ocorrer uma e outra coisa, segundo o tipo de mediunidade, bem como conforme o 'espaço mental' que a individualidade do médium conceda ao manifestante e a própria condição evolutiva da entidade comunicante. São, portanto, vários e de naturezas bem diversas os componentes do processo.

No caso da comunicação em 'bloco', portanto, caberia ao médium expliicitar o pensamento recebido?

Novamente, pode ocorrer uma e outra coisa, ainda segundo a capacidade do médium, seu nível ou grau de desprendimento e características de sua mediunidade.

A expressão 'em bloco' não caracteriza a contento o que ocorre. Não se trata de um bloco, como um tijolo, uma pedra ou um pacote, devidamente arranjado, como poderia parecer. A expressão mais aproximada e correta seria uma unidade. Esse pensamento uno - Myers emprega a expressão "como um todo" - é composto de partes. Não é difícil entender que uma unidade (ou um todo) seja a resultante de harmoniosa integração de partes ou unidades menores, da mesma forma que um átomo é um conjunto de partículas subatômicas, uma molécula resulta de uma aglomeração de átomos e um corpo físico é a integração de vários órgãos que, por sua vez, constituem sistemas operacionais ou um grupo de indivíduos formam uma família, uma raça ou nação.

O elemento complicador, no caso da 'unidade' de pensamento, é o de que os 'componentes' desse conjunto têm sua velocidade própria, infinitamente maior do que a freqüência na qual se movimenta o ser encarnado. Não é, portanto, o pensamento - principalmente das entidades mais evoluídas - que se fraciona em inúmeros componentes. Ele parece fracionado ao ser trabalhado pelo médium, que se encontra situado numa faixa de freqüência, na qual a velocidade é muitíssimo menor do que aquela em que o pensamento é formulado, pela entidade comunicante.

Talvez - e isto ocorre por minha conta, agora - uma imagem nos ajude a entender o aspecto particular da 'velocidade' neste contexto. Contemplado em estado de repouso, o disco de Newton apresenta, distintamente, as suas sete cores fundamentais. Levado, porém, a uma velocidade específica, as cores como que se fundem numa só e ele se apresenta totalmente branco. Não que as cores componentes deixassem de existir no disco, mas a vista do observador é que, incapaz de acompanhar a velocidade do disco, percebe apenas a tonalidade resultante. Da mesma forma, uma hélice em alta rotação se nos afigura um círculo.

Quando duas entidades evoluídas se comunicam no mesmo nível de freqüência mental, o pensamento é um todo e, ao mesmo tempo, constituído de partes que o integram, assim como na fotografia de uma paisagem. E se pode perceber o conjunto de um só relance (velocidade), como focalizar a atenção nas partes que a constituem: uma árvore, um canteiro de flores, grupo de pedras, o céu e as nuvens à distância etc. Porque, neste caso, a imagem na foto é estática, isto é, não se apresenta com o efeito - velocidade.

O que nos leva a dividir o pensamento, provocando inevitável retardamento no seu ritmo de expressão, é a dificuldade de colocá-la em palavras, um processo que se reduz a uma espécie de 'materialização' do pensamento. Podemos entender isso melhor se nos fixarmos na diferença que existe ver a fotografia de uma paisagem e descrevê-la, verbalmente ou por escrito. Para isso, temos de 'decompô-la' nas suas partes a fim de explicitá-la , de tal forma que a pessoa que não a tenha diante de seus olhos possa 'reconstituí-la' imaginariamente.

E, mais uma vez, podemos observar que o processo da comunicação continua sendo, basicamente, o mesmo nas suas estruturas, quaisquer que sejam a modalidade e as peculiaridades individuais do médium ou do comunicante. A imagem da foto ilustra bem esse ponto. A foto de uma paisagem é uma 'mensagem' artística dotada de poder evocativo ou sugestivo, contida toda num só bloco ou unidade, composta de elementos ou detalhes que a integram. Também ela vai ao cérebro do médium pelos seus canais condutores - no caso, o sentido da visão, funcionando de fora para dentro. O processo estaria encerrado aí, a não ser que a pessoa que contempla a foto, deseje transmitir a alguém a 'mensagem' nela contida - digamos que seja uma mensagem de paz bucólica ou de simples beleza estética. Cabe-lhe, portanto, funcionar como 'médium' entre a foto e os canais condutores da pessoa à qual ele deseje transmitir a mensagem contida na paisagem. Essa mensagem é, de início, apenas um pensamento ou, para usar a nossa terminologia, uma unidade de pensamento que lhe compete 'vestir' com palavras que a descrevam para outrem, de tal forma que esta segunda pessoa possa reconstituir, na sua mente, a imagem original que irá gerar uma sensação de paz ou simplesmente de prazer estético.

Aí está, pois, o mesmo processo estrutural: a mensagem inicial, sob forma de imagem fotográfica, como fonte geradora, e o 'médium', com seus canais condutores e expressores. Se a mensagem fica com o médium, encerra-se o processo, depois de percorridos os canais condutores e documentada a experiência sensorial. O médium a transmitiu a si mesmo. Se ela precisar ser retransmitida, os canais expressores terão de ser acionados de forma a movimentar mecanismos que possam atuar, sob o comando do cérebro, como os da palavra falada, escrita, ou, ainda, braços e mãos que reproduzam a foto, numa tela ou num papel, por meio de pincéis, lápis ou tinta própria.

Como podemos observar, cada aspecto do exercício da mediunidade oferece saídas, entradas ou tomadas para especulações e explorações teoricamente inesgotáveis e de profundo interesse.

Resta um aspecto relevante a abordar e que ressalta, espontâneo e conclusivo, destas observações. É o de que o corpo físico não passa de um instrumento, um mecanismo, ao passo que os comandos centrais e a capacidade, de decisão se localizam no espírito, ou seja, na individualidade. A tendência natural de quem observa a mediunidade em exercício é a de considerar o médium como um corpo físico, quando, na realidade, médium, de fato e de direito, é o perispírito, que funciona sempre como agente de ligação entre corpo e a unidade de comando, situada na individualidade.

Mesmo nos casos em que ocorre um desdobramento mais amplo e o espírito cede canais condutores de seu perispírito à entidade comunicante, sem procurar influenciar, em nada, a comunicação, a individualidade estará sempre alerta e pronta a interceptar ou impedir qualquer pensamento inconveniente ou até mesmo a interromper dramaticamente a comunicação, se assim julgar conveniente ou necessário. Age como o proprietário que, após ceder as dependências de sua casa, mantém-se atento para que o inquilino não deprede seu patrimônio. Tem para isso condições de expulsá-lo e poderá impedir, se assim o desejar, a sua retomada intempestiva. Isso, naturalmente, quanto ao médium equilibrado, de bons padrões morais, dotado de autoridade moral de que falamos alhures, neste mesmo capítulo.

Tivemos disso um exemplo vivo, quando, em nosso trabalho mediúnico habitual, uma comunicação foi drasticamente interrompida e retomada, momentos depois.

Segundo apuramos posteriormente, não foram os dirigentes espirituais do grupo que forçaram a entidade a se afastar, nem ela o fez por vontade própria. O que ocorreu foi o seguinte: empenhada em escapar à conexão mediúnica, a entidade manifestante passou a submeter o corpo físico do médium a insuportável pressão. Temeroso de que algum dano mais grave pudesse resultar, a individualidade do médium não viu outro recurso senão o de interceptar seu próprio canal de comunicação, ou seja, os expressores. com o que provocou a pronta ejeção da entidade, já parcialmente ligada ao aparelho mediúnico. Em seguida, o espírito do médium, ou seja, sua individualidade, expediu comandos mentais adequados de reforço às condições de seu corpo físico, permitindo que a entidade retomasse suas conexões, já agora, porém, mais contida pelas resistências que veio encontrar no sistema perispírito/corpo físico.

Daí em diante, o procedimento foi normal, ainda que a entidade, em si, apresentasse sérias dificuldades no diálogo, por causa de sua brilhante inteligência e dos vastos conhecimentos de que dispunha, bem como no desejo de continuar exatamente como era e fazendo o que estava fazendo no mundo espiritual.

Uma nota agradável deverá ser acrescentada, para informar que esta entidade - uma mulher - que se nos apresentava com tanta relutância, proporcionou-nos alegrias inesperadas e profundas ao terminar, após um período mais ou menos longo, por aceitar nossa palavra e principalmente nossas comovidas e sinceras vibrações de afeto e respeito.

Confessaria, mais tarde, já disposta a uma retomada, que relutara em manifestar-se justamente porque temia que conseguíssemos converte-la a mudar, o que considerava não ser de seu interesse ou desejo, quando nos foi trazida.

Para concluir, devemos reiterar com a mesma insistência de sempre e, agora, com palavras de nossos queridos amigos espirituais, que "as chamadas escolas de médiuns ou sessões de desenvolvimento mediúnico existem Terra deveriam visar ao desenvolvimento das qualidades morais e individuais do médium, como pessoa humana, e não da faculdade em si". Esta, quando programada para expressar-se ostensivamente, o faz por si mesma, na sua própria dinâmica. O estudo dos mecanismos da mediunidade esclarece o médium e o ajuda a entender o que lhe cabe fazer, a fim de deixar fluir melhor o pensamento alheio por seu intermédio; mas só o seu aperfeiçoamento pessoal melhora a qualidade da comunicação.

"Isto ocorre" - prosseguem nossos amigos - "porque o comunicante não anula os canais condutores do médium para ligar-se diretamente aos canais de expressão ou exteriorização." Para isso, teria de desligar completamente o perispírito do médium de seu próprio corpo físico e tomar-lhe o lugar. Isto, contudo, resultaria em morte do médium o que, por sua vez, impediria a manifestação mediúnica. O comunicante utiliza os condutores nas condições em que os encontra no médium e, portanto, seu pensamento levará a coloração que aí lhe é imposta. Se os canais se apresentam limpos, o pensamennto se expressará limpo; se poluídos, o pensamento sairá poluído; se confuso ou superlotado de problemas e preocupações pessoais, o pensamento sairá truncado e confuso. O cérebro físico funciona como conversar e tradutor do pensamento do próprio espírito que habita aquele corpo físico, tanto quanto do pensamento alheio. O perispírito é, pois, médium do próprio espírito encarnado, tanto quanto de espíritos desencarnados, pois é ele o elemento de ligação entre a individualidade, que pensa, e a personalidade, que se expressa no meio em que vive encarnada.

Hermínio C. Miranda

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